quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O Estado como refém (Greve da Refinaria Abreu e Lima)

Liderados pelo sindicato, operários descumprem ordem judicial, mantêm greve e entram em confronto com a PM - Felipe Lima - flima@jc.com.br (JC/Economia, 15/11/2012)




Embate com o Batalhão de Choque da Polícia Militar, um "carnaval fora de época" pelas avenidas do Complexo de Suape e uma greve sem data para terminar. Teve de tudo na assembleia de ontem dos operários da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e PetroquímicaSuape (PQS). Parados há 16 dias, os trabalhadores expuseram o desgaste completo nas negociações ao decidirem manter uma paralisação que foi julgada ilegal pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 6ª Região. Sem mão de obra qualificada, o Estado virou refém dos frequentes movimentos em Suape. Com orçamentos estourados, obras cruciais para Pernambuco são postergadas em função da desordem institucional.
Operários com poder de pressão nunca antes visto cobram mais e mais. O sindicato da categoria que em movimentos anteriores não tinha controle sobre a massa, desta vez tomou as rédeas. Mas em vez de cumprir a ordem judicial e mandar os operários de volta ao trabalho, resolveu realizar uma assembleia para decidir se a sentença do TRF deveria ou não ser obedecida. E as empresas, sem capacidade de barganha porque não têm como substituir mão de obra tão instável, tentam mostrar força. O propalado desenvolvimento econômico de Pernambuco fica ameaçado.
O movimento de ontem ainda institucionalizou um confronto político entre sindicalistas e as autoridades policiais do Estado. Por volta das 7h, a assembleia sequer tinha começado e já dava sinais de enfrentamento. Membros do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplenagem no Estado de Pernambuco (Sintepav) bradavam, em cima de um trio elétrico, inúmeras frases de efeito. "Patrão, sua obrinha vai ficar parada", "recado para os pelegos: preparem o lombo", e "a gente vai comandar Suape". Com um número expressivo de operários já dentro do canteiro, o que esvaziava a assembleia, o presidente do Sintepav-PE, Aldo Amaral, convocou os trabalhadores que estavam do lado de fora a entrarem pacificamente na obra para arregimentar companheiros.
O grupo não chegou a 100 metros da portaria da refinaria. Foi recebido com balas de borracha e bombas de efeito moral do BPChoque. Em meio à debandada, operários retribuíram os ataques lançando pedras e paus. A reação policial inflou o sindicato. Deu-lhe o discurso que procurava. Rapidamente a assembleia aprovou a manutenção da greve por tempo indeterminado.
O próximo encontro entre Sintepav e operários será na próxima segunda-feira. Até lá, Rnest e PQS permanecem paradas. Na portaria principal da refinaria, o presidente do empreendimento, Marcelino Guedes, observava, atrás do pelotão, todo o movimento. "A Petrobras determina manter sempre aberto o diálogo. É um valor da empresa e, por isso, não podemos permitir uma invasão da refinaria", disse, justificando a ação do BPChoque. Sobre a argumentação do Sintepav de que desejava um movimento pacífico, Guedes retrucou: "Temos que impedir a entrada desordenada."
Considerando a paralisação atual e as anteriores, já são 80 dias sem atividades na principal obra de Pernambuco (veja arte). Isso do final do ano passado até agora.
Selada a greve, o Sintepav organizou uma passeata até a PQS. No percurso, sindicalistas dançavam reggae e "suingueira" ao lado do trio. Enquanto isso um grande engarrafamento começava a se formar no entorno do principal complexo industrial do Estado.

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