sexta-feira, 29 de junho de 2012

Café Lafayette

Por ,Tadeu Alencar, em JC-Opinião, 29/06/2012

Estive recentemente no templo da cultura, a Academia Pernambucana de Letras. Ao cruzar o portão tomou-me a visão o palacete do Barão Rodrigues Mendes e sua imponência sóbria, que é marca de Pernambuco. Lembrou-me o Santa Izabel, feito pelas mesmas mãos mágicas de Vauthier, prova de que o sonho atrai o milagre.
Sentei ao lado da presidente Fátima Quintas e me pus a espiar o rito dos imortais. Lido o expediente pelo secretário Rostand Paraíso, comunicações e avisos proclamados, quedei-me a respirar o ar dos relógios parados, única forma de enganar o tempo e fazer parecer que ele não existe, que é ilusão, uma miragem. Olhei em torno, refletindo nos detalhes das cadeiras, as rusgas da mesa, os vincos da parede, o busto do anfitrião, Carneiro Vilela, até ouvir meu nome e voltar a mim, absorto, flagrado contemplativo, sem atinar como falar sobre gestão pública numa casa que respira poesia e pede unicamente poesia. Pareceu-me ver os fantasmas de Frei Caneca, do Vigário Barreto e do Padre Carapuceiro, a dizer: perdoa, Pai, que não sabem o que fazem, quando conspurcam os versos com equações. Mas era tarde para recuos.

Digo que a administração pública no Brasil incorporou todos os vícios que estiveram na nossa formação socioeconômica. O Estado brasileiro, exclusivista, patrimonialista, celeiro de privilégios, gerou governos ocupados unicamente em servir-se do poder para a satisfação dos particulares interesses.
Governos sem legitimação popular e até mesmo eleitos democraticamente terminavam por se distanciar da sociedade, gerindo a coisa pública como se privada fosse.

Com o enraizamento da democracia os governos foram obrigados a uma liturgia democrática a que não estavam acostumados: eleições livres, Judiciário independente, fortalecimento dos órgãos de controle, responsabilidade fiscal, transparência, concurso público, imprensa livre, meritocracia e controle social.
Dado o atavismo desses vícios coloniais, tais mudanças não são entronizadas de forma rápida. Mas vimos assistindo à experiência de governos que surpreendem, pois governam com instrumentos de gestão, cujos resultados são animadores.
Sim, porque não basta ter as contas públicas em ordem, é preciso que o equilíbrio sirva ao propósito de enfrentar os tantos desafios de uma sociedade de privilégios, marcada por uma desigualdade que já não tem espaço, nem razão de ser, numa democracia.

Em Pernambuco estamos vivendo uma experiência inovadora, com resultados extraordinários em todas as áreas, fruto de um modelo de gestão, legitimado pela ausculta popular e pela liderança direta do governador do Estado, como principal avalista desse processo de mudanças, todo ele marcado pelo signo da inclusão. Adverte, sábio, o governador: "As ideias é que juntam os homens".

Há transformações relevantes na segurança pública, na saúde, na educação e qualificação profissional, na atração de investimentos, na infraestrutura, na oferta de água e saneamento e na geração de emprego. Pernambuco está diferente e é o Estado que mais cresce no Brasil.

Ao concluir, pedindo vênia, atrevi-me a declamar Recife, Cidade Lendária de Capiba e versos de Carlos Pena Filho "Recife, cruel cidade, águia sangrenta, leão...". Cheguei a sentir o hálito da imortalidade: Natividade Saldanha, Olegário Mariano, Austro Costa, Evaldo Coutinho, Gilberto Freyre, Amaro Quintas... De repente o teto se abre e entre fogos de artifício um velho com ar de criança exclama com entusiasmo: "Eu vi o mundo e ele começava no Recife".

Tadeu Alencar é procurador da Fazenda Nacional e ex-secretário da Casa Civil

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