quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Diferença cultural desune trabalhador (da Refinaria)

Do JC, 09/08/2012

"Todo mundo junto e misturado". Cunhado pelos operários, o bordão resume o que acontece no dia a dia de um canteiro de obras como o da Rnest. Quarenta e quatro mil trabalhadores fluminenses, baianos, gaúchos, paranaenses e pernambucanos – e de diversos outros Estados brasileiros – dividem ferramentas, mas não reivindicações. Nenhuma obra no Estado reúne tanta gente diferente em um só lugar. Nenhum local é tão explosivo quanto lá.
Vindos de obras da Petrobras na Bahia e no Rio de Janeiro, uma parcela expressiva dos operários da Rnest tem vasta experiência sindical. Diferente de grande parte dos operários contratados dentro do Estado, originários do trabalho no campo. Os primeiros dividem casas alugadas e alojamentos. Convivem dia e noite, comungam da saudade da família e se unem para brigar por benefícios iguais aos de seus colegas de profissão empregados fora de Pernambuco, como pagamento de auxílio insalubridade, direito obtido no canteiro do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), por exemplo.
Já os operários locais ressentem-se de não terem folga a cada 90 dias (concedida apenas para quem mora fora, com o objetivo de permitir que ele visite seus parentes). São ainda definidos pela hostil expressão de "ex-cortador de cana". Raramente são mencionados como "ferramentas", alcunha utilizada para identificar quem foi forjado desde cedo na labuta diária da construção civil.
Todo mundo junto e misturado, convivendo na marra, discordando em horas cruciais como a atual. Na semana passada, quando a paralisação forçada explodiu, os sotaques pernambucanos dominavam as críticas: "isso não é movimento, é bagunça" e "sou pai de família e quero trabalhar". No outro lado, "o sindicato é vendido" e "e ex-cortador de cana não sabe negociar" eram repetidas à exaustão por vozes claramente de fora do Estado.
As diferenças culturais, por si só problemáticas, encontraram no contracheque o estopim para o conflito. Profissionais de mesma função, mas de empresas diferentes – são mais de 20 contratos de obras na Rnest – não recebiam os mesmos salários. Um mecânico de um consórcio voltava para casa no final do mês com R$ 1.700 e outro também mecânico com R$ 2.300. A média estimada é de 30% de discrepâncias para vários postos. Foi a deixa para a confusão.
O pavio sempre acende primeiro no Consórcio Conest (formado por Odebrecht e OAS). Foi lá o epicentro do conflito de 2011, quando um operário baiano de 23 anos levou um tiro no rosto, disparado por um segurança do Sintepav-PE, deixando-o com a mandíbula estilhaçada. E, segundo informações extraoficiais, foram os seus funcionários os que, mais uma vez, lideraram a revolta contra o sindicato nas últimas semanas. Isso não ocorre à toa. Lá estão cerca de 4 mil operários, encarregados de erguer o “coração” de R$ 4,5 bilhões da Rnest – duas unidades de hidrotratamento e duas de destilação atmosférica.

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