domingo, 11 de março de 2012

Empresa local à margem da Petrobras

JC/Economia, 11/03/2012
NEGÓCIOS Existem em Pernambuco cerca de 8 mil empresas do setor industrial. Apenas 99 são fornecedoras da estatal de petróleo
Adriana Guarda - adrianaguarda@jc.com.br

Que empresa não quer entrar para o time de fornecedores da Petrobras e turbinar seu negócio com um cliente desse porte? Mas é preciso percorrer um longo caminho até atender às exigências da estatal e exibir, como um merecido troféu, o chamado Certificado de Registro de Classificação Cadastral (CRCC). Ele é o passaporte para começar a vender produtos e serviços à petrolífera. Em Pernambuco, apenas 99 empresas conseguiram a certificação. O número é pequeno, diante de uma base de 8 mil companhias somente no setor industrial.

A necessidade de inserir as empresas pernambucanas como fornecedoras da cadeia de petróleo e gás, naval e offshore é repetida como um mantra entre as lideranças e empresariais e o governo do Estado, mas essa inserção se dá num ritmo lento. Desde 2005, a Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe) criou uma Divisão de Petróleo e Gás. Dois anos depois, surgiu no Estado a RedePetro, comandada pelo Sebrae.

“O primeiro desafio é enfrentar a questão cultural. Pernambuco tomou um susto com a estreia desses novos setores no Estado e demorou a cair a ficha. Apesar de a RedePetro ter sido lançada há cinco anos, ainda estamos catequizando os empresários e engatinhando como fornecedores”, dispara o gestor do Programa de Petróleo, Gás, Naval e Energia do Sebrae, Paulo Magalhães.

A RedePetro é uma associação de empresas que querem se qualificar para virar fornecedoras da Petrobras. A rede existe em 16 Estados onde a Petrobras tem operações. O presidente da RedePetro em Pernambuco, Otávio Carvalho, diz que a entidade conta hoje com 68 associados. São empresas dos mais diversos setores, que vão de confecções, passando por fretamento de transporte, caldeiraria, metalmecânica e tantos outros.

Apesar de existir desde 2007, até agora, apenas 8 associados conseguiram obter o CRCC e outras duas a certificação de registro local. A diferença entre as duas é que o CRCC permite o fornecimento de bens e serviços em todo o território nacional, enquanto a outra se limita ao âmbito do Estado. A diferença também está na complexidade, que é maior para o CRCC.

O presidente da RedePetro concorda que o número de empresas certificadas ainda é pequeno, mas afirma que é necessário um longo processo de qualificação das empresas para se enquadrar às exigências e conseguir fornecer. A meta da rede é num intervalo de médio prazo (que eles não quantificam) pelo menos 50% das empresas da rede consigam a certificação.

Certificação é alvo de crítica
No final do ano passado, o Conselho de Administração da Petrobras aprovou a política de conteúdo nacional da companhia. A proposta é aumentar a participação das empresas brasileiras como fornecedoras. No ano passado, o cadastro corporativo de fornecedores totalizava 5.300 empresas qualificadas. O número representa um crescimento de 10% na comparação com o ano anterior e a expectativa para 2012 é avançar sobre esse percentual. Entre 2003 e 2011, o índice de contratação de empresas brasileiras nos projetos de petróleo e gás da companhia saltou de 57% para 80%.

Em Pernambuco, a Petrobras inaugurou, em setembro último, um Posto de Atendimento Fixo (PAF) para atender usuários ou candidatos a ingressar no cadastro. Além desse posto, o Sebrae também mantém uma unidade na sua sede. Apesar do interesse da Petrobras de aumentar o rol de fornecedores, muitas empresas reclamam das exigências para obter o Certificado de Registro de Classificação Cadastral (CRCC). O processo demora pelo menos um ano.

O caminho é longo. As empresas precisam passar por cinco critérios de avaliação, que mapeiam toda a companhia, desde aspectos econômicos, legais e técnicos, passando por questões de saúde, meio ambiente, segurança operacional e gestão, explica o gestor do Programa de Petróleo, Gás, Naval e Energia do Sebrae, Paulo Magalhães.

O CRCC não garante nada. Minha empresa atendeu todas as exigências faraônicas para conseguir o certificado e quando ia fechar o contrato a Petrobras disse que a nossa certificação não servia para o produto que queríamos vender. Assim fica difícil. É um grau de dificuldade muito grande, diz um empresário que preferiu não se identificar, com receio que a queixa dificulte as negociações com a companhia.

Na avaliação do presidente do Sindicato da Indústria Metalmecânica de Pernambuco (Simmepe), Sebastião Oliveira, circulam duas versões no Estado sobre o programa de fornecimento para a Petrobras. A dificuldade de obter o cadastro é inegável, porque o nível de exigência é alto, mas sobre quem tirou o cadastro não conseguir fornecer, cada empresa conta a sua história, diz.

Quem comemora a obtenção do certificado é a microempresa WT, que fornece serviços de manutenção de redes elétricas de alta tensão. O empresário Márcio Bourbon conta que demorou oito meses para conseguir a certificação. A boa notícia é que com o CRCC a empresa conquista um padrão nacional e até mundial de fornecimento, analisa.

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