domingo, 13 de novembro de 2011

A conta que ninguém entende

A conta que ninguém entende (JC/Economia/13/11/2011)
INVESTIMENTO A refinaria é de crucial importância para Pernambuco, mas seus números provocam dúvidas e geram muita polêmica -Giovanni Sandes -gsandes@jc.com.br

O investimento mais alto da história de Pernambuco e também um dos mais importantes provoca bilhões de reais em dúvidas. Parlamentares da oposição, o Tribunal de Contas da União (TCU) e até uma companhia de petróleo estrangeira, a venezuelana PDVSA, questionam o preço da Refinaria Abreu e Lima. Em números aproximados, ela já custa sete vezes mais que o seu valor original. E o TCU ainda aponta na obra sete irregularidades que chegam a R$ 1,6 bilhão, em contratos que valem juntos R$ 11,8 bilhões.
A refinaria foi anunciada em 2005 e, naquela época, custaria US$ 2 bilhões. Ao longo do tempo, porém, a própria companhia passou a informar valores diferentes, sempre mais altos, para o empreendimento. Dois anos depois de seu anúncio, no início da terraplenagem em 2007, ela já havia dobrado de valor e custaria US$ 4,05 bilhões.
Desde o início, por determinação do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Petrobras, responsável pela refinaria, negocia ter a também estatal PDVSA como sócia. Ela teria 40% do negócio.
Mas a candidata a sócia, sem colocar um tostão no projeto, passou a questionar os números de gastos da Petrobras, a tal ponto de Chávez classificar o empreendimento como ovelha negra das relações bilaterais Brasil-Venezuela.
Longe da diplomacia, em agosto de 2009, a oposição partiu para o ataque durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras. Foi por causa disso que se soube do novo valor estimado da refinaria, que já era de mais de seis vezes o valor original, batendo os US$ 12,29 bilhões.
Nas milhares de páginas de auditorias do Tribunal de Contas reveladas durante a CPI, o TCU questionava o tempo todo a Petrobras sobre o valor final do empreendimento. O último valor informado ao Tribunal, em novo relatório de auditoria divulgado semana passada, foi de R$ 25 bilhões.
Na CPI, o gerente-geral de Implementação de Empreendimentos para a Refinaria Abreu Lima, Glaucco Legatti, tentou justificar a grande diferença dos números. Disse que os primeiros valores eram os da fase conceitual, da ideia do projeto, e que a subida ocorreu pela adição de várias tecnologias, como tratamento de enxofre, além da alta de 60% na média mundial de preços de fornecimento para o setor de petróleo e gás, de 2004 a 2008.
Mas a cifra não parou de crescer, ao mesmo tempo que a Petrobras não parou de fornecer números novos. No final do ano passado, a Petrobras já adotou outro valor para a refinaria: US$ 13 bilhões.
Em julho passado, porém, quando a Petrobras deu um novo ultimato para a PDVSA se associar ao projeto, veio à tona um novo valor da refinaria: US$ 14,4 bilhões. Foi exatamente quando a venezuelana questionava o custo do projeto.
A conclusão da obra também mudou bastante. A previsão inicial era agosto de 2010. Por enquanto, a Petrobras ainda mantém a conclusão para 2013. Pelo menos o prazo é só o dobro.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

PDVSA negocia sua refinaria no Maranhão

PDVSA negocia sua refinaria no Maranhão (JC/Economia, 28/10/2011)

RIO - As desavenças com a Petrobras quanto à participação na sociedade empresarial que constrói em Pernambuco a Refinaria Abreu e Lima já levam a petroleira PDVSA, da Venezuela, a buscar alternativas para se instalar no Brasil. O presidente venezuelano, Hugo Chávez, conversou anteontem com a governadora Roseana Sarney sobre a possibilidade de construir uma refinaria no Maranhão, sem a Petrobras.
A reunião com Chávez ocorreu em Caracas e foi intermediada pelo ex-ministro José Dirceu, entusiasta da parceria entre a Petrobras e a estatal PDVSA. Participaram também o embaixador da Venezuela no Brasil, Maximilien Arveláin, o presidente da PDVSA e ministro de Energia e Petróleo local, Rafael Ramirez, e o diretor executivo da petroleira no Brasil, Sérgio Tovar.
O motivo da nova insatisfação da PDVSA com a Petrobras é a conta apresentada pela companhia brasileira, que quer ser ressarcida em 40% dos gastos que teve até agora na construção da refinaria. Além disso, a estatal venezuelana assumiria R$ 4 bilhões do empréstimo de R$ 10 bilhões aprovado pelo BNDES para a obra. Com previsão de ser inaugurada no primeiro semestre de 2013, a Abreu e Lima está 40% pronta, de acordo com a Petrobras.
Nem a Petrobras nem a PDVSA divulgam os valores que estão sendo negociados. Representantes das empresas vêm se reunindo desde o último dia 14, sem chegar a um acordo. A PDVSA não aceita pagar o dinheiro cobrado pela empresa brasileira, sob o argumento de que, em comparação com o mercado internacional, os preços da Petrobras estão muito elevados. A Petrobras estipulou o prazo de 30 de novembro para receber os 40%.