sábado, 4 de agosto de 2012

Mais confusão na Refinaria Abreu e Lima (do JC-Economia, 02/08/2012)

NEGOCIAÇÃO SALARIAL - Insatisfeitos com um acordo entre sindicato e empresas, trabalhadores pararam as atividades ontem
Atrasada, com orçamento estourado e classificada pela presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, como uma "istória para ser aprendida e não repetida", a Refinaria Abreu e Lima (Rnest) enfrentou ontem mais um percalço no seu longo processo de virar realidade. Os cerca de 44 mil trabalhadores que atuam na construção do empreendimento voltaram para casa mais cedo e a construção parou. Segundo as informações, por volta das 8h30, um grupo de operários do Consórcio Conest (formado pelas empresas Odebrecht Engenharia e OAS) iniciou uma desmobilização em massa. O motivo foi a insatisfação com a convenção coletiva assinada na terça-feira passada. As denúncias são de que ela foi fechada sem a anuência da maioria, em uma manobra irregular do sindicato trabalhista numa assembleia esvaziada (ver matéria ao lado).O movimento ganhou força rapidamente e tomou conta de todo o canteiro de obras da Rnest. Às 11h30, ninguém mais estava trabalhando, e sim, tomando o rumo de casa de ônibus ou a pé. A polícia, incluindo o Batalhão de Choque, acompanhou tudo. Não houve confronto. A parada de ontem atrapalha ainda mais o prazo de conclusão da obra, que foi adiado novamente em junho deste ano. Se cumprisse o cronograma inicial, de 2005, a Rnest estaria 94,5% concluída. O status oficial, entretanto, é de 57,5%. Hoje, o empreendimento está no seu pico de construção e a primeira etapa projetada para iniciar a operação em novembro de 2014.
As greves formam um dos maiores problemas da Petrobras para tirar a Rnest do papel, juntamente com relicitação de contratos. Sem contar que de 2009 a 2011 foram levantadas suspeitas de irregularidades pelo Tribunal de Contas da União (TCU), e o imbróglio ainda não resolvido da sociedade com a estatal venezuelana PDVSA.
Os trabalhadores se revoltaram contra o próprio sindicato da categoria, o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplenagem no Estado de Pernambuco (Sintepav-PE). Ontem, data-base do setor, foi apresentado um acordo assinado que previa aumento de 10,5% nos salários. Mas, a equiparação dos rendimentos – há queixa de que trabalhadores de mesma função, mas de consórcios de empresas diferentes, têm diferenças de salários – só ocorreria em 60 dias, o que é rejeitado pela maioria.
O problema poderá provocar pressão nos preços dos contratos, já que uma equiparação generalizada iria provocar desequilíbrio nas contas das empresas e cobranças de reajuste à Petrobras. A Rnest foi inicialmente orçada em cerca de US$ 2 bilhões. Já no Plano de Negócios 2012-2016 da estatal brasileira, o custo total do empreendimento foi estimado em US$ 20,1 bilhões.
Em nota oficial, o Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon), que representa as construtoras contratadas para erguerem a Rnest, descreveu a paralisação de ontem com palavras como "atos de vandalismo" e "ameaça física". Apesar de garantirem que não houve em nenhum momento violência explícita, operários de diversas empresas informaram que, munidos de pedaços de pau e canos de ferro, os seus companheiros insurgentes forçavam a adesão à paralisação. "As empresas representadas pelo Sinicon analisam a possibilidade de demissão e outras medidas legais, visto que as negociações já foram encerradas e a convenção já foi assinada junto ao sindicato da categoria", disse a entidade patronal na nota. Já a Petrobras limitou-se a informar "que vai avaliar possíveis impactos após a retomada dos trabalhos e que implementará medidas mitigadoras, se necessário".

Briga envolve sindicato
Em menos de um ano e meio, o Sintepav-PE entrou, mais uma vez, em atrito com a classe que representa, mais especificamente os trabalhadores das obras da Rnest. Em março de 2011, a desavença chegou a ponto de um operário do Consórcio Conest ter sido baleado no rosto, em um conflito ocorrido em uma das portarias do empreendimento. Investigação policial na época atestou que o disparo saiu da arma de um segurança do Sintepav-PE. Afora o inquérito policial, a confusão gerou uma paralisação de 15 dias na obra do “coração” da Rnest- duas Unidades de Hidrotratamento (UHDT) e duas de Destilação Atmosférica (UDA), orçadas em R$ 4,5 bilhões.
Agora, as acusações, feitas por operários de empresas diferentes que trabalham no canteiro da Rnest, são de que a convenção coletiva foi aprovada em uma assembleia na última sexta-feira sem a maioria dos trabalhadores. Tanto que, quando o documento foi apresentado oficialmente ontem à categoria, deu-se início à revolta. Em nota, o Sintepav-PE garantiu que a assembleia aconteceu com a maioria dos operários. “Lembrando que neste momento é preciso ter responsabilidade para que os distúrbios e prejuízos provocados aos trabalhadores por elementos estranhos à categoria – como verificou-se em março de 2011 – não voltem a acontecer”, acrescentou o texto.
A conquista de um reajuste de 10,5% chegou a ser alardeada pela entidade como “histórica”. Isso porque, durante as negociações, as empresas estavam dispostas a conceder um aumento de apenas 5%. Entretanto, o ponto de discórdia é a equiparação dos salários. Como cada parte da Rnest é construída por um consórcio de empresas diferentes, alguns trabalhadores que exercem a mesma função acabam vendo um colega com o contracheque bem mais gordo. Um exemplo apresentado pelo próprio Sintepav-PE é o dos mecânicos. Uns recebem R$ 1.600 enquanto outros chegam a ter vencimentos de R$ 2.200.
O prazo dado para equalização foi de 60 dias na convenção, mas os operários acham que ele é muito longo. Acusam ainda algumas empresas de já estarem desmobilizando seus quadros, o que faria com que a medida fosse inócua.

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