domingo, 25 de agosto de 2013

SUAPE: Indústria do petróleo é alvo de críticas

Do JC/Economia, 25/08/2013



O caminho do crescimento trilhado pela indústria de petróleo, gás e offshore é também o principal ponto das críticas contra o modelo de desenvolvimento econômico implantado no Litoral Sul. "O petróleo é uma indústria suja e do século passado", diz o professor da UFPE Heitor Scalambrini, especialista em energia. "Não existe risco zero em engenharia", argumenta, citando um estudo realizado pela Academia de Ciências dos Estados Unidos. "Atividades navais são responsáveis por 33% dos vazamentos de petróleo no ambiente marinho", alerta. Para ele, os tubarões na praia de Boa Viagem são apenas uma pequena parte dos efeitos colaterais de Suape. Os riscos de acidentes ecológicos tendem a crescer, à medida que a movimentação de óleo aumente no litoral pernambucano, quando a Refinaria começar a operar, no fim de 2014.

O professor classifica os estaleiros navais - a exemplo do Atlântico Sul, que já entregou dois navios, o Promar e o CMO, em construção - como uma indústria suja. Também critica a forma como a indústria de Suape alimenta sua produção. "O Brasil começou com leilões de termoelétricas (a partir do apagão de 2001) que geram energia a partir do óleo combustível", salienta. Além da TermoPernambuco, que faz parte desse sistema de segurança energética, a refinaria vai passar a operar outra térmica naquela região. Será a quarta. "Juntas, a TermoPernambuco, a UTE TermoCabo, a Suape II e a nova termelétrica da refinaria vão jogar mais de mil toneladas de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera quando em funcionamento", calcula.
A economista Tânia Bacelar, ressalva, no entanto, que esse é um problema "positivo". "É melhor ter essa indústria do que não tê-la", opina. Ela lembra que é importante para Pernambuco ter entrado na cadeia produtiva escolhida pelo Brasil para se desenvolver nos próximos anos e cujo o maior trunfo são os campos do Pré-sal. Além disso, o desenvolvimento industrial tem repercussões em toda a economia, como no setor de serviços.

A sua empresa, a Ceplan, presta consultoria para Suape, assim como inúmeros outros escritórios locais desenvolvem trabalhos para as indústrias que lá chegam. "Se não fosse isso, estaríamos buscando clientes em outros Estados", completa. Tânia Bacelar reconhece que ainda há muito a ser feito com relação à preservação ambiental daquela região, e destaca a importância de a sociedade ficar de olho nas atividades desenvolvidas no território. As recentes manifestações populares que aconteceram de forma pacífica no Recife não chamaram a atenção das autoridades sobre esse aspecto ambiental.
Com relação ao tema social, a professora destaca que as indústrias e os esforços de educação que estão em implantação, tanto do Estado como da própria indústria, podem salvar os filhos dos trabalhadores da cana, que durante séculos foram condenados à ignorância e à miséria da cultura canavieira. A nova geração da Mata Sul tem hoje, finalmente, uma opção.

Suape diante do desafio ambiental

Do JC / Economia, 25/08/2013



Demanda por preservação dos recursos naturais torna Porto mais receptivo ao diálogo e à busca de um modelo de desenvolvimento sustentável - Leonardo Spinelli -lspinelli@jc.com.br

Como fazem semanalmente às segundas-feiras, os pescadores da Colônia Z8 em Gaibu, praia do Cabo de Santo Agostinho, se reuniram para mais um debate sobre seu ofício. Nesse dia, início de agosto, a pauta tinha um quê de novidade. Estavam lá para debater propostas de convivência e compensação de impacto ambiental apresentadas ao Complexo Portuário e Industrial de Suape. Como contrapartida pelas obras de acesso de navios, o complexo é obrigado a propor soluções para evitar desequilíbrios ambientais. A reunião simboliza uma nova relação entre desenvolvimento econômico e preservação de ecossistemas. Não cabe mais aquele velho debate em que um e outro não se misturam. Daqui para frente, é planejar o principal instrumento do desenvolvimento industrial de Pernambuco - Suape - levando em conta aspectos que não podem ser descartados, todos eles relacionados ao meio ambiente.

Uma das ideias discutidas naquela reunião era instalar arrecifes artificiais, proposição que agrada à maioria dos pescadores. Os objetos afundados se transformam em berçários de peixes, cada vez mais raros por ali. A outra é organizar o chamado fundeio dos navios, definindo locais específicos para as embarcações estacionarem enquanto esperam sua vez de entrar no porto. Para os pescadores, gente que vive há décadas naquela região, Suape é um vizinho tão poderoso quanto incômodo. Suas atividades são estratégicas para a economia de Pernambuco, mas afastaram pescados e turistas da região. "Agora só tem funcionários por aqui e eles comem nas fábricas, não os nossos peixes", diz o presidente da Colônia, Laílson de Souza. Para os pescadores, a entrega do estudo marca uma mudança na postura de Suape, hoje mais aberto ao diálogo. Seria fruto também do amadurecimento deles próprios.

Há seis anos, o complexo intensificou ações, dinamitando corais que serviam de berçário para lagostas - pescado com rigorosas proteções à pesca. O interesse foi o de abrir caminho para navios cada vez maiores. Também aterrou mangue para instalação de indústrias. São efeitos colaterais de um "progresso brutal", como definem eles. Mas são também reflexos do desenvolvimento que gera renda e emprego para muitos.
Os pescadores aprenderam que não adiantava ficar parado e passaram a ser mais aguerridos em suas posições. Estudaram a região, passaram a se informar sobre o meio ambiente, aliaram-se a ambientalistas, buscaram a Justiça e até mesmo a ONU, em 2011, para denunciar desmandos.

"Suape não para", diz o pescador Ednaldo Rodrigues, conhecido como Nal. A frase resume o que os pescadores descobriram na prática. Não há como impedir um projeto tão importante para a economia do Estado, que já atraiu 105 indústrias para o local, 80 delas a partir de 2007. Já não há mais tempo para questionar o modelo de desenvolvimento econômico pensado para aquela região estuária, que, para o bem o para o mal, terminou com a vocação natural do turismo e da cultura da pesca e agricultura. Prevaleceu a indústria. Agora é brigar para que Suape e o governo cumpram suas obrigações socioambientais. "Não existe desenvolvimento sem sustentabilidade", completa Nal. A ajuda de custo de R$ 400 mais uma cesta básica de R$ 70 que os pescadores recebem de Suape não diminuiu a vontade de buscar novas soluções.
Para os agricultores que vivem da terra, o clima ainda parece não ter mudado. O temor de que seu pedaço de chão seja considerado de interesse estratégico é uma constante. São 7 mil famílias que residem nas terras de antigos engenhos daquela parte da Mata Sul do Estado, 2,6 mil delas vivendo em áreas que são consideradas por Suape como zonas industriais ou de proteção ecológica. Muitas estão sendo obrigadas a sair. As imagens de tratores derrubando casas, com apoio da polícia, ainda estão bastante vivas na cabeça dessas pessoas, apesar de a situação ter se acalmado. "Estão levando em banho-maria", diz o presidente da Associação dos Agricultores do Engenho Tiriri, Edvaldo Nascimento.

Octagenário, o agricultor Luiz Abílio da Silva morou a maior parte de sua vida no local, cortando cana e plantando roçado, de onde tirava boa parte de sua alimentação diária. Foi desapropriado e recebeu R$ 60 mil, que ele considera insuficiente.

A diretoria de Suape diz que conseguiu avanços, citando parcerias de financiamento habitacional com a Caixa de R$ 258 milhões para construção de 2,6 mil casas (o contrato deve ser assinado em outubro) e construção de assentamentos (121 famílias foram para Barreiros). "De 2011 para cá, o número de acordos com as famílias aumentou 22%. Assinamos 571 deles", pontua o vice-presidente de Suape, Caio Ramos.
O principal problema em questão é que os agricultores entendem que a terra pertence a um loteamento do Incra, com registro para reforma agrária assinado em 1970. Suape, por sua vez, entende que comprou a área 10 anos depois e, portanto, as indenizações são calculadas sobre o valor dos imóveis construídos e não sobre o valor milionário das terras. Para pessoas como o agricultor José Silvino da Silva, do engenho Titiri, hoje considerado área de Suape, a economia em larga escala, no entanto, é um monstro de dentes afiados. "Não somos contra o desenvolvimento de Pernambuco nem do Brasil. Só queremos uma indenização digna", resume

sábado, 3 de agosto de 2013

Erro bilionário na refinaria


JC/Economia, 30/07/2013
TCU questiona projeto básico da Petrobras que teria gerado R$ 2 bi em aditivos no empreendimento

Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu que a Refinaria Abreu e Lima, no Complexo de Suape, soma quase R$ 2 bilhões em faturas de serviços não previstos originalmente, mas necessários, por causa de erros da Petrobras. Em acórdão aprovado no último dia 10, o TCU entende que falhas no projeto básico da refinaria causaram um efeito cascata de erros nas diversas etapas da construção, gerando aditivos já aprovados que somam R$ 943 milhões, fora R$ 1 bilhão em cobranças ainda sob análise da estatal.
Para o TCU, as falhas começaram no planejamento da obra, uma sucessão de erros que, além de onerar as fases seguintes, atrasou todo o projeto e fez a petrolífera pagar mais para acelerar a construção. As obras começaram em 2005. Os números atuais são de entregar a primeira etapa em novembro de 2014 e a segunda em maio de 2015, com orçamento de R$ 35,8 bilhões. A refinaria é a primeira da Petrobras em 30 anos. Ela terá capacidade para 230 mil barris de petróleo por dia e vai fabricar diesel e gás de cozinha, entre outros.
Segundo o relator do processo no TCU, ministro Benjamin Zymler, as falhas começaram na falta de estudos adequados para a refinaria. O chamado "solo mole", por exemplo, exigiu muito mais serviços no projeto, da terraplenagem a estruturas metálicas. Também houve uma soma de fatores aliados aos erros. Alguns contratos precisaram ser relicitados, um processo que durou 9 meses. Como é de amplo conhecimento na região, o Grande Recife tem anualmente períodos de fortes chuvas e a falta de uma drenagem adequada, ainda que temporária, provocou alagamentos no terreno e o desmoronamento das margens de valas construídas para abrigar tubovias, enormes tubulações para o petróleo circular abaixo do térreo da refinaria.
As falhas, relata Zymler, geraram aditivos em quase todos os contratos avaliados. Um dos exemplos do TCU é justamente o contrato de tubovias, que teve 586% mais estacas que o previsto originalmente para fixar as tubulações, um gasto adicional de R$ 150 milhões, descreve o relator.
"A inadequação dos projetos das obras, principalmente com relação à definição da solução da fundação, gerou a necessidade de uma revisão dos projetos após a assinatura dos contratos, a qual proporcionou atraso no início dos serviços e no prazo de conclusão das obras. Por essa razão, houve significativos acréscimos nos valores dos contratos em análise, cujo propósito foi minimizar os impactos de tal atraso no cronograma de partida do empreendimento", descreve o relatório de Zymler, aprovado pelos demais ministros.
Ainda de acordo com o TCU, a "aceleração" da obra, para compensar os atrasos, custou R$ 501 milhões. Devido à gravidade dos problemas, o TCU estipulou prazos para não só ouvir a Petrobras, mas também para identificar os responsáveis pelos projetos básicos deficientes.
A Petrobras e o TCU têm um acumulado de desentendimentos envolvendo a Refinaria Abreu e Lima.
Este ano, o Tribunal analisou R$ 12 bilhões em contratos do projeto, mas auditorias do tribunal têm apontado irregularidades desde 2009, um suposto sobrepreço total de R$ 1,5 bilhão.