quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Os que querem trabalhar... ... e os que curtem a greve (da Refinaria)

do JC-Economia, 15/08/2012

TRABALHO Greve ilegal em Suape expõe drama de operários que estavam quase contratados e hoje sofrem sem perspectiva - Felipe Lima - flima@jc.com.br
Parece estoque de peão. São seis, até oito operários, dividindo quartos pequenos, de, em média, 24 metros quadrados. Comungam um único banheiro por cômodo. Somente em um alojamento, na Praia de Gaibu, Cabo de Santo Agostinho, estão 115 trabalhadores. A maioria está pisando pela primeira vez em solo pernambucano. São do Pará, Bahia e Rio de Janeiro e vieram à pedido das construtoras responsáveis pelas obras da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e PetroquímicaSuape (PQS), paradas há 16 dias por causa de uma greve considerada ilegal pela Justiça. Alguns já obtiveram o chamado Atestado de Saúde Ocupacional (ASO), mas, mesmo assim, não tiveram carteira assinada ainda. Estão há um mês e meio esperando a oportunidade de vestirem oficialmente a farda e começarem a receber. Suas famílias, distantes, não viram R$ 1 sequer. Poderiam estar hoje atuando nos canteiros, porém, no meio do caminho, surgiu o conflito que atrapalhou a chance de serem, enfim, chamados. Passam os dias dormindo, perambulando pela praia e fazendo as três refeições diárias a que têm direito.
Normalmente, todo o processo de seleção e contratação em obras da Petrobras ocorre entre 20 e 30 dias. São treinamentos e exames de admissão rigorosos que os trabalhadores precisam passar. A situação desses operários é, portanto, atípica, agravada pela paralisação. Como a greve segue com o futuro incerto (ver matéria abaixo), o cenário beira o insustentável. Todos se queixam de que suas famílias esperam todo esse tempo para que enviem alguma ajuda. Porém, sem emprego formal e engessados até mesmo para buscarem um "bico", amargam o peso de saberem que esposa e filhos estão passando por dificuldades.
O pior é que, na convenção coletiva assinada no último dia 27 de julho e rejeitada pela categoria dias depois, há um ponto crucial para solucionar os seus problemas: após a obtenção da ASO, a admissão passa a ser feita na hora. Mais uma vez, a greve impediu que esse ponto fosse colocado em prática. Tornaram-se vítimas de uma briga que não tiveram sequer o direito de escolher um lado. Desconhecem os detalhes do movimento. Só observam diariamente os possíveis futuros companheiros de obra saírem fardados, entrarem nos ônibus e retornarem poucas horas depois.
No primeiro andar do alojamento, três bicamas e uma TV por quarto e inúmeras histórias. Relatos de pessoas que largaram tudo para embolsar salários médios de R$ 1,5 mil no Complexo de Suape. Começaram cheias esperança e experimentam desfechos cada vez mais tristes. Armador de andaimes baiano, de 26 anos, não parava de contar como foi deixado pela esposa por telefone na noite da última segunda-feira. "Ela não acredita em mim. Disse que eu estava aqui gastando dinheiro com prostitutas em vez de mandar alguma coisa para casa. Não acredita que estou, na verdade, desempregado. Foram nove anos de casamento e um filho", contou, repetidas vezes.
O Consórcio Conest (formado por Odebrecht e OAS e dono do maior contrato da Rnest, sendo, portanto, o que mais emprega) confirmou, através de uma nota oficial, que "o pessoal citado está em processo admissional", mas que "nenhum deles assinou o ASO, pois tal procedimento somente é feito no ato da assinatura do contrato de trabalho. O que se assinou previamente foram documentos médicos que compõem o resultado final do Atestado Médico Admissional". Informou também que "disponibilizou aos candidatos, passagem de retorno às suas residências, para que fossem chamados novamente após o final da paralisação".
Por fim, reconheceu: "a paralisação refletiu de forma muita negativa, pois o Conest não pode manter o serviço de recrutamento e seleção funcionando, devido às ameaças feitas por alguns integrantes e, visando resguardar a integridade física de nossos empregados, fechamos as portas de nosso escritório no Cabo. Os processos que estavam em andamento tiveram que ser paralisados e aguardamos o restabelecimento das atividades para dar continuidade aos mesmos".

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