sábado, 24 de março de 2012

Desenvolvimento social em Suape preocupa


JC / Economia, 24/03/2012

REFINARIA Desde 2009, Petrobras e UFPE discutem projeto para minimizar impactos da migração provocada pelo empreendimento, que amplia demandas por saúde e moradia

A boa notícia dos 3 mil empregos na Refinaria Abreu e Lima também é, em outra perspectiva, motivo de preocupação social. O número de 43 mil trabalhadores na obra significa trazer para a região do entorno de Suape, o equivalente a metade da população do município de Ipojuca. Desde 2009, a Petrobras e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) discutem o projeto Diálogos para o Desenvolvimento Social em Suape, mas só agora a iniciativa começa a sair do papel.

A proposta, dividida em oito ações, é minimizar os impactos negativos da migração provocada pelo empreendimento, que aumenta as demandas sociais, desde moradia, saneamento e serviços de saúde, passando por violência sexual, gravidez na adolescência e violação de direitos.

Quando o projeto foi elaborado, em 2009, o número de trabalhadores projetado para a obra era de 20 mil pessoas. Agora esse número mais que dobrou e ainda pode crescer. O ideal era que o programa estivesse em plena operação exatamente agora, quando a obra vai entrar no seu pico de mão de obra, mas foi difícil unificar a linguagem jurídica de tantas instituições, observa o responsável pelo projeto Diálogos no Instituto Papai, Ricardo Castro.

Nos bastidores, a informação é que uma das dificuldades do projeto foi encontrar quem financiasse a iniciativa. Na obra da Refinaria Abreu e Lima, a Petrobras é obrigada a aplicar R$ 130 milhões (0,5% do valor total do investimento, que é de R$ 26 bilhões) em ações ambientais, mas não está previsto nada para a área social. Por isso foi preciso buscar parcerias com as empreiteiras que têm contrato na obra e até com a PetroquímicaSuape (empreendimento que também pertence à Petrobras, mas tem recursos para usar na área social).

Apesar de serem as principais responsáveis pela migração de trabalhadores, alojando operários de todos os Estados do Brasil para tocar as obras, muitas das empreiteiras não se convenceram a financiar o projeto Diálogos. Não é difícil perceber o aumento das demandas sociais nos municípios do Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, que recebem a influência direta do empreendimento. Alojamentos gigantes de trabalhadores se multiplicam na região e casas de veraneio e pousadas se transformaram em repúblicas de trabalhadores.

Uma das primeiras regiões a serem beneficiadas pelo projeto Diálogos será o balneário de Gaibu, no Cabo. O presidente da associação local de moradores, Crélio José da Silva, tem se queixado que a região virou uma "terra sem lei". Os nativos e os veranistas sumiram e para o lugar deles chegaram os forasteiros, diz.

A previsão é que a partir deste mês comecem as ações de pesquisa e contratação de profissionais para o projeto, que tem duração de dois anos. (A.G.)

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