quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Após demissões, obras (da refinaria) voltam a funcionar

Em mais um dia de desligamentos de operários, obras da refinaria e petroquímica ganham ritmo - Adriana Guarda e Felipe Lima - economia@jc.com.br - JC, 22/08/2012

As demissões nas obras da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e PetroquímicaSuape (PQS), iniciadas na segunda-feira, serviram como estímulo forçado à volta dos operários ao trabalho. Se nem uma determinação judicial, nem o sindicato da categoria conseguiram convencer os trabalhadores a encerrar uma greve que se estendia desde o último dia 1º, o medo de perder falou mais alto e o canteiro de obras voltou a se movimentar.
Algumas empresas calculam que pelo menos 75% dos funcionários tenham retornado. A discussão agora é sobre o impacto que a paralisação terá sobre o cronograma. Ontem, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, participou de reunião para tratar do assunto e classificou a situação como preocupante.
O primeiro consórcio a realizar demissões foi o Ipojuca Interligações, que surpreendeu seus funcionários na entrada da Rnest na manhã da segunda-feira, com cerca de 100 dispensas por justa causa. Ontem, o dia foi de novos desligamentos. O Consórcio Conest informa que demitiu 22 funcionários por justa causa. Na PQS, a assessoria de comunicação informou que também foram dispensados 22 trabalhadores por justa causa. A lista de demissões também se estende a Galvão Engenharia e Alusa. Na Galvão, a informação é que 50 operários foram desligados. Não há um número preciso de demitidos, em função do grande número de consórcios (22) responsáveis pela construção da Rnest.
O Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon), que nos últimos dias vinha se pronunciando por meio de nota, não atendeu ao pedidos de informação da reportagem. Do lado dos trabalhadores, o presidente do sindicato, Aldo Amaral, se tornou inacessível ao celular, que permanece desligado desde a última sexta-feira. A diretoria do Sintepav informa que ontem os dois primeiros demitidos por justa causa procuraram a entidade para homologar suas rescisões.

CRONOGRAMA
A primeira refinaria construída pela Petrobras após 20 anos sem investimentos em novas unidades de refino só deverá entrar em operação em novembro de 2014. O primeiro cronograma previa a inauguração para agosto de 2010. O valor do empreendimento também dobrou quase dez vezes, desde 2005, quando foi lançada a pedra fundamental. O orçamento inicial era de US$ 2,3 bilhões e agora está estimado em US$ 20,1 bilhões.
Após participar da cerimônia de escolha de projetos do Programa Petrobras Esporte e Cidadania, ontem no Rio, Graça Foster afirmou que o risco de atraso no cronograma ainda não está dimensionado. “É possível que tenha folga para recuperar esses atrasos. De qualquer forma, é algo preocupante. Vamos ocupar todos os espaços para que isso tenha o menor efeito no cronograma. É fundamental que volte o mais rápido possível. A gente precisa muito da refinaria”, observou a presidente da Petrobras, dizendo que teria uma reunião na tarde de ontem para tratar do assunto.

Ansiedade ao passar o crachá na catraca
"Deu vermelho". A expressão era a mais temida ontem na portaria principal da Refinaria Abreu e Lima (Rnest). Significava que o crachá do operário não havia passado na catraca. Foi a senha utilizada por pelo menos três consórcios para avisarem aos seus empregados que eles seriam demitidos. Consórcio Conest (formado por Odebrecht e OAS), Consórcio Alusa/CBM (integrado pela Alusa e Construtora Barbosa Melo) e Galvão Engenharia promoveram desligamentos. Foi o segundo dia do revide das empresas, depois que os trabalhadores cruzaram os braços na marra há 21 dias, peitaram uma decisão judicial, renegaram o sindicato e pararam o maior empreendimento em construção no Estado. Alguns operários vestiram a farda sabendo que seriam demitidos. O agora desempregado Eniedson Jesuíno, pernambucano, 34 anos, pai de dois filhos, era armador de ferragens do Consórcio BPM. Recebeu na segunda-feira à noite a ligação da área de recursos humanos da empresa. Estava há oito meses com a carteira assinada. Foi apenas ouvir a notícia ruim pessoalmente ontem. "Quando a greve fica desse jeito, todo mundo é participante. Levei carreira duas vezes porque queria trabalhar. Éramos ameaçados de apanhar na rua. É uma injustiça essas demissões", desabafou, sem saber ainda se havia sido demitido por justa causa.
Houve diversos casos em que a catraca "dava o vermelho", mas não representava demissão. Era a situação de operários que precisavam renovar o Atestado de Saúde Ocupacional (ASO) ou prestadores de serviço que devem revalidar crachás a cada 15 dias. Mas não importava. O clima era de desconforto para quem não conseguia entrar. Reclamavam que todos os verdadeiros baderneiros passaram tranquilamente. Sentavam no chão, se exaltavam, bradavam que iriam procurar os "direitos", torciam para que não fossem demitidos. E se fossem, que não por justa causa " o que representava cinco anos afastados de obras da Petrobras.
Ao invés de dar a notícia do lado de fora, como fez o Consórcio Ipojuca Interligações, o Conest deslocou vários funcionários para um ônibus estacionado do lado de fora da Rnest, perto de 7h30. Seriam encaminhados para um processo de "integração". Ambos realizados no escritório do consórcio no Cabo de Santo Agostinho. "Reciclagem é ratoeira", avisava um operário demitido um dia antes do Consórcio Ipojuca, que foi até a portaria fazer barulho. Tinha razão. No final do dia, a empresa informou que demitiu por justa causa 22 funcionários das obras.
O representante da Galvão apareceu na portaria depois das 9h. Informou aos operários que, infelizmente, haviam sido demitidos. Deveriam esperar o documento da rescisão pelos Correios.

Caminhoneiros pagam o pato
Oito caminhoneiros fizeram do estacionamento de carga e descarga da Rnest moradia nos últimos 20 dias. Impossibilitados de entrar no canteiro para entregar o que transportavam, estão toda a greve sem alimentação regular, banheiros ou remuneração. Contam apenas com um banho após às 22h, com um vigia da Rnest do lado, e com o companheirismo do colega de veículo ao lado. Alguns com mais de 20 anos de estrada, relatavam que nunca haviam passado por situação igual. Desabafam que se sentem como prisioneiros.Lauro Pedrosa veio de Belo Horizonte com uma carga de madeira para andaime, estacionando seu caminhão em Suape no último dia 2. Autônomo, deveria entregar o material à Alusa. Até agora não conseguiu. Inconformado, contabilizava R$ 11,6 mil a que tinha direito por tantos dias parados, engolindo a poeira do estacionamento e se virando com o que tinha para cozinhar alguma refeição. "Estou dormindo dentro do caminhão, vou no posto de gasolina (na PE-60), já fui até o shopping (Costa Dourada), mas fico a maior parte do tempo aqui. E sem nenhuma satisfação", disse. Por dia parado, o caminhoneiro recebe algo entre R$ 600 e R$ 650. Por conta do risco de novos confrontos entre trabalhadores e polícia, ainda não foi autorizada a entrada na Rnest. Eloir Jesus dos Santos, de São Bento do Sul (RS), afirma com revolta que só escuta que a carga irá ser recebida, mas não lhe apresentam nenhuma data. Seu cliente é o consórcio Fildens-Milplan. "Não temos nem água para tomar. Não nos oferecem nada. Nem um espaço no refeitório. É a primeira vez que isso me acontece em 30 anos como motorista de caminhão", diz.

No tempo dos quintais (P/Tadeu Alencar)

Do JC-Opinião, 19/08/2012

Todos os indicadores afirmam que o governo Eduardo Campos tem aprovação de 90% dos pernambucanos, inclusive na capital. Assim, causou indignação a afirmação do deputado estadual paulista que preside o PT, de que é ponto de honra derrotar o PSB no Recife. Tal se constituiu num primor de arrogância, numa pérola de desacerto diplomático. Foi obrigado a ouvir o que todos gostaríamos de dizer e com serenidade dito pelo governador Eduardo Campos: "Recife nunca foi, não é e jamais será quintal de São Paulo". O líder é quem encarna o sentimento do povo.

Vamos ter eleições no Recife. De um lado o senador Humberto Costa, homem público de valor, um dos melhores quadros da esquerda pernambucana. Foi eleito com o apoio de uma ampla frente política liderada pelo governador Eduardo Campos, num momento em que as discussões sobre o pacto federativo, guerra fiscal, royalties do petróleo e outros temas vitais, ganham relevo e reclamam parlamentares como Humberto, que vem honrando o seu mandato.
Tem como vice, o deputado João Paulo, líder popular eleito duas vezes prefeito da cidade do Recife. João Paulo é uma liderança consagrada, com o seu jeito simples, performático, dialogando com o homem comum como se fora um habitante da vila, um local.

Dir-se-ia que uma chapa como essa no Recife, uma cidade libertária, que sempre surpreendeu os poderosos, deveria unir o PT e os partidos da Frente Popular. Maurício Rands, um político integral, num gesto de raro desprendimento, por desencanto com o seu partido, do qual se desfiliou, renunciou ao mandato de deputado. O prefeito João da Costa segue sem manifestar apoio. Por outro lado os partidos integrantes da Frente Popular, em sua quase totalidade, recusaram-se a chancelar, por autofágico e, em seu desenlace, deveras autoritário, o processo de escolha do Partido dos Trabalhadores. Pretendeu-se subordinar o Recife a partir de São Paulo, onde ocorreram as tratativas da sucessão, sem a menor sem cerimônia, como se fôssemos colonos e a capital paulista a potência imperial que nos tutela.
Dir-se-ia, que uma chapa com dois líderes forjados na luta, para a disputa no Recife, cidade cruel, deveria representar o melhor projeto para comandar e gerir a cidade. Não é o sentimento colhido nas ruas.

O governador Eduardo Campos, ao cabo de um processo fratricida, perdulário com a tolerância da sociedade, e, com a delegação de 14 partidos, após meses de indesculpável espera, viu-se obrigado a lançar uma candidatura. Um nome com densidade política, capacidade de articulação, reconhecida competência técnica e que carregasse os atributos que ajudam a construir em Pernambuco, uma obra de renovadora transformação, com foco nos que mais precisam.
A despeito da história de Humberto e João Paulo, neste momento, eles não representam o que a cidade espera do seu próximo gestor.

Nos mercados, nas barbearias, nas universidades, nos morros, nas ruas há um clima de atípico entusiasmo, com a possibilidade de que a atitude, a velocidade, a credibilidade, a confiança, o trabalho duro, marcas do governo do Estado, possam também presidir os destinos do Recife.

Geraldo é um candidato com uma força enorme, capaz de galvanizar esse sentimento. O seu nome enraizou no terreno-desejo da sociedade de que a Vila do Recife, de tantas tradições e de tão contagiante beleza, possa encontrar-se com o seu destino. E está acompanhado de Luciano Siqueira, que dispensa apresentações, pelo engajamento de sua combativa militância. Ninguém derrota o Recife. E, por isso, caro leitor, também por isso, Geraldo caminha para ser prefeito. E fará bem, muito bem, à cidade do Recife.
Tadeu Alencar é procurador da Fazenda Nacional

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Refinaria começa a demitir

do JC-Economia, 21/08/2012
EFEITO DA GREVE Ao menos 120 operários perderam o emprego, com demissão por justa causa. Clima ficou tenso na portaria da obra
Adriana Guarda e Felipe Lima - economia@jc.com.br

As empresas que integram as obras da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Suape, começaram a apresentar suas listas de demissões. Depois do fracasso do acordo entre patrões e empregados, que previa a volta maciça ao trabalho quinta-feira, as empreiteiras decidiram optar pelo remédio amargo. Ontem, pelo menos 120 funcionários do Consórcio Ipojuca Interligações foram recebidos no canteiro de obras com cartas de demissão por justa causa. Até o fechamento desta edição, nem as empresas Queiroz Galvão e IESA, que formam o consórcio, nem o Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon) confirmaram o número exato de desligamentos. A desinformação era tão grande que foram especuladas demissões de 80, 300 e até 1.000 pessoas.
Surpresos com a notícia da dispensa, alguns passaram mal e chegaram a desmaiar. O movimento de ônibus transportando trabalhadores foi intenso durante a manhã, com exceção do Consórcio Conest, que não programou as rotas dos veículos. De acordo com o Sinicon, desde a última sexta-feira, quase metade dos 44 mil funcionários das obras voltaram ao trabalho.
Os operários do Consórcio Ipojuca contam que tentaram passar na catraca de entrada, mas o cartão eletrônico estava desabilitado. Receberam a informação de que deveriam aguardar do lado de fora porque passariam por um processo de integração, mas depois foram dispensados. Pelo menos 25 profissionais da BBC Vigilância faziam a segurança de dois funcionários da empresa, encarregados de entregar as cartas de demissões. Inconformados com as dispensas, os operários se aglomeraram na frente da portaria e pediam explicações. Um funcionário da Petrobras comentou que o Consórcio Ipojuca seria questionado pela forma das demissões, porque não seria a prática orientada pela estatal. Um grupo de demitidos fechou uma das entradas da Rnest como forma de pressionar por uma resposta. A empresa cedeu e recebeu uma comissão de cinco trabalhadores, mas nada foi revertido. Do lado de dentro, colegas dos demitidos informavam que no canteiro também estavam ocorrendo desligamentos, mas sem justa causa. "O que eu fiz pra me botarem pra fora? Sou um pai de família, vim trabalhar. Só não compareci nos últimos três dias úteis porque os ônibus do consórcio não circularam. Estava juntando dinheiro para comprar um terreno e construir minha casa. Quero trabalhar", dizia, chorando, o ajudante João Henrique Teotônio, que desmaiou ao receber a carta de demissão. Há um ano e dois meses no consórcio, o ajudante José Edson, reclamou da ausência do sindicato da categoria (Sintepav-PE) no canteiro. "Fomos abandonados pela entidade. Ninguém está aqui para nos defender ou nos orientar. Hoje os ônibus do Conest não rodaram e amanhã deverá acontecer com eles o que fizeram conosco", acredita.
Além de funcionários do Ipojuca, operários do Consórcio Alusa/Barbosa Melo também tiveram crachás rejeitados. Passaram parte da manhã do lado de fora da obra, aguardando orientação. Após 10h30 foram informados que deveriam voltar para suas casas e aguardar um telefonema de representantes da empresa informando os encaminhamentos.

Entidades criticam as demissões fora da obra
Advogado diz que o trabalhador que se sentir injustiçado pela justa causa deve ajuizar uma ação pedindo a reintegração ao trabalho e até uma indenização.
O presidente da Comissão de Direito do Trabalho da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Pernambuco, Paulo Collier de Mendonça, explicou que a dispensa na porta da obra não foi a forma mais adequada. "É a chamada demissão em câmara de gás, onde junta todo mundo numa leva e dá a notícia. O próprio Tribunal Superior do Trabalho (TST) questiona esse tipo de dispensa, porque expõe o trabalhador a um constrangimento diante dos outros, alguns choram, se sentem injustiçados", diz.O advogado orienta os trabalhadores que se sentiram injustiçados pela justa causa a ajuizarem ação pedindo a reintegração ao trabalho, anulação da demissão sem justa causa e até uma indenização nos casos em que houve alguma acusação de desabono ou ofensa. Na carta de demissão por justa causa dos funcionários do Consórcio Ipojuca, a justificativa é que ele teriam sido desligados sob acusação de insubordinação, por não terem comparecido ao trabalho no dia 16.
A data foi estabelecida no acordo firmado entre Sinicon e Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada em Pernambuco (Sintepav-PE) no dia anterior, que previa o abono de 70% dos 15 dias de greve, além da compensação de um sábado (que seria contabilizado como dois dias) e 32 horas descontadas no momento da rescisão para os funcionários que fossem desligados até o dia 31 de dezembro deste ano. A Petrobras foi procurada, mas informou que não iria comentar a maneira como o Consórcio Ipojuca (formado pelas construtoras Queiroz Galvão e Iesa) promoveu as demissões.

DISPUTA POLÍTICA
O endurecimento das empresas reacendeu a fagulha política na greve. A Central Sindical Popular (CSP-Conlutas) emitiu uma nota oficial que classificou a atitude como um "absurdo". A entidade pede que todas as demissões sejam revogadas. "Exige" ainda garantia de estabilidade no emprego para todos os operários e que o governo federal coordene a eleição de uma comissão de trabalhadores. Esse grupo substituiria o Sintepav-PE nas negociações e levaria à uma assembleia geral toda a tomada de decisões. "Foi muita petulância das empresas realizar essas demissões e uma desmoralização para o governo federal, que há quatro dias está com uma representação no caso", atacou o membro da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas Atnágoras Lopes.

INQUÉRITO
A Polícia Civil concluiu o inquérito do quebra-quebra do último dia 8 e indiciou os operários Johernertt da Cunha Moura, 24 anos, vindo de São Luís (MA), e Raimundo Ita de Amorim Filho, 49, do Rio Grande do Sul, pelos crimes de promover paralisação de forma violenta, danos ao patrimônio público e dano qualificado, por conta dos incêndios aos ônibus. Eles foram autuados em flagrante no dia do conflito entre trabalhadores e Batalhão de Choque da Polícia Militar. Vão aguardar julgamento presos no Centro de Observação e Triagem (Cotel).
Está em curso um segundo inquérito, que investiga a existência de um "grupo terrorista", responsável por provocar todos os conflitos dentro da Rnest. O delegado de Ipojuca, Leonardo Gama, fez um apelo à população e a outros trabalhadores para que disponibilizem vídeos ou ajudem com informações.

Interferência pública fracassa
SEM TRÉGUA Justamente no final de semana seguinte a entrada do governo federal na discussão, empresas partem para demissões
 
Justamente no dia em que as empresas começaram a punir os grevistas, após cederem diversas vezes durante as negociações, o silêncio acometeu entidades patronais, dos trabalhadores e do Consórcio Ipojuca. Contactados diversas pela reportagem do JC, até o fechamento desta edição, nenhum dos três optou por se pronunciar, nem mesmo através de notas oficiais. A falta de posicionamentos terminou escancarando o quão desgastados estão os diálogos e levanta dúvidas se há chances de final para a novela que se arrasta no maior empreendimento em construção do Estado desde o dia 31 de julho.A situação é tal, que nem mesmo o representante do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) obteve sucesso na tentativa de diálogo. Escalado para ajudar na solução do impasse, sequer conseguiu se reunir presencialmente com a diretoria do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada em Pernambuco (Sintepav-PE) no último final de semana. A conversa teve de ser por telefone. Já os trabalhadores se sentiram sem apoio por parte do sindicato.
O secretário de Relações do Trabalho do MTE, Manoel Messias, evitou definir como fracassada a mediação. "O Sintepav-PE informou que as negociações se esgotaram. Nossa missão foi levantar informações para repassar ao ministro (Brizola Neto). Não podemos impedir demissões, apesar de nos preocuparmos, já que a missão do MTE é promover o crescimento dos empregos. Estamos à disposição para mediar negociações. Só podemos nos mobilizar se houver um processo de demissão em massa", resumiu. Quanto às críticas feitas pela CSP-Conlutas, Messias explicou que o MTE não pode impor a saída do Sintepav-PE.
Sem disponibilizar ônibus para transportar operários por três dias, incluindo ontem, e apontado informalmente como próximo grupo de empresas a promover demissões, o Consórcio Conest (formado pela Odebrecht e OAS), afirmou, por meio de nota, que "está cumprindo um cronograma de retorno gradual ao trabalho na refinaria e amanhã os ônibus deverão circular normalmente. Com relação às demissões, não houve desligamentos nesta segunda-feira por parte deste consórcio”. Entretanto, pontuou que "entende como correta a decisão das empresas de realizar demissões pontuais de pessoas que induziram ao descumprimento de ordem judicial e dificultaram o retorno da maioria dos trabalhadores ao trabalho". Instada a se posicionar sobre a paralisação, a Petrobras declarou, também por nota, "que vai avaliar possíveis impactos após a retomada dos trabalhos e que implementará medidas mitigadoras, se necessário".
O Sindicato Nacional das Indústria de Construção Pesada (Sinicon) só se movimentou no final da manhã de ontem. Também lançando mão de uma nota oficial, apenas negou que o número de demissões tenha chegado a 1.000, quantia especulada no canteiro. Porém, não apresentou números oficiais. O texto curto não informou quantos operários trabalharam na PetroquímicaSuape, que ainda não retomou à sua rotina normal.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Apagão de mão de obra dá poder a trabalhador

do JC- Economia, 16/08/2012

NOVOS TEMPOS Greve em Suape vai marcar a história do Estado como exemplo de como a conjuntura social, de quase pleno emprego, se sobrepõe até a uma decisão judicial
O desfecho da greve na Refinaria Abreu e Lima e Petroquímica Suape reflete o novo panorama do mercado de trabalho em Pernambuco. O apagão de mão de obra qualificada e o cenário de quase pleno emprego garante ao operário um poder de barganha inimaginável até pouco tempo. A paralisação das obras em Suape vai marcar a história do Estado como exemplo de como a conjuntura social se sobrepõe até a uma decisão judicial. O presidente da Comissão de Direito do Trabalho da Ordem dos Advogado do Brasil (OAB) no Estado, Paulo Collier, diz que o movimento aponta para um problema estrutural que afeta Pernambuco e o País. "É uma questão de lei de oferta e procura. Se as empresas não têm como substituir um contingente de trabalhadores tão grande, porque não existe gente qualificada para isso, então os trabalhadores se colocam numa posição elevada na negociação, mesmo que a greve tenha sido considerada ilegal pela Justiça", analisa.
Pelo menos num primeiro momento, as empresas deverão segurar as demissões. Depois de um cenário de campo de guerra não seria sensato voltar ao trabalho com cortes de pessoal antes do pagamento do salário do mês.

PAGAMENTO
Quarenta por cento do salário no bolso e mais um dia sem ônibus para ir às obras. Foi assim o dia de ontem dos operários da Rnest e PQS. Diante do pagamento, conforme prometido, do adiantamento quinzenal ontem, o clima que prometia azedar se normalizou. Praia, conversa jogada fora e bebida com os colegas de canteiro e república mais uma vez.
A manhã começou tensa. Operários faziam filas antes das 6h nos caixas eletrônicos da Praia de Gaibu, no Cabo de Santo Agostinho, para checar se a "quinzena" havia sido paga. Pontualmente às 6h, os terminais foram ligados, seguidos de gritos de comemoração. Em uma agência do Bradesco, passou-se um minuto apenas para os trabalhadores que lotavam o pequeno imóvel ouvirem o contar das notas do terminal. "Peão está barão", gritou um mais empolgado. Foi o sinal de paz. Poucos trabalhadores ainda estavam insatisfeitos. "Recebi R$ 867 quando o certo é R$ 938", se queixou um empregado da Engevix, sem conseguir engrossar o coro para as reclamações.
Em um restaurante que fornece refeições a 10 empresas diferentes, em Gaibu, um cartaz colado com fita adesiva no balcão avisava os trabalhadores que, pelo segundo dia consecutivo, não haveria ônibus para levá-los às obras. Assim como na última terça-feira, o expediente só valeria para os funcionários da área administrativa e dos refeitórios, além de terceirizadas do segmento de serviços gerais. Mais uma vez, a polícia esteve na Rnest. Apenas por segurança. Os únicos operários que apareçam por lá foi um grupo de oito empregados da Alusa, que alegando desconhecer o aviso de que não haveria trabalho, pegaram carona no ônibus do administrativo, foram impedidos de entrar e não tinham como voltar para o o bairro recifense do Curado ou São Lourenço da Mata.

Acaba greve (da Refinaria) em obras de Suape

do JC-Economia, 16/08/2012

TRABALHO Empresas aceitaram abonar 70% dos dias parados, sob a condição de que os operários voltem ao trabalho na manhã de hoje
Adriana Guarda e Felipe Lima - economia@jc.com.br

Acabou. Depois de entrar em seu 15º dia, a greve nas obras da PetroquímicaSuape (PQS) e Refinaria Abreu e Lima (Rnest) chegou ao fim, deixando um saldo de prejuízos e reflexão sobre o novo cenário do trabalho em Pernambuco. Após três dias intensos de negociações (desde a última segunda-feira), as empresas voltaram a ceder e concordaram em abonar 70% dos dias parados, sob a condição de que os operários voltem ao trabalho na manhã de hoje. Na última sexta-feira, o sindicato patronal (Sinicon) fez a proposta de descontar os dias de paralisação no momento da rescisão, mas a alternativa foi repudiada pelo sindicato dos trabalhadores (Sintepav).
As empresas garantem que os ônibus fretados voltarão a circular na manhã de hoje para fazer o transporte dos 51 mil operários das duas obras. A Polícia Militar vai reforçar sua presença nos canteiros para garantir a ordem no retorno dos operários. Pelo acordo fechado entre os sindicatos, os funcionários terão 70% dos 15 dias abonados. Os 30% restantes serão compensados e descontados apenas na rescisão. "Os operários vão trabalhar no próximo sábado para compensar o equivalente a dois dias de trabalho", explica a advogada do Sinicon, Margareth Rubem.
As 32 horas restantes serão descontadas na rescisão. A diretoria do Sintepav explica que o desconto será contabilizado como hora e não como dia para evitar que entre no cálculo de férias, 13º e outros benefícios. O acordo também prevê a manutenção do pagamento do vale alimentação e a Participação nos Lucros e Resultados (PLR) pelos dias não trabalhados.
O fechamento do acordo foi recebido com surpresa pelo próprio Sintepav, que viu as negociações voltarem a ficar tensas depois que o Sinicon fez a proposta aos trabalhadores de descontar os dias de greve no final do contrato, na última sexta-feira. O Sintepav chegou a ameaçar paralisar outras obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e fez panfletagem nos canteiros de obra, orientando os operários a não aceitarem o desconto. O episódio ao menos serviu para reaproximar o sindicato da categoria, depois de ter seus representantes apedrejados na assembleia realizada na quarta-feira da semana passada, que resultou em sete ônibus incendiados, tumulto e prisões.
Do lado das 20 empresas responsáveis pelas obras da Rnest e PQS, a adesão à proposta não foi unânime. Muitas queriam manter os descontos, como determinava a decisão do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) quando decretou a ilegalidade da greve, na terça-feira da semana passada. Mas a minoria acabou derrotada e convencida de que a queda-de-braço com os trabalhadores resultaria em mais prejuízos.

Os que querem trabalhar... ... e os que curtem a greve (da Refinaria)

do JC-Economia, 15/08/2012

TRABALHO Greve ilegal em Suape expõe drama de operários que estavam quase contratados e hoje sofrem sem perspectiva - Felipe Lima - flima@jc.com.br
Parece estoque de peão. São seis, até oito operários, dividindo quartos pequenos, de, em média, 24 metros quadrados. Comungam um único banheiro por cômodo. Somente em um alojamento, na Praia de Gaibu, Cabo de Santo Agostinho, estão 115 trabalhadores. A maioria está pisando pela primeira vez em solo pernambucano. São do Pará, Bahia e Rio de Janeiro e vieram à pedido das construtoras responsáveis pelas obras da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e PetroquímicaSuape (PQS), paradas há 16 dias por causa de uma greve considerada ilegal pela Justiça. Alguns já obtiveram o chamado Atestado de Saúde Ocupacional (ASO), mas, mesmo assim, não tiveram carteira assinada ainda. Estão há um mês e meio esperando a oportunidade de vestirem oficialmente a farda e começarem a receber. Suas famílias, distantes, não viram R$ 1 sequer. Poderiam estar hoje atuando nos canteiros, porém, no meio do caminho, surgiu o conflito que atrapalhou a chance de serem, enfim, chamados. Passam os dias dormindo, perambulando pela praia e fazendo as três refeições diárias a que têm direito.
Normalmente, todo o processo de seleção e contratação em obras da Petrobras ocorre entre 20 e 30 dias. São treinamentos e exames de admissão rigorosos que os trabalhadores precisam passar. A situação desses operários é, portanto, atípica, agravada pela paralisação. Como a greve segue com o futuro incerto (ver matéria abaixo), o cenário beira o insustentável. Todos se queixam de que suas famílias esperam todo esse tempo para que enviem alguma ajuda. Porém, sem emprego formal e engessados até mesmo para buscarem um "bico", amargam o peso de saberem que esposa e filhos estão passando por dificuldades.
O pior é que, na convenção coletiva assinada no último dia 27 de julho e rejeitada pela categoria dias depois, há um ponto crucial para solucionar os seus problemas: após a obtenção da ASO, a admissão passa a ser feita na hora. Mais uma vez, a greve impediu que esse ponto fosse colocado em prática. Tornaram-se vítimas de uma briga que não tiveram sequer o direito de escolher um lado. Desconhecem os detalhes do movimento. Só observam diariamente os possíveis futuros companheiros de obra saírem fardados, entrarem nos ônibus e retornarem poucas horas depois.
No primeiro andar do alojamento, três bicamas e uma TV por quarto e inúmeras histórias. Relatos de pessoas que largaram tudo para embolsar salários médios de R$ 1,5 mil no Complexo de Suape. Começaram cheias esperança e experimentam desfechos cada vez mais tristes. Armador de andaimes baiano, de 26 anos, não parava de contar como foi deixado pela esposa por telefone na noite da última segunda-feira. "Ela não acredita em mim. Disse que eu estava aqui gastando dinheiro com prostitutas em vez de mandar alguma coisa para casa. Não acredita que estou, na verdade, desempregado. Foram nove anos de casamento e um filho", contou, repetidas vezes.
O Consórcio Conest (formado por Odebrecht e OAS e dono do maior contrato da Rnest, sendo, portanto, o que mais emprega) confirmou, através de uma nota oficial, que "o pessoal citado está em processo admissional", mas que "nenhum deles assinou o ASO, pois tal procedimento somente é feito no ato da assinatura do contrato de trabalho. O que se assinou previamente foram documentos médicos que compõem o resultado final do Atestado Médico Admissional". Informou também que "disponibilizou aos candidatos, passagem de retorno às suas residências, para que fossem chamados novamente após o final da paralisação".
Por fim, reconheceu: "a paralisação refletiu de forma muita negativa, pois o Conest não pode manter o serviço de recrutamento e seleção funcionando, devido às ameaças feitas por alguns integrantes e, visando resguardar a integridade física de nossos empregados, fechamos as portas de nosso escritório no Cabo. Os processos que estavam em andamento tiveram que ser paralisados e aguardamos o restabelecimento das atividades para dar continuidade aos mesmos".

domingo, 12 de agosto de 2012

Greve (da Refinaria) já custa R$ 44 milhões

 Os 10 dias parados na refinaria e na petroquímica, envolvendo 51 mil operários, tiveram impacto financeiro na obra- Adriana Guarda - adrianaguarda@jc.com.br,JC-ECONOMIA,12/08/2012

Quanto custa uma greve? E se a paralisação for numa obra gigante do tamanho da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e da PetroquímicaSuape, que abrigam, juntas, 51 mil trabalhadores (número maior que a população de um município como Bom Conselho, no Agreste)? Uma das brigas entre empregados e patrões é o desconto dos dias parados. A pedido do JC, o Sindicato das Empresas e Serviços Contábeis de Pernambuco (Sescap-PE) fez um cálculo do custo dessa mão de obra ociosa e chegou ao valor de R$ 44 milhões, em dez dias de greve.
"Se levarmos em conta o salário médio de R$ 1,5 mil dos profissionais da área de produção da obra, o pagamento por dez dias de salário, incluindo os encargos sociais seria de R$ 44 milhões", diz o diretor do Sescap, José Campos. Para as empresas, abonar os dias parados significa mais do que o prejuízo financeiro. Os patrões temem abrir precedente para outros movimentos e transformar a concessão em regra.
O diretor regional do Instituto Brasileiro de Engenharia de Custos em Brasília, Francisco das Chagas Figueiredo, diz que além da mão de obra é preciso incluir na conta do prejuízo, o custo com equipamentos ociosos, o das construtoras para recuperar o atraso decorrente da paralisação (hora-extra, contratação adicional de pessoal), o da Petrobras por conta do atraso no início da operação do empreendimento e o custo financeiro decorrente do aumento do prazo para recuperação do capital investido. Alguns defendem que o valor pode chegar a R$ 25 milhões ao dia, se considerado o faturamento de grandes empresas.
A refinaria representa um investimento de US$ 20,1 bilhões. Desde setembro de 2005 quando começou a construção, o custo da obra já foi multiplicado por dez. O empreendimento também sofreu vários atrasos de cronograma. A primeira data de inauguração estava projetada para 2010 e o último prazo aponta para novembro de 2014. De acordo com o presidente da Rnest, Marcelino Guedes, a Petrobras desembolsa R$ 800 milhões por mês na execução da obra. Numa conta grosseira, dez dias de obra significa um investimento de R$ 266,6 milhões.
Os constantes pleitos de reajustes de salários, pagamento de benefícios e paralisações fazem com que as empreiteiras apresentem as planilhas à Petrobras e reivindiquem correções nos contratos. Tanto que o orçamento do saiu de US$ 2,3 bilhões para US$ 20,1 bilhões. O atraso no cronograma exigiu o redimensionamento da mão de obra. A expectativa era de que no pico da construção o número de trabalhadores atingisse 28 mil. Hoje, já é de 44 mil.
Para além do prejuízo financeiro, a equação também precisa levar em conta as perdas intangíveis. Uma delas é para a imagem do Estado, que se transformou num dos maiores polos de atração de investimentos do País e também ganha fama por se transformar em campo de guerra.

Com medo, operários (da Refinaria) voltam para casa

Empresas flexibilizam punições aos grevistas para estimular retorno ao trabalho. Sintepav rejeitou proposta e ameaçou parar outras obras
Adriana Guarda - adrianaguarda@jc.com.br, JC-Economia,11/08/2012

Reunidas durante toda a tarde de ontem, no Complexo de Suape, as 20 empresas responsáveis pelas obras da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e da PetroquímicaSuape (PQS) decidiram "flexibilizar" as punições aos grevistas, na tentativa de estimular a volta ao trabalho na próxima segunda-feira. A proposta apresentada pelo Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon) é de suspender o desconto da cesta básica, manter o pagamento da Participação sobre os Lucros e Resultados (PLR) e descontar os dias parados na rescisão de contrato. O Sindicato dos trabalhadores (Sintepav) repudia a proposta e ameaça paralisar outras obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), na próxima segunda, se os dias paralisados não forem abonados. Ontem, foi mais um dia improdutivo nas duas obras. Os operários chegaram a entrar nos canteiros, mas foram dispensados após ameaças, tumulto e correria (leia matéria ao lado).
"Por entender que os atos de violência não são um movimento da maioria, as empresas decidiram flexibilizar as punições. Mas a proposta está condicionada a volta ao trabalho na próxima segunda-feira com produtividade, porque não adianta ir para o canteiro e não fazer nada, numa espécie de greve branca", diz a advogada do Sinicon, Margareth Rubem. Ainda ontem, o sindicato e as empresas começaram a distribuir comunicados aos trabalhadores nos alojamentos.
A advogada do Sinicon Nacional, Renilda Cavalcanti, reforça a posição da entidade de que só é possível estabelecer qualquer tipo de conversa atrelada com a volta ao trabalho. "Não vamos negociar mais nada em greve, sobretudo num clima de conflito. A convenção já foi firmada e a Justiça determinou a abusividade da greve", defende. Ela observa que todas as instituições têm às suas limitações, inclusive a Justiça. "Fizemos tudo o que foi possível, inclusive pedir reforço policial ao governo do Estado para garantir a integridade física dos trabalhadores. Mas a única forma de acabar com tudo isso é resolver a questão efetiva da representação sindical, que ontem não compareceu ao local", destaca.
Representantes do Sintepav e dez comissões de trabalhadores das empresas que integram as duas obras paralisadas também tiveram várias rodas de reuniões durante todo o dia de ontem, na sede da Força Sindical, no Recife. O sindicato não ficou satisfeito com a proposta patronal. “Não aceitamos o desconto dos dias parados. Conversamos com a base e eles não ficaram satisfeitos, porque o trabalhador não deve pagar pelos atos que terroristas praticaram no canteiro. Vamos esperar que as empresas revejam essa proposta durante este fim de semana. Se isso não acontecer vamos mobilizar os trabalhadores, fazendo piquete na frente das obras e paralisando outras do PAC”, adianta o presidente do Sintepav, Aldo Amaral. O sindicalista diz que o secretário Executivo de Articulação Social, Eric Souza, também participou das conversas com os trabalhadores e ficou preocupado com a possível paralisação de outras obras.
A diretoria do Sintepav diz que chegou à entidade a informação de que as empresas vão promover um grande número de demissões e que a proposta de descontar os dias parados na rescisão estaria apoiada nessa estratégia. Do lado das empresas a informação é que a disputa por mão de obra não permitiria um grande número de desligamentos.
A greve nas duas obras foi iniciada no dia 1º deste mês. Na terça-feira o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) julgou a ilegalidade do movimento e determinou a imediata volta ao trabalho no dia seguinte e o desconto dos dias parados. Na quarta-feira, o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada (Sintepav) fez assembleia no canteiro da Rnest para anunciar a decisão judicial. Os sindicalistas foram apedrejados por um grupo de trabalhadores e a polícia respondeu com balas de borracha e bombas de efeito moral. Os manifestantes queimaram sete ônibus, depredaram outros e o canteiro se transformou em palco de guerra.

Dia de ameaças nos canteiros das obras
Ameaças de agressões, telefonemas anônimos e boatos de novos incêndios de ônibus fizeram com que as empresas voltassem a dispensar os trabalhadores das obras da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e da PetroquímicaSuape (PQS) no dia de ontem. A regularização do transporte permitiu que os funcionários conseguissem chegar aos canteiros, mas o clima de tensão fez fracassar a terceira tentativa de produtividade da obra, depois que a Justiça decretou a ilegalidade da greve, na última terça-feira. Operários contam que colegas do Consórcio Conest iniciaram o tumulto, usando barras de ferro e pedaços de pau para coagir o pessoal a não trabalhar. A segurança patrimonial da obra da Rnest também flagrou funcionários escondendo garrafas contendo tíner, que poderiam ser utilizadas para provocar novos incêndios.
“Muitos funcionários comunicaram às empresas que receberam ameaças por telefone, dizendo que quem trabalhasse seria apedrejado na saída. Isso provocou um clima de desespero”, conta a advogada do Sinicon (sindicato patronal), Margareth Rubem. Ela diz que as empresas se comunicaram entre si e decidiram dispensar o pessoal sem prejuízo desses dias de tumulto. “As empresas relataram as mesmas ameaças. Por isso resolvemos preservar a integridade física das pessoas e evitar mais depredações”, completa. Assustados, os funcionários saíram correndo da obra e houve tumulto por conta da falta de ônibus no pátio para transportar todos de uma só vez. Isso porque os coletivos deixam os operários e depois saem do local e voltam no final do expediente.
Ontem, o Sintepav solicitou ao chefe da Polícia Civil, delegado Osvaldo Morais, a designação de um delegado especial para apurar os crimes ocorridos nos últimos dias na refinaria, em função da evidência da participação de elementos estranhos aos trabalhadores nos tumultos e atos de vandalismo em Suape.

Empresas de ônibus reclamam de prejuízo
O Sindicato das Empresas em Fretamento de Pernambuco (Sindfrete) vai voltar a apelar aos motoristas da categoria que compareçam às garagens das empresas para garantir o transporte dos trabalhadores da refinaria e da petroquímica, na próxima segunda-feira. O tumulto de ontem no canteiro de obras reascendeu o clima de insegurança e o sindicato que representa os trabalhadores (Sintranstur) promete voltar a mobilizar a categoria para não conduzir os ônibus até Suape. Na última quarta-feira, apenas 30% dos 1.500 coletivos circulou porque os profissionais não trabalharam. "Estamos diante de um impasse, porque o sindicato das empresas orienta os motoristas a rodar, enquanto a entidade dos trabalhadores faz o contrário. Recebemos das nossas contratadas a informação de que o dia de hoje (ontem) seria de tranquilidade, mas não foi no que aconteceu", diz o advogado do Sindfrete, Emmanuel Correia. Ele lembra que as empresas de fretamento precisam cumprir os contratos com as empreiteiras, mas que sofrem pressão dos motoristas, vítimas de ameaças.
O Sindfrete contabiliza um prejuízo de R$ 2 milhões com a perda total dos sete ônibus incendiados no conflito da última quarta-feira. Como a Petrobras não aceita frota com mais de 5 anos de uso, os ônibus depredados são todos novos. Alguns sequer foram pagos e não vão gerar faturamento. Além dos coletivos incendiados, outros 200 foram depredados e as empresas ainda estão fazendo a conta do prejuízo.
A estratégia do Sindfrete e das empresas será ligar e fazer visitas aos motoristas para convencê-los a voltar ao trabalho. "Com a notícia de que o Sinicon vai flexibilizar as punições aos grevistas, o clima poderá ser mais tranquilo", acredita Correia.
Do lado do Sintranstur, a estratégia será convencer os motoristas a não se expor a novos riscos. A categoria argumenta que cabe às empresas de fretamento garantir a segurança dos empregados. Mas, diante do cenário de conflito, nem a própria polícia está conseguindo conter a fúria dos operários.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

O fator político (da greve da refinaria)


Suape está no centro de uma disputa de poder que envolve Força Sindical, Conlutas e PSTU
Adriana Guarda e Felipe Lima - economia@jc.com.br, 10/08/2012

Quarenta e quatro mil trabalhadores e o maior empreendimento em construção no Estado estão no centro de uma disputa política. Líderes da Força Sindical, CSP-Conlutas e do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) provaram também, com a troca de duras acusações ontem, que o Complexo de Suape integra a lista de áreas de conflito sindical no Brasil. Na lista de farpas tem de tudo: uso da greve para promoção de candidatos a prefeito, atos "terroristas" premeditados, falta de legitimidade e abandono dos operários. Enquanto isso, a Refinaria Abreu e Lima (Rnest) acordou esvaziada, após o caos que resultou em sete ônibus incendiados, diversos feridos, dois operários autuados em flagrante (hoje dormindo nas celas do Centro de Triagem, o Cotel, em, ironicamente, Abreu e Lima) e a categoria-símbolo do desenvolvimento econômico de Pernambuco com uma fratura exposta.
Após saírem de uma reunião de portas fechadas, no final da manhã, com o presidente do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 6ª Região, André Genn, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada em Pernambuco (Sintepav-PE), Aldo Amaral, e o presidente nacional em exercício da Força Sindical, Miguel Torres, dispararam a primeira leva de críticas à CSP-Conlutas e PSTU. "O acordo feito em Suape é referência no Brasil. O que está acontecendo é ação de um grupo político violento, que usa táticas de guerrilha para intimidar. O trabalhador não leva galão de gasolina para a assembleia, não vai encapuzado. Nem na ditadura isso acontecia", atacou Torres.
Amaral reforçou os ataques ao denunciar que o confronto da última quarta-feira foi premeditado. "Trabalhadores chegaram com as bolsas cheias de pedras. Eles deveriam fazer uma oposição limpa e clara e não querer ganhar o sindicato à força. Ainda mais com um candidato a prefeito do Recife (em alusão a Jair Pedro, do PSTU). Se conseguíssemos até ajuda de custo de R$ 600 eles continuariam fazendo isso. Porque eles são terroristas", finalizou.
Membro da direção estadual do PSTU, Leôncio Tenório rebateu em mesmo tom. "O fato é que o Sintepav-PE não tem mais legitimidade junto aos operários da Rnest. Perdeu em três assembleias e, em uma atitude arrogante, assinou um acordo sem aprovação da maioria. Quanto ao uso político para campanha é completamente ridículo, temos candidatos em todo o País", disse. O PSTU ainda emitiu uma longa nota oficial lembrando a ligação do Sintepav-PE com o Partido Democrático Trabalhista (PDT) e apontando que "eles perderam a confiança da categoria por causa de seu alinhamento patronal e com o próprio governo Eduardo Campos (PSB)".
Atnágoras Lopes, representante da executiva nacional da CSP-Conlutas, evitou jogar mais lenha na fogueira. Lembrou que o problema hoje vivenciado na Rnest começou no ano passado e negou que a entidade tenha organização dentro da obra. Reforçou que a central está dando "apoio incondicional à resistência dos trabalhadores". "O que queremos é resolver o problema. Lamentamos que a Força Sindical invista em subterfúgios para desviar a discussão do que interessa, que é o trabalhador", discursou.
O cenário é grave e o governador em exercício, João Lyra Neto, reuniu-se ontem à tarde com Amaral e Torres. Para o vice-governador, foi solicitado reforço policial para garantir a segurança dos trabalhadores que desejam retornar hoje aos seus postos. O secretário de Defesa Social, Wilson Damázio, confirmou o aumento no efetivo e assinalou que fazer piquete é um ato criminoso e "compete à polícia reprimir".

Motoristas de ônibus temem agressões
A obra da Refinaria Abreu e Lima, no Complexo de Suape, ficou praticamente esvaziada na manhã de ontem. A maior parte dos 44 mil operários não conseguiu voltar ao trabalho. E dessa vez não foi por causa dos conflitos. Apenas 30% dos ônibus fretados pelas empreiteiras fizeram o transporte dos funcionários para o empreendimento. Temendo mais um dia de violência, o Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviário, Fretamento e Turismo (Sintranstur) orientou seus profissionais a não dirigir os ônibus até se seja restabelecida a ordem no canteiro de obras. No conflito da quarta-feira, sete ônibus foram incendiados, outros depredados e alguns motoristas agredidos. Ontem, do cenário de guerra restou apenas as carcaças dos ônibus queimados. O presidente do Sindicato das Empresas em Fretamento de Pernambuco (Sindfrete), Alberto José dos Santos, diz que durante todo o dia de ontem as 12 empresas filiadas ao sindicato realizam força-tarefa na tentativa de convocar os motoristas a voltarem ao trabalho. "Entendemos que existe um clima de medo, mas temos contratos a cumprir e precisamos fazer o transporte dos funcionários até as obras".
Ontem, cada uma das empresas filiadas ao Sinfrete tentou entrar em contato com os motoristas por telefone e e-mail. "Não dormi esta noite e estamos fazendo um grande esforço para colocar o maior número de ônibus para circular amanhã, mas não sabemos qual será esse quantitativo", observa Santos. Atualmente, uma média de 1.500 ônibus fretados faz o transporte dos operários de Suape.
O presidente do Sintranstur, Paulo do Espírito Santo, reforça a importância de garantir a integridade física dos motoristas. No conflito um deles chegou a apanhar de um operário.

Após o conflito, sol e praia
Canteiro de obras esvaziado e alojamentos cheios de operários. Os funcionários das obras da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e da PetroquímicaSuape (PQS) chegaram a esperar pelos ônibus para chegar ao trabalho, mas ficaram frustrados. Em Gaibu (Cabo de Santo Agostinho), onde se concentram várias repúblicas de trabalhadores, muitos decidiram aproveitar mais um “dia de folga” na praia. "Nosso encarregado ligou dizendo que era melhor esperar para ver como foi o dia hoje (ontem) antes de voltar. E de qualquer forma não teríamos como chegar, porque o ônibus da nossa rota não passou", contou um operário da Rnest que, junto com outros colegas da obra, comia camarão e bebia cerveja e vodca Bolvana, na beira-mar de Gaibu.
O armador de estrutura, José Antônio da Silva, conta que veio de São Paulo para Pernambuco há dois meses para trabalhar na Dimoplac, que presta serviço ao Consórcio Engevix na Rnest. "Todos esses problemas na refinaria estão atrasando o andamento da obra. Vim para prestar 3 meses de serviço e estou aqui há 60 dias sem concluir nem 5% do trabalho. Não acho bom ficar todos esses dias no tédio. Vim aqui pra trabalhar", afirma. O operário apoia as reivindicações trabalhistas, mas desaprova os atos de violência. "A situação aqui está se assemelhando a de outras regiões do Brasil onde ocorrem grandes obras", diz.
Os funcionários que conseguiram chegar à Rnest contam que não houve trabalho efetivo. Com o número reduzido de trabalhadores, muitos consórcios mandaram os operários de volta para casa. Na PetroquímicaSuape, onde o número de operários é menor (7 mil), 90% dos ônibus chegaram ao canteiro, mas retornaram logo após o almoço. A assessoria de comunicação da Odebrecht - empreiteira responsável pela execução da obra - disse que os operários argumentaram que os vizinhos da refinaria não trabalharam e que preferiam retornar por questões de segurança. A empresa acatou o pedido e pediu que os ônibus voltassem para fazer o transporte. A expectativa é que hoje seja mais um dia morno e que a regularização da volta ocorra na segunda-feira.

Efeito dominó paralisa outras obras
A tensão da Rnest se alastrou por diversos canteiros de obras do Estado ontem. Contagiou a PetroquímicaSuape (PQS), que chegou a contar com 70% da força de trabalho de sete mil homens pela manhã, mas sucumbiu à tarde depois que, ameaçados até por telefone, operários ensaiaram uma confusão nos vestiários e forçaram a parada. Na Arena Pernambuco, em São Lourenço da Mata, a convenção coletiva ainda não oficializada abriu caminho para a insatisfação. Por fim, também intimidados, os trabalhadores da Express Way, rodovia com pedágio que vai desafogar trânsito até Suape, largaram as ferramentas. Responsável pela obras do estádio que está sendo construído em São Lourenço da Mata para a Copa do Mundo de 2014 e Copa das Confederações de 2013, a Odebrecht informou que metade dos trabalhadores foi embora e metade retornou às atividades ontem. Hoje é feriado na cidade, em homenagem ao padroeiro, mas a empresa espera que a rotina seja restabelecida por completo. Quem comparecer vai ganhar 100% de hora extra.
A Odebrecht alega que concedeu aumento de 10,5% desde o dia 1º de agosto e já paga salários iguais aos praticados em Suape. Porém, o Sinicon informou que a convenção coletiva, apesar de negociada, ainda não foi assinada. "Enquanto o salário estabelecido pela convenção é de R$ 991,85, um profissional da Arena recebe R$ 1.106,35”, enfatizou a empresa.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Diferença cultural desune trabalhador (da Refinaria)

Do JC, 09/08/2012

"Todo mundo junto e misturado". Cunhado pelos operários, o bordão resume o que acontece no dia a dia de um canteiro de obras como o da Rnest. Quarenta e quatro mil trabalhadores fluminenses, baianos, gaúchos, paranaenses e pernambucanos – e de diversos outros Estados brasileiros – dividem ferramentas, mas não reivindicações. Nenhuma obra no Estado reúne tanta gente diferente em um só lugar. Nenhum local é tão explosivo quanto lá.
Vindos de obras da Petrobras na Bahia e no Rio de Janeiro, uma parcela expressiva dos operários da Rnest tem vasta experiência sindical. Diferente de grande parte dos operários contratados dentro do Estado, originários do trabalho no campo. Os primeiros dividem casas alugadas e alojamentos. Convivem dia e noite, comungam da saudade da família e se unem para brigar por benefícios iguais aos de seus colegas de profissão empregados fora de Pernambuco, como pagamento de auxílio insalubridade, direito obtido no canteiro do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), por exemplo.
Já os operários locais ressentem-se de não terem folga a cada 90 dias (concedida apenas para quem mora fora, com o objetivo de permitir que ele visite seus parentes). São ainda definidos pela hostil expressão de "ex-cortador de cana". Raramente são mencionados como "ferramentas", alcunha utilizada para identificar quem foi forjado desde cedo na labuta diária da construção civil.
Todo mundo junto e misturado, convivendo na marra, discordando em horas cruciais como a atual. Na semana passada, quando a paralisação forçada explodiu, os sotaques pernambucanos dominavam as críticas: "isso não é movimento, é bagunça" e "sou pai de família e quero trabalhar". No outro lado, "o sindicato é vendido" e "e ex-cortador de cana não sabe negociar" eram repetidas à exaustão por vozes claramente de fora do Estado.
As diferenças culturais, por si só problemáticas, encontraram no contracheque o estopim para o conflito. Profissionais de mesma função, mas de empresas diferentes – são mais de 20 contratos de obras na Rnest – não recebiam os mesmos salários. Um mecânico de um consórcio voltava para casa no final do mês com R$ 1.700 e outro também mecânico com R$ 2.300. A média estimada é de 30% de discrepâncias para vários postos. Foi a deixa para a confusão.
O pavio sempre acende primeiro no Consórcio Conest (formado por Odebrecht e OAS). Foi lá o epicentro do conflito de 2011, quando um operário baiano de 23 anos levou um tiro no rosto, disparado por um segurança do Sintepav-PE, deixando-o com a mandíbula estilhaçada. E, segundo informações extraoficiais, foram os seus funcionários os que, mais uma vez, lideraram a revolta contra o sindicato nas últimas semanas. Isso não ocorre à toa. Lá estão cerca de 4 mil operários, encarregados de erguer o “coração” de R$ 4,5 bilhões da Rnest – duas unidades de hidrotratamento e duas de destilação atmosférica.

Obra sob polêmica. Mas redentora para o Estado (JC, 09/08/2012)

A Refinaria Abreu e Lima (Rnest) é o maior empreendimento individual da história de Pernambuco, com orçamento estimado em US$ 20,1 bilhões. É também a primeira unidade de refino construída pela Petrobras após 20 anos sem novos aportes do setor. Apesar do pioneirismo, a construção carrega um histórico de entraves. Atrasos de cronograma, explosão dos custos, conflitos trabalhistas e denúncias de irregularidades fizeram a própria presidente da Petrobras Maria das Graças Foster disparar, em declaração pública, que a Rnest "é uma história a ser aprendida e não repetida".
O estopim de mais um movimento grevista poderá abrir caminho para novas elevações de custos e atraso no início da operação da refinaria. As empreiteiras vêm pressionando a Petrobras para reajustar os valores dos contratos, apresentando a conta dos prejuízos das paralisações e do preço da mão de obra (que reivindica benefícios inclusive fora da data-base). Com o aquecimento das obras de construção pesada no País, as empreiteiras fazem leilão e vencem a queda-de-braço para ajustar os preços.
Desde o lançamento da pedra fundamental, em setembro de 2005, a Abreu e Lima teve seu orçamento multiplicado por dez, passando de iniciais US$ 2,3 bilhões para US$ 20,1 bilhões. É verdade que o projeto foi redimensionado, mas o custo está três vezes acima na comparação com similares internacionais. O Tribunal de Contas da União apontou irregularidades na obra, com denúncias de sobrepreço. O TCU chegou a pedir a suspensão da construção, mas nada que a intervenção política do então governo Lula não resolvesse.
A data de processamento do primeiro barril de petróleo da Rnest foi empurrada bem para frente na comparação com o calendário inicial. Nos arroubos dos eventos políticos, o diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, afirmou que a inauguração aconteceria em agosto de 2010 para presentear o governador Eduardo Campos, que completaria 45 anos. Pelo novo cronograma anunciado por Graça Foster, a festa vai ficar para depois do aniversário de 49 anos de Eduardo, em novembro de 2014.
Para acelerar a obra, com 57,5% executada, as empreiteiras tiveram que multiplicar o exército de trabalhadores. A previsão era que, no pico da construção, o total de operários chegasse a 30 mil. Hoje, esse número está em 44 mil e poderá alcançar 45 mil ao longo do ano. A Petrobras diz que as construtoras terão que arcar com esses custos, mas os reajustes nos preços dos contratos demonstram que a petrolífera cedeu.
Ontem, o presidente da refinaria, Marcelino Guedes, acompanhou de perto o cenário de guerra. "Conseguimos garantir a segurança das instalações da refinaria e também pedimos reforço da segurança para os profissionais da área administrativa", disse. Apesar de a Petrobras ser a dona da obra, ele afirmou que o conflito precisa ser resolvido entre as empreiteiras e os trabalhadores.

Canteiro da refinaria vira campo de guerra (JC, 09/08/2012)


REFINARIA Nas imediações da principal obra do Estado, tiros, feridos e muito tumulto. Tudo é consequência de uma briga interna
Adriana Guarda - adrianaguarda@jc.com.br, Felipe Lima -flima@jc.com.br 

O clima era de salve-se quem puder. Correria e pessoas se acotovelando para subir nos ônibus das empresas e voltar para casa. Quem não conseguiu deixar o campo de guerra, instalado na manhã de ontem em Suape, assistiu ao confronto. De um lado do front, o Batalhão de Choque e a Polícia Militar (PM) disparando tiros de balas de borracha e bombas de efeito moral. Do outro, operários ateando fogo aos ônibus que restaram no canteiro de obras da Rnest. No final da manhã, a violência deixou um saldo de sete veículos incendiados, vários feridos e dois operários detidos.
A confusão começou depois que a diretoria do Sintepav-PE leu a sentença do TRT decretando a ilegalidade da greve, determinando a volta às atividades e anunciando o desconto dos dias parados. Insatisfeitos, alguns trabalhadores apedrejaram o trio elétrico que servia de palanque. Os sindicalistas precisaram se abrigar dentro do veículo para fugir das pedradas e garrafadas. A polícia reagiu com tiros e começou a correria. Os representantes do sindicato precisaram da escolta da PM e da segurança patrimonial de Suape para deixar a refinaria sem passar pela zona de conflito.
No meio do tumulto, funcionários desmaiaram e foram feridos pelas balas de borracha. Na condição de espectadores, operários fotografavam e filmavam a atuação da polícia e reclamavam da truculência com colegas que não participaram dos atos de vandalismo. “Não tive coragem de descer do ônibus para participar da assembleia. Estou com muito medo. Não sei se venho amanhã (hoje)”, confessou uma armadora de estruturas.
Segundo a advogada do Sinicon, Margareth Rubem, o prejuízo com o incêndio dos ônibus e a depredação de outros tantos foi de aproximadamente R$ 2 milhões. O dono do caminhão que puxava o trio elétrico, José Bezerra, também espera recuperar a perda com o confronto. “Vim fazer um trabalho para ganhar R$ 300 e acabei com uma perda de R$ 3 mil. Espero que o Sintepav-PE assuma o prejuízo”, disse.
O clima de tensão que pairava durante a assembleia tinha odor de álcool. Sequer eram 8h e muitos operários viram no dia atípico uma oportunidade para beber. O saldo de objetos deixados para trás após o conflito incluía garrafas de conhaque de alcatrão, por exemplo. Na semana passada, um grupo de trabalhadores entornava dois litros de vodca, acompanhados de camarão ao alho e óleo. Perto deles, a greve era imposta pela massa e o racha na categoria se escancarava.

Reflexos de um racha sindical

A história se repete em Suape. Pelo segundo ano consecutivo, as obras da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e da PetroquímicaSuape (PQS) se transformam em cenário de guerra. Na manhã de ontem, ao invés de segurar as rédeas do movimento, os representantes do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada (Sintepav) foram apedrejados pelos operários. A assembleia, que deveria terminar com o retorno ao trabalho, acabou com mais um dia de obra paralisada e um saldo de violência e vandalismo (leia matéria ao lado). A situação expõe, mais uma vez, a fragilidade da liderança do Sintepav em Pernambuco. Diante do confronto, as empresas decidiram mandar os funcionários para casa. Hoje, o Sintepav não vai voltar ao canteiro e deixou para cada trabalhador a decisão de encerrar a greve ou arcar com demissões.
Com o racha violento na categoria, o Sindicato Nacional das Empresas de Construção Pesada (Sinicon) resolveu conclamar os operários decididos a cumprir a decisão do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) e encerrar a greve, iniciada desde o último dia 1º e julgada ilegal. Para tanto, solicitaram oficialmente à Secretaria de Defesa Social (SDS) reforço na segurança. “É uma convocatória para os pais de família, para aqueles que não concordam com vandalismo, com essa barbárie. Não fiquem passivos, assumam seus postos de trabalho”, fez o apelo a advogada da entidade, Margareth Rubem. Sem quantificar, ela afirma que um dia de obra parada representa “milhões perdidos” para as empresas. A SDS não informou quantos homens vai disponibilizar hoje, quantos foram mobilizados ontem ou sequer o número oficial de detenções durante o conflito.
Escanteado nas negociações salariais do ano passado, que contou com reforço da Federação e Confederação dos Trabalhadores na Construção Pesada, o presidente do Sintepav, Aldo Amaral, lamentou os atos de vandalismo e afirmou que existe uma disputa política entre as lideranças sindicais."O PSTU, que é ligado ao Conlutas, tenta dividir a categoria, distribuindo panfletos afirmando que Pernambuco tem um dos piores salários do Brasil e pleiteando um reajuste de 15%", destaca.
A Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas) rebateu as denúncias em tom elevado. Declarou apoio "integral" ao movimento dos operários, mas negou ter comandado a paralisação violenta da semana passada e a quebradeira generalizada de ontem. "O Sintepav-PE faz acusações falsas, levianas e mentirosas. O que os trabalhadores querem são melhores condições de trabalho. Tudo que aconteceu foi gerado por insatisfações da base, que está jogada em galpões ou em casas onde moram 10, 20 pessoas amontoadas. Em vez de atender as reivindicações dos operários, o Sintepav-PE é ausente e só faz acordo com as empresas. É um revolta acumulada há muito tempo contra uma entidade que não cumpre o seu papel", endureceu a representante da executiva estadual da CST-Conlutas, Cláudia Ribeiro.
No acordo de convenção coletiva aprovado pelo Sintepav e Sinicon ficou acertado um reajuste salarial de 10,5%, além de 30% de aumento no valor do vale-alimentação e folga nos dias de pagamento. Apesar de considerar o acordo positivo, os trabalhadores alegam que a proposta foi aprovada numa assembleia sem legitimidade, só com uma minoria.
Diante da ferida exposta no maior empreendimento de Pernambuco, o governo do Estado escalou a Secretaria de Articulação Social e Regional para ajudar a apagar o incêndio. Ontem, no começo da noite, o secretário executivo de Articulação e Relações Sociais, Érico Menezes, além da gerência de assuntos estratégicos da pasta, receberam o presidente do Sintepav-PE, Aldo Amaral, para uma reunião. O objetivo é tentar começar a entender o que está ocorrendo no canteiro da Rnest e encontrar formas de mediar a conturbada relação entre sindicato e trabalhadores. O procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho em Pernambuco (MPT-PE), Fábio Farias, voltou a apontar como principal motivo para o conflito uma "crise de legitimidade" do Sintepav-PE perante a categoria.

sábado, 4 de agosto de 2012

Petrobras aguarda garantias da PDVSA

(do JC-Economia, 02/08/2012)

RIO e RECIFE - A presidenta da Petrobras, Graça Foster, disse ontem que a estatal ainda acredita na possibilidade de que a PDVSA participe como sócia da Refinaria Abreu e Lima e que vai aguardar que a estatal venezuelana de petróleo consiga garantias bancárias necessárias à composição societária do empreendimento junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Até agora, todo o investimento foi realizado pela Petrobras. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, no entanto falou do cronograma da refinaria anteontem como se já fosse um dos investidores.
A Petrobras assumiu empréstimo de quase R$ 10 bilhões junto ao BNDES em agosto de 2011 para execução do projeto e a PDVSA deveria assumir 40% deste total assim que a estatal venezuelana tivesse garantias bancárias aprovadas. O custo total da refinaria é R$ 26 bilhões.
O assunto foi discutido em reunião realizada no início da semana, em Brasília, com o presidente da PDVSA, Rafael Ramirez. Na oportunidade, Graça Foster convidou Ramirez para visitar as obras. Pelas promessas iniciais do ex-presidente Lula, a refinaria deveria estar pronta em 2010. O orçamento também é um problema. Começou em US$ 2 bilhões. Hoje, já passa de US$ 20 bilhões.
"Eu manifestei ao presidente da PDVSA, que foi a pessoa com quem eu mais conversei que a gente gostaria que eles visitassem a refinaria. É uma obra enorme. São 42 mil pessoas trabalhando e o empreendimento já tem 60,5% das atividades físicas concluídas", disse Graça.
Sobre a sociedade no empreendimento, no entanto, ela admitiu que a estatal venezuelana ainda tem “um trabalho grande a fazer, que é em relação às garantias junto ao BNDES.”
Questionada sobre o tamanho da paciência da Petrobras em relação à espera de uma definição sobre a sociedade, a presidenta disse que o importante é fazer um bom negócio.
A presidenta da Petrobras ressaltou que na hora de sentar com os executivos da PDVSA para discutir "objetivamente" a entrada no empreendimento, todos os custos serão colocados sobre a mesa.

Mais confusão na Refinaria Abreu e Lima (do JC-Economia, 02/08/2012)

NEGOCIAÇÃO SALARIAL - Insatisfeitos com um acordo entre sindicato e empresas, trabalhadores pararam as atividades ontem
Atrasada, com orçamento estourado e classificada pela presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, como uma "istória para ser aprendida e não repetida", a Refinaria Abreu e Lima (Rnest) enfrentou ontem mais um percalço no seu longo processo de virar realidade. Os cerca de 44 mil trabalhadores que atuam na construção do empreendimento voltaram para casa mais cedo e a construção parou. Segundo as informações, por volta das 8h30, um grupo de operários do Consórcio Conest (formado pelas empresas Odebrecht Engenharia e OAS) iniciou uma desmobilização em massa. O motivo foi a insatisfação com a convenção coletiva assinada na terça-feira passada. As denúncias são de que ela foi fechada sem a anuência da maioria, em uma manobra irregular do sindicato trabalhista numa assembleia esvaziada (ver matéria ao lado).O movimento ganhou força rapidamente e tomou conta de todo o canteiro de obras da Rnest. Às 11h30, ninguém mais estava trabalhando, e sim, tomando o rumo de casa de ônibus ou a pé. A polícia, incluindo o Batalhão de Choque, acompanhou tudo. Não houve confronto. A parada de ontem atrapalha ainda mais o prazo de conclusão da obra, que foi adiado novamente em junho deste ano. Se cumprisse o cronograma inicial, de 2005, a Rnest estaria 94,5% concluída. O status oficial, entretanto, é de 57,5%. Hoje, o empreendimento está no seu pico de construção e a primeira etapa projetada para iniciar a operação em novembro de 2014.
As greves formam um dos maiores problemas da Petrobras para tirar a Rnest do papel, juntamente com relicitação de contratos. Sem contar que de 2009 a 2011 foram levantadas suspeitas de irregularidades pelo Tribunal de Contas da União (TCU), e o imbróglio ainda não resolvido da sociedade com a estatal venezuelana PDVSA.
Os trabalhadores se revoltaram contra o próprio sindicato da categoria, o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplenagem no Estado de Pernambuco (Sintepav-PE). Ontem, data-base do setor, foi apresentado um acordo assinado que previa aumento de 10,5% nos salários. Mas, a equiparação dos rendimentos – há queixa de que trabalhadores de mesma função, mas de consórcios de empresas diferentes, têm diferenças de salários – só ocorreria em 60 dias, o que é rejeitado pela maioria.
O problema poderá provocar pressão nos preços dos contratos, já que uma equiparação generalizada iria provocar desequilíbrio nas contas das empresas e cobranças de reajuste à Petrobras. A Rnest foi inicialmente orçada em cerca de US$ 2 bilhões. Já no Plano de Negócios 2012-2016 da estatal brasileira, o custo total do empreendimento foi estimado em US$ 20,1 bilhões.
Em nota oficial, o Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon), que representa as construtoras contratadas para erguerem a Rnest, descreveu a paralisação de ontem com palavras como "atos de vandalismo" e "ameaça física". Apesar de garantirem que não houve em nenhum momento violência explícita, operários de diversas empresas informaram que, munidos de pedaços de pau e canos de ferro, os seus companheiros insurgentes forçavam a adesão à paralisação. "As empresas representadas pelo Sinicon analisam a possibilidade de demissão e outras medidas legais, visto que as negociações já foram encerradas e a convenção já foi assinada junto ao sindicato da categoria", disse a entidade patronal na nota. Já a Petrobras limitou-se a informar "que vai avaliar possíveis impactos após a retomada dos trabalhos e que implementará medidas mitigadoras, se necessário".

Briga envolve sindicato
Em menos de um ano e meio, o Sintepav-PE entrou, mais uma vez, em atrito com a classe que representa, mais especificamente os trabalhadores das obras da Rnest. Em março de 2011, a desavença chegou a ponto de um operário do Consórcio Conest ter sido baleado no rosto, em um conflito ocorrido em uma das portarias do empreendimento. Investigação policial na época atestou que o disparo saiu da arma de um segurança do Sintepav-PE. Afora o inquérito policial, a confusão gerou uma paralisação de 15 dias na obra do “coração” da Rnest- duas Unidades de Hidrotratamento (UHDT) e duas de Destilação Atmosférica (UDA), orçadas em R$ 4,5 bilhões.
Agora, as acusações, feitas por operários de empresas diferentes que trabalham no canteiro da Rnest, são de que a convenção coletiva foi aprovada em uma assembleia na última sexta-feira sem a maioria dos trabalhadores. Tanto que, quando o documento foi apresentado oficialmente ontem à categoria, deu-se início à revolta. Em nota, o Sintepav-PE garantiu que a assembleia aconteceu com a maioria dos operários. “Lembrando que neste momento é preciso ter responsabilidade para que os distúrbios e prejuízos provocados aos trabalhadores por elementos estranhos à categoria – como verificou-se em março de 2011 – não voltem a acontecer”, acrescentou o texto.
A conquista de um reajuste de 10,5% chegou a ser alardeada pela entidade como “histórica”. Isso porque, durante as negociações, as empresas estavam dispostas a conceder um aumento de apenas 5%. Entretanto, o ponto de discórdia é a equiparação dos salários. Como cada parte da Rnest é construída por um consórcio de empresas diferentes, alguns trabalhadores que exercem a mesma função acabam vendo um colega com o contracheque bem mais gordo. Um exemplo apresentado pelo próprio Sintepav-PE é o dos mecânicos. Uns recebem R$ 1.600 enquanto outros chegam a ter vencimentos de R$ 2.200.
O prazo dado para equalização foi de 60 dias na convenção, mas os operários acham que ele é muito longo. Acusam ainda algumas empresas de já estarem desmobilizando seus quadros, o que faria com que a medida fosse inócua.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Hugo Chávez confirma refinaria em 2014





Do JC - Recife-PE, 01/08/2012


BRASÍLIA - O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, assegurou ontem que as atividades da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, terão início em 2014. De acordo com Chávez, o assunto foi tratado durante encontro com a presidente Dilma Rousseff pela manhã no Palácio do Planalto. O líder venezuelano afirmou que pretende visitar as obras da refinaria o mais breve possível.
"À medida que o projeto segue, estamos solucionando problemas que vocês conhecem. Entrará em atividade em 2014, falta pouco. E o processamento será de 230 mil barris diários", afirmou Chávez após participar de almoço com os presidentes Cristina Kirchner (Argentina), José Mujica (Uruguai) e Dilma Rousseff no Itamaraty.
Questionado se a Venezuela vai promover investimentos nas obras da refinaria, Hugo Chávez assegurou que o governo venezuelano já está fazendo isso.
A chegada de Chávez ao Palácio do Planalto, com quase uma hora de atraso, foi conturbada. Ele quebrou o protocolo, pedindo para subir a rampa do Palácio do Planalto para encontrar Dilma. Tradicionalmente, autoridades estrangeiras usam a rampa apenas em visitas de Estado - que incluem audiências no Executivo, Legislativo e Judiciário - mas não há regra rígida que impeça o ritual em visitas oficiais. Pela programação, os três líderes entrariam pelo acesso leste do Planalto. Diante do pedido de Chávez, no entanto, Dilma determinou que ele, Mujica e Cristina teriam o privilégio. Sorridente, Chávez cumprimentou a brasileira com beijos no rosto.
Logo na chegada ao Palácio, os dois presidentes assinaram contrato de venda de seis jatos Emb 190 da Embraer à Venezuela. O documento prevê que o negócio pode incluir mais 14 aeronaves, um investimento entre US$ 270 milhões e US$ 900 milhões. A entrega dos aviões será feita até o fim do ano. Na cerimônia, Dilma e Chávez receberam da Embraer miniaturas dos Emb 190.