Suape está no centro de uma disputa de poder que envolve Força Sindical, Conlutas e PSTU
Adriana Guarda e Felipe Lima - economia@jc.com.br, 10/08/2012Quarenta e quatro mil trabalhadores e o maior empreendimento em construção no Estado estão no centro de uma disputa política. Líderes da Força Sindical, CSP-Conlutas e do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) provaram também, com a troca de duras acusações ontem, que o Complexo de Suape integra a lista de áreas de conflito sindical no Brasil. Na lista de farpas tem de tudo: uso da greve para promoção de candidatos a prefeito, atos "terroristas" premeditados, falta de legitimidade e abandono dos operários. Enquanto isso, a Refinaria Abreu e Lima (Rnest) acordou esvaziada, após o caos que resultou em sete ônibus incendiados, diversos feridos, dois operários autuados em flagrante (hoje dormindo nas celas do Centro de Triagem, o Cotel, em, ironicamente, Abreu e Lima) e a categoria-símbolo do desenvolvimento econômico de Pernambuco com uma fratura exposta.
Após saírem de uma reunião de portas fechadas, no final da manhã, com o presidente do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 6ª Região, André Genn, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada em Pernambuco (Sintepav-PE), Aldo Amaral, e o presidente nacional em exercício da Força Sindical, Miguel Torres, dispararam a primeira leva de críticas à CSP-Conlutas e PSTU. "O acordo feito em Suape é referência no Brasil. O que está acontecendo é ação de um grupo político violento, que usa táticas de guerrilha para intimidar. O trabalhador não leva galão de gasolina para a assembleia, não vai encapuzado. Nem na ditadura isso acontecia", atacou Torres.
Amaral reforçou os ataques ao denunciar que o confronto da última quarta-feira foi premeditado. "Trabalhadores chegaram com as bolsas cheias de pedras. Eles deveriam fazer uma oposição limpa e clara e não querer ganhar o sindicato à força. Ainda mais com um candidato a prefeito do Recife (em alusão a Jair Pedro, do PSTU). Se conseguíssemos até ajuda de custo de R$ 600 eles continuariam fazendo isso. Porque eles são terroristas", finalizou.
Membro da direção estadual do PSTU, Leôncio Tenório rebateu em mesmo tom. "O fato é que o Sintepav-PE não tem mais legitimidade junto aos operários da Rnest. Perdeu em três assembleias e, em uma atitude arrogante, assinou um acordo sem aprovação da maioria. Quanto ao uso político para campanha é completamente ridículo, temos candidatos em todo o País", disse. O PSTU ainda emitiu uma longa nota oficial lembrando a ligação do Sintepav-PE com o Partido Democrático Trabalhista (PDT) e apontando que "eles perderam a confiança da categoria por causa de seu alinhamento patronal e com o próprio governo Eduardo Campos (PSB)".
Atnágoras Lopes, representante da executiva nacional da CSP-Conlutas, evitou jogar mais lenha na fogueira. Lembrou que o problema hoje vivenciado na Rnest começou no ano passado e negou que a entidade tenha organização dentro da obra. Reforçou que a central está dando "apoio incondicional à resistência dos trabalhadores". "O que queremos é resolver o problema. Lamentamos que a Força Sindical invista em subterfúgios para desviar a discussão do que interessa, que é o trabalhador", discursou.
O cenário é grave e o governador em exercício, João Lyra Neto, reuniu-se ontem à tarde com Amaral e Torres. Para o vice-governador, foi solicitado reforço policial para garantir a segurança dos trabalhadores que desejam retornar hoje aos seus postos. O secretário de Defesa Social, Wilson Damázio, confirmou o aumento no efetivo e assinalou que fazer piquete é um ato criminoso e "compete à polícia reprimir".
Motoristas de ônibus temem agressões
A
obra da Refinaria Abreu e Lima, no Complexo de Suape, ficou
praticamente esvaziada na manhã de ontem. A maior parte dos 44 mil
operários não conseguiu voltar ao trabalho. E dessa vez não foi por
causa dos conflitos. Apenas 30% dos ônibus fretados pelas empreiteiras
fizeram o transporte dos funcionários para o empreendimento. Temendo
mais um dia de violência, o Sindicato dos Trabalhadores de Transportes
Rodoviário, Fretamento e Turismo (Sintranstur) orientou seus
profissionais a não dirigir os ônibus até se seja restabelecida a ordem
no canteiro de obras. No conflito da quarta-feira, sete ônibus foram
incendiados, outros depredados e alguns motoristas agredidos. Ontem, do
cenário de guerra restou apenas as carcaças dos ônibus queimados. O
presidente do Sindicato das Empresas em Fretamento de Pernambuco
(Sindfrete), Alberto José dos Santos, diz que durante todo o dia de
ontem as 12 empresas filiadas ao sindicato realizam força-tarefa na
tentativa de convocar os motoristas a voltarem ao trabalho. "Entendemos
que existe um clima de medo, mas temos contratos a cumprir e precisamos
fazer o transporte dos funcionários até as obras". Ontem, cada uma das empresas filiadas ao Sinfrete tentou entrar em contato com os motoristas por telefone e e-mail. "Não dormi esta noite e estamos fazendo um grande esforço para colocar o maior número de ônibus para circular amanhã, mas não sabemos qual será esse quantitativo", observa Santos. Atualmente, uma média de 1.500 ônibus fretados faz o transporte dos operários de Suape.
O presidente do Sintranstur, Paulo do Espírito Santo, reforça a importância de garantir a integridade física dos motoristas. No conflito um deles chegou a apanhar de um operário.
Após o conflito, sol e praia
Canteiro
de obras esvaziado e alojamentos cheios de operários. Os funcionários
das obras da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e da PetroquímicaSuape
(PQS) chegaram a esperar pelos ônibus para chegar ao trabalho, mas
ficaram frustrados. Em Gaibu (Cabo de Santo Agostinho), onde se
concentram várias repúblicas de trabalhadores, muitos decidiram
aproveitar mais um dia de folga na praia. "Nosso encarregado
ligou dizendo que era melhor esperar para ver como foi o dia hoje
(ontem) antes de voltar. E de qualquer forma não teríamos como chegar,
porque o ônibus da nossa rota não passou", contou um operário da Rnest
que, junto com outros colegas da obra, comia camarão e bebia cerveja e
vodca Bolvana, na beira-mar de Gaibu.
O armador de estrutura, José Antônio da Silva, conta que veio de São Paulo para Pernambuco há dois meses para trabalhar na Dimoplac, que presta serviço ao Consórcio Engevix na Rnest. "Todos esses problemas na refinaria estão atrasando o andamento da obra. Vim para prestar 3 meses de serviço e estou aqui há 60 dias sem concluir nem 5% do trabalho. Não acho bom ficar todos esses dias no tédio. Vim aqui pra trabalhar", afirma. O operário apoia as reivindicações trabalhistas, mas desaprova os atos de violência. "A situação aqui está se assemelhando a de outras regiões do Brasil onde ocorrem grandes obras", diz.
Os funcionários que conseguiram chegar à Rnest contam que não houve trabalho efetivo. Com o número reduzido de trabalhadores, muitos consórcios mandaram os operários de volta para casa. Na PetroquímicaSuape, onde o número de operários é menor (7 mil), 90% dos ônibus chegaram ao canteiro, mas retornaram logo após o almoço. A assessoria de comunicação da Odebrecht - empreiteira responsável pela execução da obra - disse que os operários argumentaram que os vizinhos da refinaria não trabalharam e que preferiam retornar por questões de segurança. A empresa acatou o pedido e pediu que os ônibus voltassem para fazer o transporte. A expectativa é que hoje seja mais um dia morno e que a regularização da volta ocorra na segunda-feira.
O armador de estrutura, José Antônio da Silva, conta que veio de São Paulo para Pernambuco há dois meses para trabalhar na Dimoplac, que presta serviço ao Consórcio Engevix na Rnest. "Todos esses problemas na refinaria estão atrasando o andamento da obra. Vim para prestar 3 meses de serviço e estou aqui há 60 dias sem concluir nem 5% do trabalho. Não acho bom ficar todos esses dias no tédio. Vim aqui pra trabalhar", afirma. O operário apoia as reivindicações trabalhistas, mas desaprova os atos de violência. "A situação aqui está se assemelhando a de outras regiões do Brasil onde ocorrem grandes obras", diz.
Os funcionários que conseguiram chegar à Rnest contam que não houve trabalho efetivo. Com o número reduzido de trabalhadores, muitos consórcios mandaram os operários de volta para casa. Na PetroquímicaSuape, onde o número de operários é menor (7 mil), 90% dos ônibus chegaram ao canteiro, mas retornaram logo após o almoço. A assessoria de comunicação da Odebrecht - empreiteira responsável pela execução da obra - disse que os operários argumentaram que os vizinhos da refinaria não trabalharam e que preferiam retornar por questões de segurança. A empresa acatou o pedido e pediu que os ônibus voltassem para fazer o transporte. A expectativa é que hoje seja mais um dia morno e que a regularização da volta ocorra na segunda-feira.
Efeito dominó paralisa outras obras
A
tensão da Rnest se alastrou por diversos canteiros de obras do Estado
ontem. Contagiou a PetroquímicaSuape (PQS), que chegou a contar com 70%
da força de trabalho de sete mil homens pela manhã, mas sucumbiu à
tarde depois que, ameaçados até por telefone, operários ensaiaram uma
confusão nos vestiários e forçaram a parada. Na Arena Pernambuco, em
São Lourenço da Mata, a convenção coletiva ainda não oficializada abriu
caminho para a insatisfação. Por fim, também intimidados, os
trabalhadores da Express Way, rodovia com pedágio que vai desafogar
trânsito até Suape, largaram as ferramentas. Responsável pela obras
do estádio que está sendo construído em São Lourenço da Mata para a
Copa do Mundo de 2014 e Copa das Confederações de 2013, a Odebrecht
informou que metade dos trabalhadores foi embora e metade retornou às
atividades ontem. Hoje é feriado na cidade, em homenagem ao padroeiro,
mas a empresa espera que a rotina seja restabelecida por completo. Quem
comparecer vai ganhar 100% de hora extra.
A Odebrecht alega que concedeu aumento de 10,5% desde o dia 1º de agosto e já paga salários iguais aos praticados em Suape. Porém, o Sinicon informou que a convenção coletiva, apesar de negociada, ainda não foi assinada. "Enquanto o salário estabelecido pela convenção é de R$ 991,85, um profissional da Arena recebe R$ 1.106,35, enfatizou a empresa.
A Odebrecht alega que concedeu aumento de 10,5% desde o dia 1º de agosto e já paga salários iguais aos praticados em Suape. Porém, o Sinicon informou que a convenção coletiva, apesar de negociada, ainda não foi assinada. "Enquanto o salário estabelecido pela convenção é de R$ 991,85, um profissional da Arena recebe R$ 1.106,35, enfatizou a empresa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário