terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O mistério das ostras (P/Tadeu Alencar)



JC/Opinião - 23/12/2012

Catando as migalhas de tempo sob a mesa do ano o homem sabe que caminhar - mesmo para os ponteiros, que não viajam nem descortinam paisagens - é ofício indeclinável. Não há coragem inerte.
A repetição das coisas miúdas, o vento que sopra pela casa, o rufar das panelas, o pijama e o nó da gravata, essas coisas que são personalíssimas, como espreguiçar-se, bocejar, sonhar, ajudam a compreender que o tempo também se faz das migalhas. Foi juntando migalhas de minutos, frações de segundo, olhos piscando, que percebi a eternidade que há no instante. Nada como as folhas que despencam dos galhos, bailando a dança do outono. Nada como o efeito do sol na água, bolhas coloridas sopradas do canudo do relógio. Juntando as folhas e as migalhas, diante de mim o mundo se desvendou.
Caminhar, caminhar é preciso, mesmo que a miragem da chegada seja uma cilada do destino, um preço, o Fausto que nos ronda. O arco-íris é fruto dessa perplexidade benfazeja. Caminhar, mesmo sobre os lençóis amarfanhados, a barba por fazer, os cantos do rosto com a marca do tempo, sorvendo a vida em pequenos goles, que o melhor vinho deve ser degustado em silêncio. Quem não tem cotidiano não especula com a eternidade. Só quem entende de moscas entende de vacas. Por isso que os orientais são minimalistas, descobrem a floresta investigando a árvore, enxergam a Via-Láctea na chama de um fósforo. Como ver beleza na aurora se não se ocupam os homens de abrir as janelas, descerrar as cortinas e deixar entrar a alvorada? É preciso paciência de canário para herdar o gorjeio, testá-lo de um lado da boca, sacudi-lo do outro lado, pesar na balança da consciência, a fim de criar intimidade entre a boca e a voz, entre o vento e a caverna que lhe molda. Criar a intimidade da carne com os dentes, deixar a voz dormir na boca, medir com a língua todos os timbres até alcançar o trinado certo para uma manhã de domingo. O trinado de um canário que aprendeu com Jó a dedicar-se ao ofício da paciência e a certas coisas invisíveis. É preciso ouvir para palrar.
Aqueles que são imersos em si próprios, mergulhados com narciso num lago de enganos, declinam da vertigem que é um planeta novo, um asteroide que cruza o céu, uma colina de onde se divisa a linha do horizonte, declinam, imprevidentes, de ver além do espelho, nas costas do espelho, por trás da imagem refletida na água. Renunciam a terraços brancos sobre mares azulados, a mesquitas cheias de mistério, a tribos de nômades que vivem de comer raízes, a algo que excite a mente, que sacie a ânsia de conhecer o outro lado do mundo, ainda que seja apenas o quintal do vizinho, seu cachimbo no fim da tarde, a lenha que crepita numa casa de sertão, como na Rússia de invernos rigorosos. O mundo é vasto como a imensidão do pensamento. Naquele quintal onde conviviam patos e carneiros, em meio a pneus desordenados, acumulando água de chuva, fechava os olhos para ouvir o barulho da biqueira escorrendo, o som dos grilos declamando fados para as estrelas e os sapos coaxando como um coral de crianças que perdem a ilusão de Noel e depois, de ilusão em ilusão, quase perdem a esperança.
Caminhar é preciso para alimentar-se do pão da estrada, esse trigo que esfarela nas mãos como a areia de um oásis, que é a mesma areia que queima no deserto.
Bicando o chão da mesa do ano mordo os últimos instantes, com a fome de juntar os pedaços do mapa e de ver onde está enterrado o tesouro do futuro. O canário imaginário passeia sobre o que vê. Enxerga lagartixas correndo entre pequenas pedras e descobre que ainda há tempo para visitar um amigo.
Tadeu Alencar é secretário da Casa Civil de PE

sábado, 1 de dezembro de 2012

PDVSA não dá garantia ao BNDES


Do JC/Economia, 01/12/2102

A petrolífera venezuelana PDVSA não conseguiu entregar garantias ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a tempo de se tornar sócia da Petrobras na polêmica refinaria Abreu e Lima, que está sendo construída em Pernambuco por um preço nove vezes maior do que o planejado e com atraso de três anos.
Após vários adiamentos para definir a participação da PDVSA no projeto, a presidente da Petrobras, Graça Foster, havia determinado, no início deste ano, prazo até novembro para que a companhia entrasse na sociedade.
Para isso, a empresa de petróleo do país vizinho teria que apresentar garantias ao BNDES relativas a 40% do empréstimo de R$ 10 bilhões concedido pelo banco para a Petrobras realizar a obra.
Segundo o BNDES, até as 18h de ontem não houve nenhum contato da PDVSA nesse sentido.
Na Petrobras, a informação é de que a empresa não comentaria o assunto.
O custo total da refinaria é de US$ 20 bilhões e a previsão é de que fique pronta em novembro de 2014. A unidade vai ter capacidade para processar 230 mil barris de petróleo por dia.