domingo, 12 de agosto de 2012

Com medo, operários (da Refinaria) voltam para casa

Empresas flexibilizam punições aos grevistas para estimular retorno ao trabalho. Sintepav rejeitou proposta e ameaçou parar outras obras
Adriana Guarda - adrianaguarda@jc.com.br, JC-Economia,11/08/2012

Reunidas durante toda a tarde de ontem, no Complexo de Suape, as 20 empresas responsáveis pelas obras da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e da PetroquímicaSuape (PQS) decidiram "flexibilizar" as punições aos grevistas, na tentativa de estimular a volta ao trabalho na próxima segunda-feira. A proposta apresentada pelo Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon) é de suspender o desconto da cesta básica, manter o pagamento da Participação sobre os Lucros e Resultados (PLR) e descontar os dias parados na rescisão de contrato. O Sindicato dos trabalhadores (Sintepav) repudia a proposta e ameaça paralisar outras obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), na próxima segunda, se os dias paralisados não forem abonados. Ontem, foi mais um dia improdutivo nas duas obras. Os operários chegaram a entrar nos canteiros, mas foram dispensados após ameaças, tumulto e correria (leia matéria ao lado).
"Por entender que os atos de violência não são um movimento da maioria, as empresas decidiram flexibilizar as punições. Mas a proposta está condicionada a volta ao trabalho na próxima segunda-feira com produtividade, porque não adianta ir para o canteiro e não fazer nada, numa espécie de greve branca", diz a advogada do Sinicon, Margareth Rubem. Ainda ontem, o sindicato e as empresas começaram a distribuir comunicados aos trabalhadores nos alojamentos.
A advogada do Sinicon Nacional, Renilda Cavalcanti, reforça a posição da entidade de que só é possível estabelecer qualquer tipo de conversa atrelada com a volta ao trabalho. "Não vamos negociar mais nada em greve, sobretudo num clima de conflito. A convenção já foi firmada e a Justiça determinou a abusividade da greve", defende. Ela observa que todas as instituições têm às suas limitações, inclusive a Justiça. "Fizemos tudo o que foi possível, inclusive pedir reforço policial ao governo do Estado para garantir a integridade física dos trabalhadores. Mas a única forma de acabar com tudo isso é resolver a questão efetiva da representação sindical, que ontem não compareceu ao local", destaca.
Representantes do Sintepav e dez comissões de trabalhadores das empresas que integram as duas obras paralisadas também tiveram várias rodas de reuniões durante todo o dia de ontem, na sede da Força Sindical, no Recife. O sindicato não ficou satisfeito com a proposta patronal. “Não aceitamos o desconto dos dias parados. Conversamos com a base e eles não ficaram satisfeitos, porque o trabalhador não deve pagar pelos atos que terroristas praticaram no canteiro. Vamos esperar que as empresas revejam essa proposta durante este fim de semana. Se isso não acontecer vamos mobilizar os trabalhadores, fazendo piquete na frente das obras e paralisando outras do PAC”, adianta o presidente do Sintepav, Aldo Amaral. O sindicalista diz que o secretário Executivo de Articulação Social, Eric Souza, também participou das conversas com os trabalhadores e ficou preocupado com a possível paralisação de outras obras.
A diretoria do Sintepav diz que chegou à entidade a informação de que as empresas vão promover um grande número de demissões e que a proposta de descontar os dias parados na rescisão estaria apoiada nessa estratégia. Do lado das empresas a informação é que a disputa por mão de obra não permitiria um grande número de desligamentos.
A greve nas duas obras foi iniciada no dia 1º deste mês. Na terça-feira o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) julgou a ilegalidade do movimento e determinou a imediata volta ao trabalho no dia seguinte e o desconto dos dias parados. Na quarta-feira, o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada (Sintepav) fez assembleia no canteiro da Rnest para anunciar a decisão judicial. Os sindicalistas foram apedrejados por um grupo de trabalhadores e a polícia respondeu com balas de borracha e bombas de efeito moral. Os manifestantes queimaram sete ônibus, depredaram outros e o canteiro se transformou em palco de guerra.

Dia de ameaças nos canteiros das obras
Ameaças de agressões, telefonemas anônimos e boatos de novos incêndios de ônibus fizeram com que as empresas voltassem a dispensar os trabalhadores das obras da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e da PetroquímicaSuape (PQS) no dia de ontem. A regularização do transporte permitiu que os funcionários conseguissem chegar aos canteiros, mas o clima de tensão fez fracassar a terceira tentativa de produtividade da obra, depois que a Justiça decretou a ilegalidade da greve, na última terça-feira. Operários contam que colegas do Consórcio Conest iniciaram o tumulto, usando barras de ferro e pedaços de pau para coagir o pessoal a não trabalhar. A segurança patrimonial da obra da Rnest também flagrou funcionários escondendo garrafas contendo tíner, que poderiam ser utilizadas para provocar novos incêndios.
“Muitos funcionários comunicaram às empresas que receberam ameaças por telefone, dizendo que quem trabalhasse seria apedrejado na saída. Isso provocou um clima de desespero”, conta a advogada do Sinicon (sindicato patronal), Margareth Rubem. Ela diz que as empresas se comunicaram entre si e decidiram dispensar o pessoal sem prejuízo desses dias de tumulto. “As empresas relataram as mesmas ameaças. Por isso resolvemos preservar a integridade física das pessoas e evitar mais depredações”, completa. Assustados, os funcionários saíram correndo da obra e houve tumulto por conta da falta de ônibus no pátio para transportar todos de uma só vez. Isso porque os coletivos deixam os operários e depois saem do local e voltam no final do expediente.
Ontem, o Sintepav solicitou ao chefe da Polícia Civil, delegado Osvaldo Morais, a designação de um delegado especial para apurar os crimes ocorridos nos últimos dias na refinaria, em função da evidência da participação de elementos estranhos aos trabalhadores nos tumultos e atos de vandalismo em Suape.

Empresas de ônibus reclamam de prejuízo
O Sindicato das Empresas em Fretamento de Pernambuco (Sindfrete) vai voltar a apelar aos motoristas da categoria que compareçam às garagens das empresas para garantir o transporte dos trabalhadores da refinaria e da petroquímica, na próxima segunda-feira. O tumulto de ontem no canteiro de obras reascendeu o clima de insegurança e o sindicato que representa os trabalhadores (Sintranstur) promete voltar a mobilizar a categoria para não conduzir os ônibus até Suape. Na última quarta-feira, apenas 30% dos 1.500 coletivos circulou porque os profissionais não trabalharam. "Estamos diante de um impasse, porque o sindicato das empresas orienta os motoristas a rodar, enquanto a entidade dos trabalhadores faz o contrário. Recebemos das nossas contratadas a informação de que o dia de hoje (ontem) seria de tranquilidade, mas não foi no que aconteceu", diz o advogado do Sindfrete, Emmanuel Correia. Ele lembra que as empresas de fretamento precisam cumprir os contratos com as empreiteiras, mas que sofrem pressão dos motoristas, vítimas de ameaças.
O Sindfrete contabiliza um prejuízo de R$ 2 milhões com a perda total dos sete ônibus incendiados no conflito da última quarta-feira. Como a Petrobras não aceita frota com mais de 5 anos de uso, os ônibus depredados são todos novos. Alguns sequer foram pagos e não vão gerar faturamento. Além dos coletivos incendiados, outros 200 foram depredados e as empresas ainda estão fazendo a conta do prejuízo.
A estratégia do Sindfrete e das empresas será ligar e fazer visitas aos motoristas para convencê-los a voltar ao trabalho. "Com a notícia de que o Sinicon vai flexibilizar as punições aos grevistas, o clima poderá ser mais tranquilo", acredita Correia.
Do lado do Sintranstur, a estratégia será convencer os motoristas a não se expor a novos riscos. A categoria argumenta que cabe às empresas de fretamento garantir a segurança dos empregados. Mas, diante do cenário de conflito, nem a própria polícia está conseguindo conter a fúria dos operários.

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