terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O mistério das ostras (P/Tadeu Alencar)



JC/Opinião - 23/12/2012

Catando as migalhas de tempo sob a mesa do ano o homem sabe que caminhar - mesmo para os ponteiros, que não viajam nem descortinam paisagens - é ofício indeclinável. Não há coragem inerte.
A repetição das coisas miúdas, o vento que sopra pela casa, o rufar das panelas, o pijama e o nó da gravata, essas coisas que são personalíssimas, como espreguiçar-se, bocejar, sonhar, ajudam a compreender que o tempo também se faz das migalhas. Foi juntando migalhas de minutos, frações de segundo, olhos piscando, que percebi a eternidade que há no instante. Nada como as folhas que despencam dos galhos, bailando a dança do outono. Nada como o efeito do sol na água, bolhas coloridas sopradas do canudo do relógio. Juntando as folhas e as migalhas, diante de mim o mundo se desvendou.
Caminhar, caminhar é preciso, mesmo que a miragem da chegada seja uma cilada do destino, um preço, o Fausto que nos ronda. O arco-íris é fruto dessa perplexidade benfazeja. Caminhar, mesmo sobre os lençóis amarfanhados, a barba por fazer, os cantos do rosto com a marca do tempo, sorvendo a vida em pequenos goles, que o melhor vinho deve ser degustado em silêncio. Quem não tem cotidiano não especula com a eternidade. Só quem entende de moscas entende de vacas. Por isso que os orientais são minimalistas, descobrem a floresta investigando a árvore, enxergam a Via-Láctea na chama de um fósforo. Como ver beleza na aurora se não se ocupam os homens de abrir as janelas, descerrar as cortinas e deixar entrar a alvorada? É preciso paciência de canário para herdar o gorjeio, testá-lo de um lado da boca, sacudi-lo do outro lado, pesar na balança da consciência, a fim de criar intimidade entre a boca e a voz, entre o vento e a caverna que lhe molda. Criar a intimidade da carne com os dentes, deixar a voz dormir na boca, medir com a língua todos os timbres até alcançar o trinado certo para uma manhã de domingo. O trinado de um canário que aprendeu com Jó a dedicar-se ao ofício da paciência e a certas coisas invisíveis. É preciso ouvir para palrar.
Aqueles que são imersos em si próprios, mergulhados com narciso num lago de enganos, declinam da vertigem que é um planeta novo, um asteroide que cruza o céu, uma colina de onde se divisa a linha do horizonte, declinam, imprevidentes, de ver além do espelho, nas costas do espelho, por trás da imagem refletida na água. Renunciam a terraços brancos sobre mares azulados, a mesquitas cheias de mistério, a tribos de nômades que vivem de comer raízes, a algo que excite a mente, que sacie a ânsia de conhecer o outro lado do mundo, ainda que seja apenas o quintal do vizinho, seu cachimbo no fim da tarde, a lenha que crepita numa casa de sertão, como na Rússia de invernos rigorosos. O mundo é vasto como a imensidão do pensamento. Naquele quintal onde conviviam patos e carneiros, em meio a pneus desordenados, acumulando água de chuva, fechava os olhos para ouvir o barulho da biqueira escorrendo, o som dos grilos declamando fados para as estrelas e os sapos coaxando como um coral de crianças que perdem a ilusão de Noel e depois, de ilusão em ilusão, quase perdem a esperança.
Caminhar é preciso para alimentar-se do pão da estrada, esse trigo que esfarela nas mãos como a areia de um oásis, que é a mesma areia que queima no deserto.
Bicando o chão da mesa do ano mordo os últimos instantes, com a fome de juntar os pedaços do mapa e de ver onde está enterrado o tesouro do futuro. O canário imaginário passeia sobre o que vê. Enxerga lagartixas correndo entre pequenas pedras e descobre que ainda há tempo para visitar um amigo.
Tadeu Alencar é secretário da Casa Civil de PE

sábado, 1 de dezembro de 2012

PDVSA não dá garantia ao BNDES


Do JC/Economia, 01/12/2102

A petrolífera venezuelana PDVSA não conseguiu entregar garantias ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a tempo de se tornar sócia da Petrobras na polêmica refinaria Abreu e Lima, que está sendo construída em Pernambuco por um preço nove vezes maior do que o planejado e com atraso de três anos.
Após vários adiamentos para definir a participação da PDVSA no projeto, a presidente da Petrobras, Graça Foster, havia determinado, no início deste ano, prazo até novembro para que a companhia entrasse na sociedade.
Para isso, a empresa de petróleo do país vizinho teria que apresentar garantias ao BNDES relativas a 40% do empréstimo de R$ 10 bilhões concedido pelo banco para a Petrobras realizar a obra.
Segundo o BNDES, até as 18h de ontem não houve nenhum contato da PDVSA nesse sentido.
Na Petrobras, a informação é de que a empresa não comentaria o assunto.
O custo total da refinaria é de US$ 20 bilhões e a previsão é de que fique pronta em novembro de 2014. A unidade vai ter capacidade para processar 230 mil barris de petróleo por dia.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Rnest avançou com Foster


JC / Economia, 21/11/2012

Apesar de engessadas, as obras da Rnest são consideradas como exemplo de avanço da gestão Graça Foster na Petrobras pelo governo federal. Com seu valor global multiplicado por nove desde o início do projeto, em 2005, a refinaria passou de 55% de execução, patamar verificado em abril, para 64% em setembro. Graça informou no início do ano que a venezuelana PDVSA tem prazo até este mês para decidir se vai se tornar sócia da brasileira no projeto.
O investimento na obra da Rnest, segundo balanço do PAC, será de R$ 25,5 bilhões de 2011 até 2014, e depois dessa data serão investidos mais R$ 320,3 milhões. No total, a previsão é que a refinaria custe US$ 20,1 bilhões, segundo o Plano de Negócios da Petrobras para o período 2012-2016.
Outros exemplos positivos, segundo o olhar oficial do Palácio do Planalto, foram os do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), e até mesmo a recém-iniciada refinaria Premium 1, no Maranhão. A única que ainda não saiu do papel foi a Premium 2, a ser instalada no Ceará, que poderá utilizar o Regime Diferenciado de Contratação e, por este motivo, não teve seu valor divulgado no 5º Balanço do PAC 2, justificou o governo.
Com hábito de visitar as obras, ou enviar diretores para fiscalizar seu andamento, Graça fez com que o Comperj saltasse de 30% da obra concluída no quarto balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), feito em abril, para 41% na quinta versão do balanço até setembro, divulgado na última segunda-feira pelo governo. Pelas contas do PAC 2, o Comperj ainda receberá investimentos de R$ 17,5 bilhões até 2014 e mais R$ 3,2 bilhões após essa data.

Greve (da Refinaria e PQS) não mancha Suape


JC/ECONOMIA, 21/11/2012

Diretores da secretaria estadual de Planejamento e de Suape realizaram, ontem pela manhã, o Fórum Suape Global divulgando Suape como o grande ambiente de atração de empresas e negócios em Pernambuco. O evento foi realizado em uma sala do Hotel Transamérica no Pina, enquanto o complexo industrial e portuário passa por um grande momento de tensão, com uma greve dos trabalhadores da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e da Petroquímica Suape (PQS) que se tornou um impasse difícil de resolver.
Iniciado há dois anos, o Projeto Suape Global pretende atrair companhias para produzir localmente bens e serviços nas áreas de petróleo, gás, naval e offshore. "O evento já estava programado antes da greve e a única consequência que isso nos trouxe foi a ausência do presidente da Rnest, Marcelino Guedes. Suape continua muito atrativo para as empresas", disse Roberto Abreu e Lima, que acumula os cargos de secretário executivo de Desenvolvimento e de presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico (AD-Diper).
Ainda no evento, o presidente do Fórum Suape Global, Sílvio Leimig, fez um balanço dos dois anos da iniciativa que atraiu 27 empresas com um investimento de US$ 1,7 bilhão no território estratégico de Suape, gerando 13 mil empregos. "Greves ocorrem em qualquer lugar, principalmente quando envolvem 50 mil trabalhadores. Isso não traz consequências para a imagem de Suape", argumentou.

Operários (da Obra da Refinaria) barrados em Brasília


JC/ECONOMIA, 21/11/2012

Sem levar propostas novas para encerrar a greve em Suape, sindicato sequer foi recebido pelo ministro Brizola Neto

Propalada a milhares de operários, a reunião que deveria ajudar a colocar um ponto final na greve de 23 dias das obras da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e PetroquímicaSuape (PQS) não aconteceu. O encontro, que seria realizado no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), em Brasília, foi derrubado pela equipe do ministro Brizola Neto. O Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada em Pernambuco (Sintepav-PE) não foi recebido por não ter levado nenhuma proposta nova de acordo com os patrões, conforme informou a assessoria de imprensa da Força Sindical no Estado.
Sem avanço formal, a paralisação se arrasta por mais um dia. Enquanto isso, as empresas aproveitaram o desgaste para anunciar que 70% dos 54 mil operários foram ao trabalho ontem, no intuito de divulgar um enfraquecimento do movimento.
Desde a manhã da última segunda-feira, quando foi anunciado em assembleia aos trabalhadores que haveria a reunião, o MTE afirmava desconhecer oficialmente a realização do encontro. A Petrobras manteve silêncio absoluto e o Sindicato Nacional das Indústrias de Construção Pesada (Sinicon) afirmou que em nenhum momento havia sido convocado à Brasília. Procurado pela reportagem, o presidente do Sintepav-PE, Aldo Amaral, comentou que "não havia novidades", evitando se alongar nos comentários.
A briga que começou pela equiparação salarial entre funcionários de mesma função, mas de empresas diferentes, aos poucos começa a dar lugar a outras reivindicações, surgidas a partir da intensificação da greve. O foco agora é reintegrar cerca de 800 operários demitidos desde que a paralisação foi deflagrada. Além disso, o Sintepav-PE defende que nenhum dia dos dias parados seja descontado dos contracheques dos trabalhadores.
A greve já foi julgada ilegal pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 6ª Região. O ministro Brizola Neto e o presidente da Força Sindical e deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) tentaram, sem sucesso resolver o impasse. Além disso, os ânimos de trabalhadores foram inflados contra a atuação da Polícia Militar de Pernambuco, acusada pelos sindicalistas de estar "servindo os patrões".
Desde o começo de 2011, quando as greves viraram rotina na Rnest, já são contabilizados quase 90 dias sem obras normais na refinaria. Isso fez com que o empreendimento andasse devagar, estando 64% pronto, segundo balanço da segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2). O objetivo é que atinja 69% em dezembro. Essa previsão foi feita antes da atual paralisação. A Petrobras espera que a primeira etapa da Rnest comece a operar em novembro de 2014.

domingo, 18 de novembro de 2012

A decência

P/Tadeu Alencar, em Opinião JC, 18/11/2012

Fui criado num ambiente que sempre respeitou a hora da refeição. Meu pai costumava dizer: a hora da refeição é sagrada. Nada de barulho, de assuntos controvertidos, nem doenças, nem boatos. Tempo bom de regras saudáveis, de civilidade, de vizinhança, do sal emprestado, tempo de alvoradas, tempo de fio no bigode, tempo de bengalas.
Retirar o chapéu ao entrar na igreja, praticar o silêncio diante dos mortos, a reverência certa diante dos vivos foram lições aprendidas no cacoete das gerações. Conduta na vida e na morte é necessária. Respeitar-se o dinheiro público, lealdade nos negócios e honestidade de propósito é como devem ser regidas as relações entre os homens.
Aprendi com meu pai, um homem simples, que a maior ventura na vida é ser altivo, firme sem destemperos, lhano sem concessões às vacilações de qualquer espécie, cônscio de que se fez por merecer a confiança dos seus contemporâneos. Nada de conversas esquivas, ambíguas, maledicências, rapinagens de qualquer espécie. Nada de olhos revirando com concupiscência, nada de favores excessivos, presentes exageradamente generosos.
Sociáveis e sem preconceitos devemos precavermo-nos com os que entram sem bater ou com os que batendo saem a porta.
Nada de ladrão de cavalos.
Devemos evitar os que espreitam atrás das portas para ouvir segredos de que não são merecedores ou os que violam a intimidade das correspondências ou a sacralidade dos confessionários. São capazes de toda vilania.
A esperteza é um defeito do caráter, pois não se confunde com a astúcia ou com a perspicácia. Gosto dos que dão estatura aos cargos, não dos que se servem dos cargos para ter estatura. O ofício público é uma atividade nobre, mas é em privado que praticamos a virtude, que é planta criada em cativeiro.
Recebi lições de que é importante poupar um pouco da renda, represar as águas para os tempos de estio, plantar árvores, proteger velhos e crianças e defender os pobres, qualquer um que esteja em desvantagem, pois devemos diminuir a distância entre o homem e sua inexplicável soberba. Justiça e igualdade são proto-princípios.
Aprender que a hora da refeição é sagrada preparou-me para a vida. Deu-me olhos de ver que é preciso exercitar a virtude, como qualquer outro músculo do corpo, pois que ela é qualidade que se desintegra quando ociosa ou que se torna flácida quando sedentária.
A avenida da história não é um palco para as miudezas, para gestos curtos, para a pilhagem muitas vezes travestida de ofício regular. Por isso precisamos educar as crianças para sorrirem apenas porque é um dia de sol, ou apenas porque chove, não porque precisam dissimular simpatia. Devemos convencer a juventude de que é importante perseverar e ter esperança. A vida está repleta de motivos.
Parece que vivemos tempos de selvageria, de modos impróprios à mesa - a gordura escorrendo pelos cantos da boca, lambuzando o indefeso avental. Tempos de duelo sem luvas, sem punhos, sem renda, de uma guerra sem regras.
Conheci pessoas extraordinárias que tinham um brilho no olhar como os fanáticos. Um ar de sonho como quem conversa com o futuro, magnéticas na aproximação e, por isso, fascinantes. Estas são as fundamentais.
Outras, pelo barulho de hiena, quando riem ou quando falam, estão condenadas ao rodapé da história, ao ácaro dos ambientes fechados, à mera poeira sobre os livros.
Tadeu Alencar é procurador da Fazenda Nacional e Secretário da Casa Civil

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Crise em Suape pede atuação da Petrobras (JC/Economia, 16/11/2012)


Estatal diz que o problema é entre consórcios e trabalhadores, mas sua participação, como contratante, é essencial

Diante do completo desgaste nas negociações entre empresas e 54 mil trabalhadores das obras da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e PetroquímicaSuape (PQS), começa a defesa para que a Petrobras interceda no problema. A estatal, contratante das construtoras que erguem os dois empreendimentos, foi a única a não participar nas tentativas de resolução das greves que assolam os canteiros desde o começo do ano passado.
Até o ministro do Trabalho e Emprego, Brizola Neto, veio pessoalmente a Pernambuco em um esforço para solucionar o caos que se instaurou nos dois maiores investimentos do Complexo de Suape. Entretanto, a Petrobras ora adota o completo silêncio ora opta pelo afastamento "diplomático".
Na última quarta-feira, logo depois de um confronto entre o Batalhão de Choque da Polícia Militar e trabalhadores e sindicalistas, o presidente da Rnest, Marcelino Guedes, apareceu no local e frisou que o problema era entre construtoras e operários.
"Nós conversamos todos os dias com as empresas contratadas e a orientação é manter o canal aberto com os trabalhadores", afirmou, em tom político, acrescentando que "nossa relação contratual é com as empresas".
Na opinião da economista Tânia Bacelar, o fato de terem um contratante em comum, no caso a Petrobras, deveria ser encarado como ponto positivo nos esforços para resolução dos problemas. "A saída é essa. A empresa pode dar algum apoio na negociação", comentou. Rnest e PQS são investimentos cruciais para o desenvolvimento econômico de Pernambuco. Ambas estão atrasadas segundo o cronograma inicial e sofreram reajustes em seus orçamentos.


Equiparação é a bandeira dos operários

Estopim da atual greve, que segue desde o dia 30 de outubro sem sinalização de final, a equiparação salarial entre funcionários de mesma função, mas empresas diferentes, encontra inúmeras resistências. A maior delas é da Petrobras, que, nos bastidores, bateu o pé para não conceder novos reajustes aos contratos, especialmente depois que o Tribunal de Contas da União (TCU) fechou o cerco às elevações no orçamento da Rnest, multiplicado por dez desde 2005, sendo hoje estimado em R$ 26 bilhões.
Questionado sobre a possibilidade de pressão das empresas por mais aumentos, Marcelino Guedes despistou: "Isso é depois. Não vou pensar sobre hipóteses. Isso nós não avaliamos agora". Na prática, as construtoras descumpriram a convenção coletiva que determinava o nivelamento entre os salários após a realização de um estudo técnico em 90 dias, contados a partir do dia 1º de agosto. Isso fez explodir a segunda paralisação neste segundo semestre de 2012 na Rnest e PQS.
Em defesa, as construtoras alegam que o levantamento Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada (Sintepav-PE) não contou com a participação delas e que não foi levado em conta questões como tempo do funcionário na empresa, fator que eleva os vencimentos. Na ponta do lápis, o resultado do estudo assustou. Há diferenças de até 47% nos salários e a equiparação pelo teto, defendida pelo Sintepav-PE, elevaria a patamares jamais cogitados os custos com pessoal - principal gasto das empresas.
Enquanto as negociações estavam abertas, no começo desta semana, chegou-se a discutir a elaboração de uma média entre os salários das 32 categorias profissionais nas obras e adoção do resultado como novo piso nos canteiros. A proposta não vingou.




quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Sindicalistas reclamam de ação policial (Na greve da Refinaria e PQS)

Sindicalistas reclamam de ação policial - JC/Economia, 15/11/2012)




"Pai nosso que estais no céu... Livrai-nos do mal. E livrai-nos da Polícia Militar (PM) de Pernambuco", finalizou a oração o presidente do Sintepav-PE, Aldo Amaral, para, logo em seguida, colocar em votação a manutenção da greve na Rnest e PQS. As relações tensas entre operários e a polícia vieram à tona na última segunda-feira, a partir de denúncias formalizadas pelo deputado federal e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (PDT-PE), e endossadas pelo ministro do Trabalho e Emprego (MTE), Brizola Neto, também do PDT. Os sindicalistas denunciam perseguições e excessos, especialmente quando a PM atua determinando a volta aos postos de trabalho dos operários em estado de greve.
"O adesivo nas viaturas não deveria ser Pacto pela Vida e sim Pacto pelo Patrão", ironizou, ao microfone, um dos sindicalistas. "Vamos procurar o governador Eduardo Campos, pedir uma reunião para tratar disso. Isso é coisa que acontecia lá trás, na época da ditadura, e está voltando para o tempo atual. Isso não pode acontecer", completou Aldo Amaral. Enquanto seguia, em cima de um trio elétrico, pelas avenidas de Suape, o sindicalista recebeu uma ligação do ministro Brizola Neto que, segundo Amaral, se comprometeu a conversar oficialmente com o governador em exercício, João Lyra Neto.

RUMOS DA GREVE
Por cada dia sem trabalho, o Sintepav-PE terá que pagar uma multa de R$ 5 mil, já que a greve foi julgada ilegal. A entidade promete ingressar até amanhã, na Vara do Trabalho de Ipojuca, com ações para obter o cumprimento da convenção coletiva e obter a equiparação salarial.
Sobre os supostos excessos, a Polícia Militar (PM) diz, pela assessoria de imprensa, que não houve exagero. Para a PM, o fato de não haver registros de feridos ou agredidos no lado dos grevistas, mas do lado da Polícia, com uma viatura do 18º Batalhão de Choque com para-brisa estilhaçado, mostraria que os policiais apenas agiram para evitar excessos dos grevistas, dentro do canteiro de obras, que trariam riscos aos demais trabalhadores e ao patrimônio das empresas.
O ministro telefonou para o governador em exercício por volta das 13h, mas segundo a assessoria do governo estadual em nenhum momento se falou em excessos da polícia. A conversa foi só de monitoramento da greve. O Palácio informa que o papel do governo (e da PM) é monitorar e evitar excessos.
Em nota, o Sindicato das Indústrias da Construção Pesada-Infraestrutura (Sinicon) lamenta a "conduta irresponsável" do Sintepav-PE de não atender à decisão judicial de retomada da obra.
No comunicado, o Sinicon destaca ainda que não possui capacidade, ou qualquer forma de ingerência na atuação da PM, "que atuou visando assegurar a integridade dos trabalhadores e das pessoas presentes próximas às manifestações."

O Estado como refém (Greve da Refinaria Abreu e Lima)

Liderados pelo sindicato, operários descumprem ordem judicial, mantêm greve e entram em confronto com a PM - Felipe Lima - flima@jc.com.br (JC/Economia, 15/11/2012)




Embate com o Batalhão de Choque da Polícia Militar, um "carnaval fora de época" pelas avenidas do Complexo de Suape e uma greve sem data para terminar. Teve de tudo na assembleia de ontem dos operários da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e PetroquímicaSuape (PQS). Parados há 16 dias, os trabalhadores expuseram o desgaste completo nas negociações ao decidirem manter uma paralisação que foi julgada ilegal pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 6ª Região. Sem mão de obra qualificada, o Estado virou refém dos frequentes movimentos em Suape. Com orçamentos estourados, obras cruciais para Pernambuco são postergadas em função da desordem institucional.
Operários com poder de pressão nunca antes visto cobram mais e mais. O sindicato da categoria que em movimentos anteriores não tinha controle sobre a massa, desta vez tomou as rédeas. Mas em vez de cumprir a ordem judicial e mandar os operários de volta ao trabalho, resolveu realizar uma assembleia para decidir se a sentença do TRF deveria ou não ser obedecida. E as empresas, sem capacidade de barganha porque não têm como substituir mão de obra tão instável, tentam mostrar força. O propalado desenvolvimento econômico de Pernambuco fica ameaçado.
O movimento de ontem ainda institucionalizou um confronto político entre sindicalistas e as autoridades policiais do Estado. Por volta das 7h, a assembleia sequer tinha começado e já dava sinais de enfrentamento. Membros do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplenagem no Estado de Pernambuco (Sintepav) bradavam, em cima de um trio elétrico, inúmeras frases de efeito. "Patrão, sua obrinha vai ficar parada", "recado para os pelegos: preparem o lombo", e "a gente vai comandar Suape". Com um número expressivo de operários já dentro do canteiro, o que esvaziava a assembleia, o presidente do Sintepav-PE, Aldo Amaral, convocou os trabalhadores que estavam do lado de fora a entrarem pacificamente na obra para arregimentar companheiros.
O grupo não chegou a 100 metros da portaria da refinaria. Foi recebido com balas de borracha e bombas de efeito moral do BPChoque. Em meio à debandada, operários retribuíram os ataques lançando pedras e paus. A reação policial inflou o sindicato. Deu-lhe o discurso que procurava. Rapidamente a assembleia aprovou a manutenção da greve por tempo indeterminado.
O próximo encontro entre Sintepav e operários será na próxima segunda-feira. Até lá, Rnest e PQS permanecem paradas. Na portaria principal da refinaria, o presidente do empreendimento, Marcelino Guedes, observava, atrás do pelotão, todo o movimento. "A Petrobras determina manter sempre aberto o diálogo. É um valor da empresa e, por isso, não podemos permitir uma invasão da refinaria", disse, justificando a ação do BPChoque. Sobre a argumentação do Sintepav de que desejava um movimento pacífico, Guedes retrucou: "Temos que impedir a entrada desordenada."
Considerando a paralisação atual e as anteriores, já são 80 dias sem atividades na principal obra de Pernambuco (veja arte). Isso do final do ano passado até agora.
Selada a greve, o Sintepav organizou uma passeata até a PQS. No percurso, sindicalistas dançavam reggae e "suingueira" ao lado do trio. Enquanto isso um grande engarrafamento começava a se formar no entorno do principal complexo industrial do Estado.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Operários (da refinaria) voltam a cruzar braços

Operário volta a cruzar braços (JC-Economia, 31/10/2012)

Os trabalhadores da Refinaria Abreu e Lima e da PetroquímicaSuape voltaram a cruzar os braços ontem, dois meses e meio após protagonizarem cenas de guerra na última paralisação, em agosto. Os operários reclamam do descumprimento de uma promessa de equiparação salarial entre funcionários dos dois canteiros de obras. Hoje os trabalhadores realizam assembleia para avaliar uma possível greve – sem cumprir o prazo formal de 48 horas de estado de greve, um "aviso prévio" legal. O Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon) alega que os trabalhadores é que descumpriram o combinado, fala em desconto de horas paradas e pedido judicial de decretação da ilegalidade da parada dos 44 mil operários.De acordo com Leodelson Bastos, assessor do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada (Sintepav-PE), no dissídio coletivo da categoria, há 60 dias, ficou estabelecido que durante esse período haveria a produção de um levantamento das principais funções e salários em cada canteiro de obras. “Nós apresentamos o relatório em tempo hábil. Mas eles, além de reduzirem os valores apresentados pela empresa que contratamos ainda excluíram cargos como enfermeiro e almoxarife”, conta Bastos. Um exemplo da diferença salarial, diz, é que na PetroquímicaSuape um encanador industrial ganha R$ 1.950 e na refinaria, R$ 2.360.
O Sinicon, em nota, diz que o combinado era fazer o levantamento por uma comissão com participação das empresas, o que não ocorreu, além de não terem sido considerados tempo de serviço e "outros aspectos" legais.
"O Sinicon considera inoportuna a paralisação ocorrida hoje nas obras do Complexo Petroquímico de Suape e da Refinaria Abreu e Lima e informa que entrará com dissídio junto ao Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região solicitando a consideração da ilegalidade da paralisação", encerra a nota.

TCU sugere nova parada em refinaria

SOB SUSPEITA Abreu e Lima está na lista de 22 obras federais em que o Tribunal de Contas da União pede ao Congresso para bloquear envio de recursos no ano que vem
Giovanni Sandes - gsandes@jc.com.br
O Tribunal de Contas da União (TCU) voltou a sugerir ontem ao Congresso Nacional o bloqueio de dinheiro e a paralisação das obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, por irregularidades graves. O TCU detectou desde 2009 a existência de seis contratos da refinaria com R$ 1,5 bilhão em sobrepreço (quando os preços estão bem acima do mercado, mas ainda não foram pagos pela administração pública). A medida seria preventiva, mas o Congresso não adotou as recomendações do Tribunal de Contas.
Como medida para corrigir o problema, a auditoria do TCU determinou a revisão para baixo dos preços dos seis contratos, que juntos somam R$ 12 bilhões. Procurada ontem, a Petrobras não se manifestou até o fechamento desta edição.
A refinaria é uma das 22 obras com indícios de irregularidades graves e pedido de paralisação no relatório de fiscalização do TCU aprovado ontem, Fiscobras 2012. Quinze delas, porém, são "iregularidades anteriores não corrigidas": sugestões não seguidas pelo Congresso na última edição do Fiscobras, entre elas a refinaria.
Os contratos da refinaria são tão problemáticos que em julho de 2011 até a esperado sócia, a estatal venezuelana PDVSA, achou muito altos os números apresentados pela Petrobras. Oficialmente, o orçamento está em US$ 13 bilhões, mas extraoficialmente já estaria em US$ 14,4 bilhões.
Os contratos problemáticos são de pavimentação e arruamento (R$ 534 milhões), unidades de destilação atmosférica (R$ 1,485 bilhão), unidades de coqueamento retardado (R$ 3,411 bilhões), unidades de hidrotratamento (R$ 3,190 bilhões), dutos de recebimento e expedição de produtos (R$ 649 milhões) e tubovias (R$ 2,694 bilhões).
Por causa dos altos números da refinaria, Pernambuco teve destaque no volume de recursos auditados. Foram 13 obras, com dotação orçamentária de R$ 10,9 bilhões para 2013. Rio de Janeiro, o segundo na lista, teve R$ 10 bilhões auditados.
Outras obras em Pernambuco tiveram irregularidades graves apontadas pelo TCU, mas sem pedido de parada: a duplicação da BR-101 e a Adutora de Pirapama.

domingo, 21 de outubro de 2012

Carta à inocência

P/Tadeu Alencar, JC-Opinião, 21/10/2012

Caríssimo Glauco, não sei exatamente em que ano nos conhecemos. Talvez em 1973. Você era o menino bonito da turma. Pele clara, olhos fugazmente esverdeados, traços afilados, inteligente, fleugmático, conhecido. Tanto assim era que fui seduzido por seu charme e ficamos amigos. Minha infância está marcada pelo seu quarto, pelos seus brinquedos. Ontem ao falar-lhe senti o desfile de 30 anos de fantasmas. Quanta importância aquelas batalhas de bonecos, os soldados americanos, garbosos em seus uniformes e cavalos brancos. Lembro dos primeiros livros – “Éramos muito menos e muito mais que seis” – que nos abriram o fantástico mundo da literatura. Lembro do seu “kichute”, do seu andar diferente, nas romarias na Av. Dr. Floro, dos óculos escuros de aviador que até hoje protegem meus olhos. Nessa época eu nem imaginava a importância de Floro na história de Juazeiro. Tampouco poderia avaliar que Juazeiro era um lugar tão marcadamente especial. Por que não tínhamos aulas sobre milagres, beatos, cangaceiros, santos, revoluções, fanáticos e levitas? Possa lembrar da coroação da virgem em que a escola se postava em adoração e em que, ingênuo, apanhava as pétalas de rosa do chão para jogar novamente sobre a imagem de "Maria", quando alguém me repreendeu: - Não se joga à Virgem pétalas apanhadas do chão! Foi aí que vi que o mundo era diferente. Nada de ser espontâneo, simples, direto. Mas você era diferente: a sua sofisticação era atraente, sedutora. Lembro de quando fomos ficando adolescentes: a acne, os pelos, a música. Os melhores dias de férias eram os em sua casa. A casa nova e pelas estantes o Capitão América (azul), Thor (amarelo), Namor (verde), Hulk (verde), homem-aranha (azul e vermelho ). Hoje estão misturados com o cinza desfocado da distância. As cartas, as fotos, as namoradas, as pessoas, os amigos. Ah, os amigos! Viagem ao centro da terra foi a minha entronização no mundo dos adultos. Rick Wakeman, o primeiro profeta. Kraftwerk já nos falava de máquinas e de computadores. Tão longe, tão perto. Depois disso, acho que nos vimos menos do que merecíamos. Senti sua falta no meu casamento. Você foi o único que enxergou a minha mais entranhada vocação. Cativa-me a vida asceta, o silêncio das clausuras, a formação humanista dos seminários, o recolhimento dos conventos, a pregação de um Deus que se apiede de nossos aviltantes pecados. Outra parte são as ruas, as tabernas, os bordéis, a poesia, o Carnaval... Tudo em mim, num pobre corpo, no mais exauriente dos duelos, na mais intestina das antíteses. O Asceta e o toureiro. Meu bom e velho amigo, como é bom ouvir a sua voz, participar de sua inquietude, da sua mansidão, do seu comportado desespero. A vida " às vezes " é insípida como comida de hospital, como se nos alimentássemos de um bife estranho, no curso de uma moléstia incurável. Mas existe a arte. E ela nos salvará. A arte e os amigos lançarão raios de sol no estômago da alma e nos sentiremos aquecidos, quase saciados, com os olhos brilhantes e os lábios entreabertos diante da beleza das estrelas e de um sol que caminha sobre a terra, só para os que, como nós, vivemos escavando o solo que outros julgaram esgotado. Saiba que em Pernambuco, mais precisamente no Recife, nos Engenhos de Santana, onde ainda há pássaros, sapos e corujas, haverá sempre um conhaque forte e um velho tinto à sua espera. Se tiver vontade de matar alguém venha matar a sede que cometeremos o homicídio em massa de todas as tristezas.

 Tadeu Alencar é procurador da Fazenda Nacional e Secretário da Casa Civil

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Grandes obras emperradas

Do JC 03/10/2012

Transnordestina, Rnest, petroquímica e transposição são alguns dos projetos atrasados e cujos orçamentos só aumentam
 
As obras dos grandes empreendimentos em construção em Pernambuco padecem de atrasos de cronograma e elevação de custos. Considerados como redentores da economia do Estado, alguns projetos correm o risco de não ficarem prontos a tempo de serem inaugurados neste mandato da presidente Dilma Rousseff. Na lista, aparecem Refinaria Abreu e Lima (Rnest), PetroquímicaSuape (PQS), Transposição do São Francisco e Transnordestina.Em visita a Pernambuco na semana passada, o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, disse que o último cálculo do custo da Transposição do São Francisco está estimado em R$ 8,2 bilhões. O valor quase dobrou em relação ao orçamento inicial de R$ 4,8 bilhões. Se o Eixo-Leste for concluído em 2014, como foi anunciado, a obra será entregue com atraso de até 5 anos.
"Estamos falando de uma obra de grande complexidade e que enfrentou uma série de dificuldades, desde projetos básicos que não condiziam com a execução até desistência das construtoras de concluir seus lotes", lamenta Bezerra Coelho, apostando que até janeiro do próximo ano, os trechos parados serão relicitados e voltarão a funcionar.
Pelas contas do ministério, apenas 40% da obra foi executada. Hoje, cinco dos 14 lotes em construção estão paralisados. A obra, considerada estratégica para melhorar o abastecimento de água e irrigar a economia do Nordeste, já sofre com a destruição de alguns trechos. Placas dos canais estão quebradas e o mato cresce.
A Rnest foi apontada pela própria presidente da Petrobras, Graça Foster, como exemplo a não ser repetido. O custo da obra foi multiplicado quase por dez, desde que foi iniciada em 2005, passando de US$ 2,5 bilhões para US$ 21,3 bilhões. A construção se arrasta e é palco de conflitos trabalhistas. Em agosto, durante um movimento grevista, sete ônibus foram incendiados e a obra ficou 20 dias paralisada. A inauguração inicial marcada para 2010 vai ficar para novembro de 2014. O cenário se repete na PQS, que só entrará em operação em agosto de 2013. A Transnordestina, aguardada para outubro deste ano, teve cronograma reprogramado para dezembro de 2014.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Recife banhada de sol

RECIFE BANHADA DA DE SOL
 p/ Tadeu Alencar, JC,O pinião, 23/09/2012
 
Muitos se perguntam por que uma candidatura como a de Geraldo, do PSB, saiu do traço nas pesquisas para despontar como favorita à Prefeitura do Recife. São reconhecidos os seus atributos de gestor competente e de militante político, embora novato em disputas eleitorais. Mas tão importante quanto o candidato é o que ele representa. Expoente de uma geração revelada pela notável experiência governamental, vivenciada em Pernambuco a partir de 2007, Geraldo está apto a implantá-la na prefeitura. A cidade clama por uma alteração no exercício da sua governança. A razão é simples.
Enquanto Pernambuco cresceu em todos os indicadores, consolidou avanços em áreas estratégicas como saúde, segurança, educação, geração de emprego, qualificação e atração de investimentos, tornando-se o Estado que mais cresce no Brasil, o Recife vive períodos de baixo crescimento e até de estagnação. Os seus moradores enxergam na gestão pública estadual um ciclo virtuoso, expansivo da economia, pleno de oportunidades, que devolveu a Pernambuco o protagonismo que sempre o distinguiu. Esse ciclo funda-se em dois fatores primordiais: de um lado, uma gestão moderna, comprometida com metas, prazos, aferição de resultados, afirmada diretamente pelo governador do Estado. De outro lado, esta mesma liderança, jovem, assertiva, gestada numa escola política das mais sofisticadas, a de Miguel Arraes, que interpretou com maestria o sentimento de pernambucanidade. Hábil articulador político, empático, com rara desenvoltura no Parlamento, dono de uma invejável capacidade de trabalho, o governador soube aproveitar a oportunidade de governar o Estado por duas vezes, para herdar ao futuro um legado que o faz credor do respeito de Pernambuco e, o seu governo, de uma aprovação consagradora. 
Essa mescla de gestor e de político atento aos desafios do seu tempo o fez desenvolver um pensamento sintonizado com temas vibrantes das democracias modernas: a meritocracia, o respeito ao meio ambiente, a inovação tecnológica e, como tributo ao seu ideário socialista, a inclusão social, pois que o Estado é que deve servir à sociedade e nunca o contrário. Servir especialmente aos contingentes mais vulneráveis. Com sólida unidade política, este modelo modificou a face de Pernambuco. 
E o Recife, invicta cidade, exige uma gestão que una as duas pontas deste segredo: a eficiência administrativa – cristalizada na boa prestação dos serviços públicos, que restaure a cidade como espaço de civilizada convivência – e a eficiência política, baseada na consciência histórica, no diálogo com a sociedade, na altivez colhida na contabilidade das insurgências, na compreensão do essencial que compete ao líder. Esta a receita infalível: eficiência política e administrativa, que devolva ao coração de Pernambuco a beleza de que é fiel depositário. 
Não faremos isso com as velhas fórmulas. Nem com a tradição de uma esquerda que se mostrou avara em resultados; tampouco, com o populismo travestido de novidade, escondido num discurso autoritário, à Bolsonaro, que nega a política, enquanto destila um rancoroso suor cor de ferrugem. 
O governador, com a chancela da Frente Popular, ofereceu ao Recife um servidor público testado com sucesso na administração pública, capaz de representar esse legado que – com grande atenção – faz Pernambuco ser observado pelo Brasil. E a capital flutuante, banhada de sol, saberá retribuir o que já demonstra por gestos, às vezes silenciosos, mas, cada vez mais eloquentes, sem vacilações, expressando o desejo de entrar, a passos largos, convictos, no contagiante ritmo de Pernambuco. 
 
 Tadeu Alencar é procurador da Fazenda Nacional e Secretário da Casa Civil
 

sábado, 15 de setembro de 2012

Para Chávez ver


JC-Política, 13/09/2012

A presidente da Petrobras, Graça Foster, retomou a confiança na parceria com estatal venezuelana PDVSA na Refinaria Abreu e Lima. O prazo acaba em novembro, mas Foster diz que deve estendê-lo, mesmo com o "beiço" de US$ 3,6 bilhões.

Petrobras cobra presença da PDVSA

JC-Economia, 12/09/2012
 
BRASÍLIA - A presidente da Petrobras, Graça Foster, cobrou ontem que a PDVSA, empresa petroleira da Venezuela, tenha uma maior participação nas obras da construção da Refinaria binacional Abreu e Lima, em Suape. Graça Foster disse que a venezuelana tem até novembro para apresentar suas garantias bancárias. “Se até lá não apresentarem as garantias, vou discutir um novo prazo. Não quero que eles digam: "não, eu não vou. Quero que eles diga que vêm."
Embora seja considerada um sócia da Petrobras no empreendimento (que começou a ser erguido há cinco anos), a PDVSA ainda não colocou nem um centavo no projeto.
Durante a audiência conjunta das comissões de assuntos econômicos e infraestrutura do Senado, a presidente da Petrobras defendeu a obra, a maior de Pernambuco, contra as denúncias de faturamento.
Graça Foster disse que a Petrobras e Tribunal de Contas da União (TCU) usam metodologias diferentes para medir os valores, o que acaba por incluir a refinaria na lista de obras irregulares do tribunal.
"Precisamos sentar para conversar sobre a questão metodológica das planilhas de formação de preço para não cair sempre no mesmo campo de discussão. Não concordamos com as diferenças de preços", disse.
Para ela, houve erro da empresa ao passar 30 anos sem construir nenhuma refinaria no País. "Nós erramos no começo."
AÇÕES
Ainda durante a audiência, comentando o desempenho da estatal, Graça Foster disse ser constrangedor falar sobre o valor das ações da Petrobras. Segundo ela, as ações da empresa vão voltar ao patamar justo depois que a Petrobras obtiver lucros de novas descobertas, como a exploração de óleo. "Os valores das nossas ações voltarão ao patamar justo que foi antes da capitalização. O que posso dizer aos acionistas é que comprem mais ações da Petrobras porque os resultados estão mostrados", disse a presidente da estatal.
Sobre o esperado reajuste de preços nos combustíveis, Graça Foster reiterou que a empresa trabalha pela convergência de preços, sem a paridade imediata com reajustes internacionais. "Não acreditamos que a paridade imediata seja saudável para o País".

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Após demissões, obras (da refinaria) voltam a funcionar

Em mais um dia de desligamentos de operários, obras da refinaria e petroquímica ganham ritmo - Adriana Guarda e Felipe Lima - economia@jc.com.br - JC, 22/08/2012

As demissões nas obras da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e PetroquímicaSuape (PQS), iniciadas na segunda-feira, serviram como estímulo forçado à volta dos operários ao trabalho. Se nem uma determinação judicial, nem o sindicato da categoria conseguiram convencer os trabalhadores a encerrar uma greve que se estendia desde o último dia 1º, o medo de perder falou mais alto e o canteiro de obras voltou a se movimentar.
Algumas empresas calculam que pelo menos 75% dos funcionários tenham retornado. A discussão agora é sobre o impacto que a paralisação terá sobre o cronograma. Ontem, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, participou de reunião para tratar do assunto e classificou a situação como preocupante.
O primeiro consórcio a realizar demissões foi o Ipojuca Interligações, que surpreendeu seus funcionários na entrada da Rnest na manhã da segunda-feira, com cerca de 100 dispensas por justa causa. Ontem, o dia foi de novos desligamentos. O Consórcio Conest informa que demitiu 22 funcionários por justa causa. Na PQS, a assessoria de comunicação informou que também foram dispensados 22 trabalhadores por justa causa. A lista de demissões também se estende a Galvão Engenharia e Alusa. Na Galvão, a informação é que 50 operários foram desligados. Não há um número preciso de demitidos, em função do grande número de consórcios (22) responsáveis pela construção da Rnest.
O Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon), que nos últimos dias vinha se pronunciando por meio de nota, não atendeu ao pedidos de informação da reportagem. Do lado dos trabalhadores, o presidente do sindicato, Aldo Amaral, se tornou inacessível ao celular, que permanece desligado desde a última sexta-feira. A diretoria do Sintepav informa que ontem os dois primeiros demitidos por justa causa procuraram a entidade para homologar suas rescisões.

CRONOGRAMA
A primeira refinaria construída pela Petrobras após 20 anos sem investimentos em novas unidades de refino só deverá entrar em operação em novembro de 2014. O primeiro cronograma previa a inauguração para agosto de 2010. O valor do empreendimento também dobrou quase dez vezes, desde 2005, quando foi lançada a pedra fundamental. O orçamento inicial era de US$ 2,3 bilhões e agora está estimado em US$ 20,1 bilhões.
Após participar da cerimônia de escolha de projetos do Programa Petrobras Esporte e Cidadania, ontem no Rio, Graça Foster afirmou que o risco de atraso no cronograma ainda não está dimensionado. “É possível que tenha folga para recuperar esses atrasos. De qualquer forma, é algo preocupante. Vamos ocupar todos os espaços para que isso tenha o menor efeito no cronograma. É fundamental que volte o mais rápido possível. A gente precisa muito da refinaria”, observou a presidente da Petrobras, dizendo que teria uma reunião na tarde de ontem para tratar do assunto.

Ansiedade ao passar o crachá na catraca
"Deu vermelho". A expressão era a mais temida ontem na portaria principal da Refinaria Abreu e Lima (Rnest). Significava que o crachá do operário não havia passado na catraca. Foi a senha utilizada por pelo menos três consórcios para avisarem aos seus empregados que eles seriam demitidos. Consórcio Conest (formado por Odebrecht e OAS), Consórcio Alusa/CBM (integrado pela Alusa e Construtora Barbosa Melo) e Galvão Engenharia promoveram desligamentos. Foi o segundo dia do revide das empresas, depois que os trabalhadores cruzaram os braços na marra há 21 dias, peitaram uma decisão judicial, renegaram o sindicato e pararam o maior empreendimento em construção no Estado. Alguns operários vestiram a farda sabendo que seriam demitidos. O agora desempregado Eniedson Jesuíno, pernambucano, 34 anos, pai de dois filhos, era armador de ferragens do Consórcio BPM. Recebeu na segunda-feira à noite a ligação da área de recursos humanos da empresa. Estava há oito meses com a carteira assinada. Foi apenas ouvir a notícia ruim pessoalmente ontem. "Quando a greve fica desse jeito, todo mundo é participante. Levei carreira duas vezes porque queria trabalhar. Éramos ameaçados de apanhar na rua. É uma injustiça essas demissões", desabafou, sem saber ainda se havia sido demitido por justa causa.
Houve diversos casos em que a catraca "dava o vermelho", mas não representava demissão. Era a situação de operários que precisavam renovar o Atestado de Saúde Ocupacional (ASO) ou prestadores de serviço que devem revalidar crachás a cada 15 dias. Mas não importava. O clima era de desconforto para quem não conseguia entrar. Reclamavam que todos os verdadeiros baderneiros passaram tranquilamente. Sentavam no chão, se exaltavam, bradavam que iriam procurar os "direitos", torciam para que não fossem demitidos. E se fossem, que não por justa causa " o que representava cinco anos afastados de obras da Petrobras.
Ao invés de dar a notícia do lado de fora, como fez o Consórcio Ipojuca Interligações, o Conest deslocou vários funcionários para um ônibus estacionado do lado de fora da Rnest, perto de 7h30. Seriam encaminhados para um processo de "integração". Ambos realizados no escritório do consórcio no Cabo de Santo Agostinho. "Reciclagem é ratoeira", avisava um operário demitido um dia antes do Consórcio Ipojuca, que foi até a portaria fazer barulho. Tinha razão. No final do dia, a empresa informou que demitiu por justa causa 22 funcionários das obras.
O representante da Galvão apareceu na portaria depois das 9h. Informou aos operários que, infelizmente, haviam sido demitidos. Deveriam esperar o documento da rescisão pelos Correios.

Caminhoneiros pagam o pato
Oito caminhoneiros fizeram do estacionamento de carga e descarga da Rnest moradia nos últimos 20 dias. Impossibilitados de entrar no canteiro para entregar o que transportavam, estão toda a greve sem alimentação regular, banheiros ou remuneração. Contam apenas com um banho após às 22h, com um vigia da Rnest do lado, e com o companheirismo do colega de veículo ao lado. Alguns com mais de 20 anos de estrada, relatavam que nunca haviam passado por situação igual. Desabafam que se sentem como prisioneiros.Lauro Pedrosa veio de Belo Horizonte com uma carga de madeira para andaime, estacionando seu caminhão em Suape no último dia 2. Autônomo, deveria entregar o material à Alusa. Até agora não conseguiu. Inconformado, contabilizava R$ 11,6 mil a que tinha direito por tantos dias parados, engolindo a poeira do estacionamento e se virando com o que tinha para cozinhar alguma refeição. "Estou dormindo dentro do caminhão, vou no posto de gasolina (na PE-60), já fui até o shopping (Costa Dourada), mas fico a maior parte do tempo aqui. E sem nenhuma satisfação", disse. Por dia parado, o caminhoneiro recebe algo entre R$ 600 e R$ 650. Por conta do risco de novos confrontos entre trabalhadores e polícia, ainda não foi autorizada a entrada na Rnest. Eloir Jesus dos Santos, de São Bento do Sul (RS), afirma com revolta que só escuta que a carga irá ser recebida, mas não lhe apresentam nenhuma data. Seu cliente é o consórcio Fildens-Milplan. "Não temos nem água para tomar. Não nos oferecem nada. Nem um espaço no refeitório. É a primeira vez que isso me acontece em 30 anos como motorista de caminhão", diz.

No tempo dos quintais (P/Tadeu Alencar)

Do JC-Opinião, 19/08/2012

Todos os indicadores afirmam que o governo Eduardo Campos tem aprovação de 90% dos pernambucanos, inclusive na capital. Assim, causou indignação a afirmação do deputado estadual paulista que preside o PT, de que é ponto de honra derrotar o PSB no Recife. Tal se constituiu num primor de arrogância, numa pérola de desacerto diplomático. Foi obrigado a ouvir o que todos gostaríamos de dizer e com serenidade dito pelo governador Eduardo Campos: "Recife nunca foi, não é e jamais será quintal de São Paulo". O líder é quem encarna o sentimento do povo.

Vamos ter eleições no Recife. De um lado o senador Humberto Costa, homem público de valor, um dos melhores quadros da esquerda pernambucana. Foi eleito com o apoio de uma ampla frente política liderada pelo governador Eduardo Campos, num momento em que as discussões sobre o pacto federativo, guerra fiscal, royalties do petróleo e outros temas vitais, ganham relevo e reclamam parlamentares como Humberto, que vem honrando o seu mandato.
Tem como vice, o deputado João Paulo, líder popular eleito duas vezes prefeito da cidade do Recife. João Paulo é uma liderança consagrada, com o seu jeito simples, performático, dialogando com o homem comum como se fora um habitante da vila, um local.

Dir-se-ia que uma chapa como essa no Recife, uma cidade libertária, que sempre surpreendeu os poderosos, deveria unir o PT e os partidos da Frente Popular. Maurício Rands, um político integral, num gesto de raro desprendimento, por desencanto com o seu partido, do qual se desfiliou, renunciou ao mandato de deputado. O prefeito João da Costa segue sem manifestar apoio. Por outro lado os partidos integrantes da Frente Popular, em sua quase totalidade, recusaram-se a chancelar, por autofágico e, em seu desenlace, deveras autoritário, o processo de escolha do Partido dos Trabalhadores. Pretendeu-se subordinar o Recife a partir de São Paulo, onde ocorreram as tratativas da sucessão, sem a menor sem cerimônia, como se fôssemos colonos e a capital paulista a potência imperial que nos tutela.
Dir-se-ia, que uma chapa com dois líderes forjados na luta, para a disputa no Recife, cidade cruel, deveria representar o melhor projeto para comandar e gerir a cidade. Não é o sentimento colhido nas ruas.

O governador Eduardo Campos, ao cabo de um processo fratricida, perdulário com a tolerância da sociedade, e, com a delegação de 14 partidos, após meses de indesculpável espera, viu-se obrigado a lançar uma candidatura. Um nome com densidade política, capacidade de articulação, reconhecida competência técnica e que carregasse os atributos que ajudam a construir em Pernambuco, uma obra de renovadora transformação, com foco nos que mais precisam.
A despeito da história de Humberto e João Paulo, neste momento, eles não representam o que a cidade espera do seu próximo gestor.

Nos mercados, nas barbearias, nas universidades, nos morros, nas ruas há um clima de atípico entusiasmo, com a possibilidade de que a atitude, a velocidade, a credibilidade, a confiança, o trabalho duro, marcas do governo do Estado, possam também presidir os destinos do Recife.

Geraldo é um candidato com uma força enorme, capaz de galvanizar esse sentimento. O seu nome enraizou no terreno-desejo da sociedade de que a Vila do Recife, de tantas tradições e de tão contagiante beleza, possa encontrar-se com o seu destino. E está acompanhado de Luciano Siqueira, que dispensa apresentações, pelo engajamento de sua combativa militância. Ninguém derrota o Recife. E, por isso, caro leitor, também por isso, Geraldo caminha para ser prefeito. E fará bem, muito bem, à cidade do Recife.
Tadeu Alencar é procurador da Fazenda Nacional

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Refinaria começa a demitir

do JC-Economia, 21/08/2012
EFEITO DA GREVE Ao menos 120 operários perderam o emprego, com demissão por justa causa. Clima ficou tenso na portaria da obra
Adriana Guarda e Felipe Lima - economia@jc.com.br

As empresas que integram as obras da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Suape, começaram a apresentar suas listas de demissões. Depois do fracasso do acordo entre patrões e empregados, que previa a volta maciça ao trabalho quinta-feira, as empreiteiras decidiram optar pelo remédio amargo. Ontem, pelo menos 120 funcionários do Consórcio Ipojuca Interligações foram recebidos no canteiro de obras com cartas de demissão por justa causa. Até o fechamento desta edição, nem as empresas Queiroz Galvão e IESA, que formam o consórcio, nem o Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon) confirmaram o número exato de desligamentos. A desinformação era tão grande que foram especuladas demissões de 80, 300 e até 1.000 pessoas.
Surpresos com a notícia da dispensa, alguns passaram mal e chegaram a desmaiar. O movimento de ônibus transportando trabalhadores foi intenso durante a manhã, com exceção do Consórcio Conest, que não programou as rotas dos veículos. De acordo com o Sinicon, desde a última sexta-feira, quase metade dos 44 mil funcionários das obras voltaram ao trabalho.
Os operários do Consórcio Ipojuca contam que tentaram passar na catraca de entrada, mas o cartão eletrônico estava desabilitado. Receberam a informação de que deveriam aguardar do lado de fora porque passariam por um processo de integração, mas depois foram dispensados. Pelo menos 25 profissionais da BBC Vigilância faziam a segurança de dois funcionários da empresa, encarregados de entregar as cartas de demissões. Inconformados com as dispensas, os operários se aglomeraram na frente da portaria e pediam explicações. Um funcionário da Petrobras comentou que o Consórcio Ipojuca seria questionado pela forma das demissões, porque não seria a prática orientada pela estatal. Um grupo de demitidos fechou uma das entradas da Rnest como forma de pressionar por uma resposta. A empresa cedeu e recebeu uma comissão de cinco trabalhadores, mas nada foi revertido. Do lado de dentro, colegas dos demitidos informavam que no canteiro também estavam ocorrendo desligamentos, mas sem justa causa. "O que eu fiz pra me botarem pra fora? Sou um pai de família, vim trabalhar. Só não compareci nos últimos três dias úteis porque os ônibus do consórcio não circularam. Estava juntando dinheiro para comprar um terreno e construir minha casa. Quero trabalhar", dizia, chorando, o ajudante João Henrique Teotônio, que desmaiou ao receber a carta de demissão. Há um ano e dois meses no consórcio, o ajudante José Edson, reclamou da ausência do sindicato da categoria (Sintepav-PE) no canteiro. "Fomos abandonados pela entidade. Ninguém está aqui para nos defender ou nos orientar. Hoje os ônibus do Conest não rodaram e amanhã deverá acontecer com eles o que fizeram conosco", acredita.
Além de funcionários do Ipojuca, operários do Consórcio Alusa/Barbosa Melo também tiveram crachás rejeitados. Passaram parte da manhã do lado de fora da obra, aguardando orientação. Após 10h30 foram informados que deveriam voltar para suas casas e aguardar um telefonema de representantes da empresa informando os encaminhamentos.

Entidades criticam as demissões fora da obra
Advogado diz que o trabalhador que se sentir injustiçado pela justa causa deve ajuizar uma ação pedindo a reintegração ao trabalho e até uma indenização.
O presidente da Comissão de Direito do Trabalho da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Pernambuco, Paulo Collier de Mendonça, explicou que a dispensa na porta da obra não foi a forma mais adequada. "É a chamada demissão em câmara de gás, onde junta todo mundo numa leva e dá a notícia. O próprio Tribunal Superior do Trabalho (TST) questiona esse tipo de dispensa, porque expõe o trabalhador a um constrangimento diante dos outros, alguns choram, se sentem injustiçados", diz.O advogado orienta os trabalhadores que se sentiram injustiçados pela justa causa a ajuizarem ação pedindo a reintegração ao trabalho, anulação da demissão sem justa causa e até uma indenização nos casos em que houve alguma acusação de desabono ou ofensa. Na carta de demissão por justa causa dos funcionários do Consórcio Ipojuca, a justificativa é que ele teriam sido desligados sob acusação de insubordinação, por não terem comparecido ao trabalho no dia 16.
A data foi estabelecida no acordo firmado entre Sinicon e Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada em Pernambuco (Sintepav-PE) no dia anterior, que previa o abono de 70% dos 15 dias de greve, além da compensação de um sábado (que seria contabilizado como dois dias) e 32 horas descontadas no momento da rescisão para os funcionários que fossem desligados até o dia 31 de dezembro deste ano. A Petrobras foi procurada, mas informou que não iria comentar a maneira como o Consórcio Ipojuca (formado pelas construtoras Queiroz Galvão e Iesa) promoveu as demissões.

DISPUTA POLÍTICA
O endurecimento das empresas reacendeu a fagulha política na greve. A Central Sindical Popular (CSP-Conlutas) emitiu uma nota oficial que classificou a atitude como um "absurdo". A entidade pede que todas as demissões sejam revogadas. "Exige" ainda garantia de estabilidade no emprego para todos os operários e que o governo federal coordene a eleição de uma comissão de trabalhadores. Esse grupo substituiria o Sintepav-PE nas negociações e levaria à uma assembleia geral toda a tomada de decisões. "Foi muita petulância das empresas realizar essas demissões e uma desmoralização para o governo federal, que há quatro dias está com uma representação no caso", atacou o membro da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas Atnágoras Lopes.

INQUÉRITO
A Polícia Civil concluiu o inquérito do quebra-quebra do último dia 8 e indiciou os operários Johernertt da Cunha Moura, 24 anos, vindo de São Luís (MA), e Raimundo Ita de Amorim Filho, 49, do Rio Grande do Sul, pelos crimes de promover paralisação de forma violenta, danos ao patrimônio público e dano qualificado, por conta dos incêndios aos ônibus. Eles foram autuados em flagrante no dia do conflito entre trabalhadores e Batalhão de Choque da Polícia Militar. Vão aguardar julgamento presos no Centro de Observação e Triagem (Cotel).
Está em curso um segundo inquérito, que investiga a existência de um "grupo terrorista", responsável por provocar todos os conflitos dentro da Rnest. O delegado de Ipojuca, Leonardo Gama, fez um apelo à população e a outros trabalhadores para que disponibilizem vídeos ou ajudem com informações.

Interferência pública fracassa
SEM TRÉGUA Justamente no final de semana seguinte a entrada do governo federal na discussão, empresas partem para demissões
 
Justamente no dia em que as empresas começaram a punir os grevistas, após cederem diversas vezes durante as negociações, o silêncio acometeu entidades patronais, dos trabalhadores e do Consórcio Ipojuca. Contactados diversas pela reportagem do JC, até o fechamento desta edição, nenhum dos três optou por se pronunciar, nem mesmo através de notas oficiais. A falta de posicionamentos terminou escancarando o quão desgastados estão os diálogos e levanta dúvidas se há chances de final para a novela que se arrasta no maior empreendimento em construção do Estado desde o dia 31 de julho.A situação é tal, que nem mesmo o representante do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) obteve sucesso na tentativa de diálogo. Escalado para ajudar na solução do impasse, sequer conseguiu se reunir presencialmente com a diretoria do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada em Pernambuco (Sintepav-PE) no último final de semana. A conversa teve de ser por telefone. Já os trabalhadores se sentiram sem apoio por parte do sindicato.
O secretário de Relações do Trabalho do MTE, Manoel Messias, evitou definir como fracassada a mediação. "O Sintepav-PE informou que as negociações se esgotaram. Nossa missão foi levantar informações para repassar ao ministro (Brizola Neto). Não podemos impedir demissões, apesar de nos preocuparmos, já que a missão do MTE é promover o crescimento dos empregos. Estamos à disposição para mediar negociações. Só podemos nos mobilizar se houver um processo de demissão em massa", resumiu. Quanto às críticas feitas pela CSP-Conlutas, Messias explicou que o MTE não pode impor a saída do Sintepav-PE.
Sem disponibilizar ônibus para transportar operários por três dias, incluindo ontem, e apontado informalmente como próximo grupo de empresas a promover demissões, o Consórcio Conest (formado pela Odebrecht e OAS), afirmou, por meio de nota, que "está cumprindo um cronograma de retorno gradual ao trabalho na refinaria e amanhã os ônibus deverão circular normalmente. Com relação às demissões, não houve desligamentos nesta segunda-feira por parte deste consórcio”. Entretanto, pontuou que "entende como correta a decisão das empresas de realizar demissões pontuais de pessoas que induziram ao descumprimento de ordem judicial e dificultaram o retorno da maioria dos trabalhadores ao trabalho". Instada a se posicionar sobre a paralisação, a Petrobras declarou, também por nota, "que vai avaliar possíveis impactos após a retomada dos trabalhos e que implementará medidas mitigadoras, se necessário".
O Sindicato Nacional das Indústria de Construção Pesada (Sinicon) só se movimentou no final da manhã de ontem. Também lançando mão de uma nota oficial, apenas negou que o número de demissões tenha chegado a 1.000, quantia especulada no canteiro. Porém, não apresentou números oficiais. O texto curto não informou quantos operários trabalharam na PetroquímicaSuape, que ainda não retomou à sua rotina normal.