Estatal diz que o problema é entre consórcios e trabalhadores, mas
sua participação, como contratante, é essencial
Diante do completo desgaste nas negociações entre empresas e
54 mil trabalhadores das obras da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e
PetroquímicaSuape (PQS), começa a defesa para que a Petrobras interceda no
problema. A estatal, contratante das construtoras que erguem os dois
empreendimentos, foi a única a não participar nas tentativas de resolução das
greves que assolam os canteiros desde o começo do ano passado.
Até o ministro do Trabalho e Emprego, Brizola Neto, veio pessoalmente a
Pernambuco em um esforço para solucionar o caos que se instaurou nos dois
maiores investimentos do Complexo de Suape. Entretanto, a Petrobras ora adota o
completo silêncio ora opta pelo afastamento "diplomático".Na última quarta-feira, logo depois de um confronto entre o Batalhão de Choque da Polícia Militar e trabalhadores e sindicalistas, o presidente da Rnest, Marcelino Guedes, apareceu no local e frisou que o problema era entre construtoras e operários.
"Nós conversamos todos os dias com as empresas contratadas e a orientação é manter o canal aberto com os trabalhadores", afirmou, em tom político, acrescentando que "nossa relação contratual é com as empresas".
Na opinião da economista Tânia Bacelar, o fato de terem um contratante em comum, no caso a Petrobras, deveria ser encarado como ponto positivo nos esforços para resolução dos problemas. "A saída é essa. A empresa pode dar algum apoio na negociação", comentou. Rnest e PQS são investimentos cruciais para o desenvolvimento econômico de Pernambuco. Ambas estão atrasadas segundo o cronograma inicial e sofreram reajustes em seus orçamentos.
Equiparação é a bandeira dos operários
Estopim da atual greve, que segue desde o dia 30 de outubro
sem sinalização de final, a equiparação salarial entre funcionários de mesma
função, mas empresas diferentes, encontra inúmeras resistências. A maior delas
é da Petrobras, que, nos bastidores, bateu o pé para não conceder novos
reajustes aos contratos, especialmente depois que o Tribunal de Contas da União
(TCU) fechou o cerco às elevações no orçamento da Rnest, multiplicado por dez
desde 2005, sendo hoje estimado em R$ 26 bilhões.
Questionado sobre a possibilidade de pressão das empresas por mais aumentos,
Marcelino Guedes despistou: "Isso é depois. Não vou pensar sobre
hipóteses. Isso nós não avaliamos agora". Na prática, as construtoras
descumpriram a convenção coletiva que determinava o nivelamento entre os
salários após a realização de um estudo técnico em 90 dias, contados a partir
do dia 1º de agosto. Isso fez explodir a segunda paralisação neste segundo
semestre de 2012 na Rnest e PQS.Em defesa, as construtoras alegam que o levantamento Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada (Sintepav-PE) não contou com a participação delas e que não foi levado em conta questões como tempo do funcionário na empresa, fator que eleva os vencimentos. Na ponta do lápis, o resultado do estudo assustou. Há diferenças de até 47% nos salários e a equiparação pelo teto, defendida pelo Sintepav-PE, elevaria a patamares jamais cogitados os custos com pessoal - principal gasto das empresas.
Enquanto as negociações estavam abertas, no começo desta semana, chegou-se a discutir a elaboração de uma média entre os salários das 32 categorias profissionais nas obras e adoção do resultado como novo piso nos canteiros. A proposta não vingou.
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