REFINARIA Petrobras desiste de parceria com venezuelanos e cortará custos na Abreu e Lima
A novela
que se estende há 10 anos acabou. A Petrobras desistiu de esperar pela
Petroleos de Venezuela S.A (PDVSA) para integrar a sociedade na Refinaria Abreu
e Lima (Rnest), em construção no Complexo de Suape. A petrolífera venezuelana
teria 40% de participação e a estatal brasileira os 60% restantes. Sem acordo
para a criação de uma empresa binacional, a Rnest deixará de ser uma
subsidiária para se transformar em uma unidade de negócios. Na próxima
segunda-feira, durante uma assembleia extraordinária, a Petrobras vai aprovar a
incorporação da refinaria pernambucana dentro do Programa de Otimização de
Custos Operacionais (Procop). Além da Rnest, a lista também inclui o Complexo
Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e a Sociedade Fluminense de Energia
(SFE).
Na
prática, a incorporação da Rnest vai permitir um enxugamento da estrutura e a
redução de custos. Hoje, a refinaria conta com o organograma completo de uma
empresa, com presidente e diretores, conselhos de administração e fiscais
próprios e obrigação de publicar balanços separados. Pela nova estrutura, o
empreendimento terá um gerente geral que responderá à Petrobras. Procurado pela
reportagem do JC, o presidente da Rnest, Marcelino Guedes (no cargo desde
agosto de 2008), informou que qualquer assunto relacionado à PDVSA deve ser tratado,
a partir de agora, pela área corporativa do sistema Petrobras. Por meio de sua
assessoria de comunicação, a estatal disse que não iria se pronunciar sobre a
saída da PDVSA e a incorporação da Rnest.
Em
conversas informais com a imprensa, Marcelino sempre deixou escapar que a
missão dele aqui é construir e entregar a refinaria e depois voltar para o Rio
de Janeiro. Funcionário de carreira da Petrobras, o engenheiro carioca atuava
como diretor da Transpetro antes de assumir a Rnest. No mercado local,
Marcelino é reconhecido como o mentor da estratégia de aumentar a participação
das empresas locais e dos pernambucanos no empreendimento. As especulações dão
conta que o cargo de gerente geral será ocupado por outro executivo.
Sócio da
fluminense A&P Consultoria e especialista em petróleo e gás, Arthur
Pimentel, acredita que a mudança será boa para o Brasil e para Pernambuco no
médio e longo prazos. "Isso faz parte do plano da Petrobras de ter uma
gestão corporativa mais competitiva. Além de reduzir custos, essa incorporação
vai aumentar a velocidade das decisões e a ingerência da Petrobras sobre o
empreendimento", observa. Do ponto de vista do projeto, a previsão é que
sejam necessárias algumas adaptações. "A refinaria está orientada ao
processamento de petróleo pesado. As As possíveis adaptações não terão muito
mistério, porque o óleo venezuelano também é pesado", complementa
Pimentel.
Em abril,
o diretor de Abastecimento da Petrobras, José Carlos Cosenza, disse que caso
fosse confirmada a desistência da PDVSA, a adaptação necessária custaria algo
em torno de 5% do total do projeto, estimado hoje em US$ 17 bilhões. Isso
significaria um acréscimo de US$ 850 milhões no valor global.
Um
executivo da Petrobras confirma que a Rnest vai se transformar em uma unidade
de negócios, mas rebate a informação de que a PDVSA estaria fora. Diz que a
mudança de modelo de gestão não impede o ingresso da petrolífera venezuelana.
Apesar da possibilidade, a volta ao projeto está descartada. A empresa está em
crise, sem conseguir realizar novos investimentos no parque de refino de seu
próprio país, a política nacional está se reacomodando após a morte do
presidente Hugo Chávez em março desse ano, a Petrobras não aceitou receber a
parte da Venezuela em Petróleo e a PDVSA não conseguiu oferecer as garantias ao
BNDES para entrar como sócia.